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Open-edi: Comércio Eletrônico para Todos
André Valle - SIMPRO-BRASIL

A introdução do EDI (Eletronic Data Interchange) pode trazer enormes benefícios para a execução de procedimentos mercantis entre organizações, sendo que o mais evidente é a redução do tempo necessário para o processamento das transações comerciais. O intercâmbio de documentos eletrônicos elimina atrasos causados pela troca de documentos em papel, diminui consideravelmente a incidência de erros e oferece oportunidades para a redução do tempo de processamento de documentos dentro das empresas. Utilizando o EDI, dispensa-se a entrada ou saída manual dos dados, já que a forma estruturada das mensagens permite o processamento eletrônico por sistemas de informática. Desta forma, pode-se substituir inúmeros documentos em papel por equivalentes eletrônicos, principalmente com o desenvolvimento de padrões de mensagens eletrônicas para quase todos os setores da economia.
Com todas estas vantagens, era de se esperar uma maior difusão do EDI, fato que acontece timidamente e atinge de forma maciça somente grandes empresas. E nestas, o processo de implementação do EDI é sempre realizado com parcerias de longo prazo e após um longo processo de negociação para a definição dos dados trocados entre os parceiros.
Uma das razões para a complexidade deste processo de negociação é o fato dos parceiros necessitarem conhecer as práticas comerciais um do outro antes que possam trocar seus dados eletronicamente. O processo de negociação de procedimentos mercantis constitui o chamado Acordo de Intercâmbio, que é uma espécie de contrato técnico no qual os parceiros comerciais estipulam uma série de regras para a troca eletrônica de documentos, entre elas as mensagens que serão trocadas e a ordem na qual estas mensagens serão inseridas no intercâmbio. Em outras palavras, o cenário utilizado para as suas transações comerciais.
Um Acordo de Intercâmbio faz parte de um onerosa processo de negociação, no qual os parceiros, cada qual com seu procedimento interno, tentam adequar as suas metodologias. Mesmo quando uma empresa consegue estabelecer com sucesso um acordo com um parceiro, tem que reiniciar o processo caso queira fazer o mesmo com novos parceiros, levando a novos acordos de intercâmbio. E estes, por sua vez, podem levar a existência de diversas plataformas de EDI, desencorajando a disseminação do processo, já que implementações envolvendo o gerenciamento de um grande número de parceiros e seus respectivos acordos não são produtivas. Desta forma, a maior parte das implementações EDI tem tido sucesso somente em:
- parcerias de longo prazo;
- com um número limitado de parceiros;
Além disso, embora mensagens EDI possam ser estruturadas de acordo com normas internacionais como o UN/EDIFACT, ainda não existem normas para a semântica e o contexto destas mensagens, como cenários de negócios que descrevem os procedimentos utilizados pelas diversas partes em uma transação comercial. Por exemplo, o tipo de resposta a um pedido de compra pode ser diferente de empresa para empresa; uma empresa pode responder a este pedido com uma confirmação, enquanto que outra pode responder com uma fatura comercial.
Um comitê internacional da ISO (ISO/IEC JTC1/SC30) vem trabalhando há três anos em uma iniciativa chamada de Open-edi, que se propõe a criar uma infra-estrutura universal de EDI entre diversos parceiros autônomos, através de padrões públicos e universais, com interoperabilidade independente de setor econômico, sistemas de informação e tipos de dados, e capaz de transações múltiplas e simultâneas, com diversos parceiros. O objetivo principal do Open-edi é acabar com as barreiras para o estabelecimento de links EDI entre os parceiros de negócios através da eliminação do Acordo de Intercâmbio. Isso é feito através da elaboração de cenários de negócios e serviços de apoio padronizados, que estarão disponíveis a todas as partes envolvidas em uma transação de negócios. Estes cenários podem ser projetados para situações específicas, mas também podem ser utilizados de uma forma genérica que pode ser customizada pelas partes envolvidas na transação comercial. Estes cenários serão armazenados em um repositório, mantido por uma entidade internacional de normalização.
Desde que um cenário de negócios é acordado, e as implementações aderem aos padrões de Open-edi, não há a necessidade de acordo prévio entre os parceiros comerciais, além da decisão de enquadrar a transação Open-edi de acordo com o cenário. Pelo fato de ser uma abordagem genérica, o Open-edi permitirá às organizações estabelecer acordos de curto prazo, rápido e eficientemente. Adicionalmente, estes cenários de negócios e serviços de suporte estarão disponíveis a todos tipos de organizações, que poderão prover os meios necessários para a implementação do EDI aberto por todos os setores da indústria.
O campo de aplicação do Open-edi é o processamento eletrônico de transações de negócios entre diversas organizações autônomas dentro e entre setores. Incluirá transações de negócios que envolvem diversos tipos de dados como texto, imagens, voz, etc, para a descrição dos produtos.

O Open-edi também proporcionará intercâmbio entre diversas organizações, através de interoperabilidade entre plataformas de EDI, VANs (Redes de Valor Agregado), provedores de rede e aplicações de usuário. Diálogos padronizados intercambiando unidades padronizadas de dados, disponíveis prontamente para o uso, abrirão o comércio eletrônico para uma participação de todas as empresa. Todas as unidades de dados serão registradas como informação pública. Regras gerais permitirão aos usuários a especificar formalmente as regras das empresas envolvidas no Open-edi e o seu comportamento esperado, bem como o de seus parceiros comerciais.

De forma a proporcionar padrões necessários para a interoperabilidade de organizações, através de sistemas de informação interconectados, foi desenvolvido o Modelo de Referência de Open-edi. Este modelo é independente de: 
- implementações de tecnologia;
- sistemas de informação;
- convenções ou legislações de negócios;
- organizações;
O Modelo de Referência do Open-edi identifica as normas necessárias para o Open-edi e proporciona uma referência para estas normas pela identificação dos conceitos utilizados para o desenvolvimento de padrões de Open-edi. Funciona como uma base para a coordenação do trabalho das diversas entidades envolvidas na padronização de EDI. Além disso, proporciona a infra-estrutura para esta coordenação e para a integração dos padrões existentes e emergentes para o desenvolvimento de futuros padrões para a interoperabilidade de organizações via EDI aberto. O modelo de referência posiciona os padrões de EDI existentes em perspectiva e proporciona a transição de implementações EDI existentes para implementações de Open-edi.
O modelo de referência utiliza duas concepções para descrever os aspectos relevantes de transações comerciais:
- a Visão Operacional de Negócios;
- a Visão Funcional de Serviços.
 

Figura 1 - O ambiente de Open-edi

A Visão Operacional de Negócios alcança os aspectos de:
a) semânticas de dados em transações comerciais e intercâmbio de dados associados;
b) regras para transações comerciais, incluindo convenções operacionais, acordos e obrigações mútuas que se aplicam às necessidades de negócios do Open-edi;
A Visão Funcional de Serviço alcança os serviços de suporte de acordo com as necessidades físicas do Open-edi. Ela se concentra nos seguintes aspectos de Tecnologia da Informação: capacidades de serviço, interfaces de serviço e protocolos, cujos serviços de suporte incluem: sintaxe, controle de reconciliação, resolução de nome/endereço, trilha de auditagem, mecanismos de segurança, tratamento de mensagens, transferência de arquivos, processamento de transações, gerenciamento de redes e de dados.
No âmbito da ISO, a norma internacional de Open-edi é identificada pela sigla ISO/IEC 14662, e está sendo aprovada por todos os países que integram aquela entidade, incluindo o Brasil. Esta norma foi trabalhada pelo comitê durante três anos, e o comitê alcançou seus objetivos ao tornar o modelo de referência disponível para votação.
O comitê SC 30 atualmente está atualmente traduzindo as necessidades comerciais em requerimentos para ferramentas padronizadas que facilitarão o processo de reengenharia do negócio, relacionado com o intercâmbio de informação. 
 

Extraído de: http://www.simpro.org.br/texto02.html