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Fronteiras do Comércio Eletrônico na Internet (edição 54)
Barreiras geográficas e econômicas podem ser grandes
inimigas do comércio eletrônico
se não forem bem administradas

Leonardo Silva Carissimi

O comércio eletrônico na Internet é uma maravilha mesmo. Estamos todos apenas esperando o momento em que vamos poder fazer tudo sentados no sofá, em casa, acessando a Internet através de um aparelho que ainda não sabemos se será mais parecido com uma TV ou com um computador mesmo. 

É isso tudo mesmo? Não! Vamos com calma.... Sempre ouvimos as pessoas falarem que "a Internet não tem fronteiras". De fato, não tem. Mas o comércio eletrônico tem barreiras (fronteiras) geográficas e econômicas, que nunca serão quebradas.

Vamos discutir, primeiro, as fron-teiras geográficas. Ora, estas são aquelas que você já viu em home pages de supermercados ou de pizzarias que vendem seus produtos através da Internet. Nestas home pages aparece, em letras miúdas e quase sem a devida importância, a expressão "região de cobertura limitada" ou "clique aqui para ver a região de cobertura deste serviço". Aí você se detém a observar a cidade de origem do site (o que também não é muito fácil às vezes) e descobre que aquela empresa fica em Manaus.

Levando ao extremo, uma pizzaria na Internet reduz seus custos operacionais e passa aos seus clientes a idéia de alta tecnologia, qualidade e inovação. Pode aumentar sua penetração na sua cidade com essa iniciativa. Mas não se beneficiará da vitrine mundial, que é a Internet. Independentemente da sua qualidade no atendimento, do seu preço e das mirabolantes tecnologias que colocar na sua home page para impressionar as pessoas. O importante nesse negócio é o tempo de entrega. Não adianta nada comprar uma pizza na China, por U$ 1,00 contando a taxa de entrega via DHL, se a pizza chegar em 48 horas. Fria.

Generalizando, todos os serviços de tele-entrega que estão sendo "mapeados" para a Internet são exemplos desse tipo de Comércio Eletrônico via Internet: lanches, flores, ranchos de supermercado. São produtos que nunca vencerão as barreiras das distâncias geográficas de forma satisfatória.

Uma livraria ou uma loja de CD são exemplos diferentes, que se deparam em fronteiras econômicas. Este tipo de produto, comoditizado, tem na Internet desafios diferentes pela frente. O tempo de entrega não é mais tão relevante. Assim, o sujeito pode - teoricamente - atingir o mercado mundial. Sua presença será global, mas... não será apenas mais uma home page no meio de tantas? Como fazer para que as pessoas vejam o seu site, o acessem e, principalmente, adquiram algum produto colocado à venda nele? Ser conhecido e, assim, garantir visibilidade a sua home page e, sobretudo, vender seus produtos na Internet requer mais investimento em publicidade do que em infra-estrutura tecnológica.

Supondo que você já é conhecido pelos internautas, vamos agora pensar na viabilidade econômica do seu negócio na Internet. Para que um negócio se torne viável é necessário um bom estudo. Nesse negócio de comodities como CDs e livros, conta muito mais a logística do varejista, sua eficiência em adquirir de seus fornecedores, passar para seus distribuidores, estes lhe entregarem o produto intacto, de acordo com o especificado e a um preço competitivo ao mercado mundial. Já lhe passou pela cabeça que seu concorrente está a um clique de mouse de você e que isso traz enormes diferenças comportamentais no seu cliente? Que é muito mais fácil para ele comparar preços e produtos, que ele não precisa sair caminhando pelo shopping lotado, de loja em loja, para pesquisar preços? E que aquele sujeito tímido, que tem vergonha de dizer não para o vendedor insistente, na Internet poderá facilmente fazê-lo. A concorrência se tornará mais acirrada pois os consumidores terão muito mais comodidade de visitar lojas e comparar preços e produtos.

Bom, como vimos acima, não é tarefa fácil ficar rico vendendo seu produto na Internet. Mas também não é impossível. É importante saber o que você quer com o seu produto, saber posicioná-lo e buscar um diferencial. Vender seu produto com valor agregado é vender conhecimento, ou seja, vender informação tratada, compilada. E o que é a informação? É um produto intangível, que pode ser vendido via Internet mas, mais importante que isso, pode ser entregue via Internet. É um produto que pode ser representado em bits e enviado, à velocidade da luz, para qualquer lugar do mundo, com prazo de entrega de segundos. Esse é o produto do futuro na Internet, e fará com que haja a ruptura entre a forma e o conteúdo. Depois de milhares de anos que o homem inventou a escrita, poderemos finalmente carregar informação sem o suporte físico de pedras, papéis ou CDs. Sem fronteiras.


Leonardo Silva Carissimi é Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Peta Systems e Mestre em Ciências da Computação pela UFRGS.



http://www.jseg.net/fronteiras_do_comércio_eletrônic.htm