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A Proteção Ambiental e a Indústria do Petróleo

 


Paulo de Bessa Antunes

Advogado
Dannemann Siemsen Meio Ambiente Consultores

 

 

 

A indústria de energia e, em especial, a indústria de óleo e gás, é extremamente importante para a vida humana. Infelizmente, a percepção pública de tais atividades tem sido negativamente influenciada por acidentes, dentre os quais se destacam os derramamentos de óleo no mar, e o recente episódio envolvendo o navio Prestige, em novembro de 2002, nas costas da Espanha, contribuiu para agravar esse problema. A realidade, entretanto, é diferente daquela percebida pela opinião pública. Se compararmos o elevado padrão de desempenho do transporte marítimo de petróleo com outros setores industriais, os resultados serão amplamente favoráveis ao primeiro.

Além disto, a indústria do petróleo tem sido pioneira na promoção de soluções institucionais inovadoras e que são capazes de providenciar uma adequada, segura e rápida indenização daqueles que, em função de acidentes, sofrem danos em conseqüência das atividades da indústria do petróleo. O exemplo da indústria do petróleo pode e deve ser seguido por outros setores industriais, pois foi por meio de um longo aprendizado que os atuais padrões de desempenho e segurança foram alcançados.

Após derramamento de óleo provocado pelo navio Torey Cayon em 1967, inúmeras iniciativas implicaram na criação, em 1968, de uma importante associação denominada International Tanker Owners Pollution Federation (ITOPF), que reúne os principais proprietários de navios petroleiros. Uma das funções básicas da ITOPF foi gerir um fundo voluntário e transitório estabelecido pelos armadores, com a finalidade de assegurar indenizações para os afetados por derramamento de óleo no mar. Tal fundo, denominado TOVALAP (Tankers Owners Voluntary Agreement Concerning Liability for Oil Pollution), foi posteriormente reconstituído e organizado com o nome de CRISTAL (Contract Regarding an Interim Supplement to Tanker Liability for Oil Pollution). Ambos os fundos foram extintos em 1997, em razão da entrada em vigor das convenções internacionais sobre a matéria.

Mais importante, ainda, é a progressiva diminuição de acidentes com navios petroleiros e, principalmente, a diminuição da quantidade de óleo lançado ao mar em decorrência de acidentes. Em 1970, foram registrados 29 derramamentos, com liberação de mais de 700 toneladas de óleo no mar. Em 1980 houve treze derramamentos; outros tantos em 1990 e, em 2000, foram registrados três grandes derramamentos. É importante observar que, não só o número de derramamentos diminuiu no período citado, mas, o que é mais importante, houve uma diminuição da quantidade de óleo lançado ao ambiente. Em 1970 foram lançadas 301 mil toneladas; já em 1980 esse número foi reduzido para 103 mil toneladas; em 1990 para 61 mil toneladas, e em 2000 não ultrapassou 12 mil toneladas. A substituição de embarcações antigas por navios mais modernos, com casco duplo, certamente reduzirá, ainda mais esses números.

No caso do Prestige, foram lançadas 77 mil toneladas de óleo pesado no mar, sendo certo que foram removidas 50 mil toneladas de mistura de óleo e água. Em termos indenizatórios, não mais do que 30 dias após o acidente já haviam disponíveis cerca de US$ 180 milhões. Comparemos com os recentes fatos ocorridos no Rio Paraíba do Sul, e vamos perceber que, tanto em termos de agilidade nas providências de reparação ambiental quanto no ressarcimento das partes prejudicadas, a indústria de petróleo evoluiu como nenhum outro setor.

Os números são extremamente importantes e demonstram que é imperioso esclarecer a opinião pública sobre o atual estágio de preocupação e cuidado da indústria de óleo e gás com o meio ambiente. Um dos acidentes ambientais mais conhecidos, o do navio Exxon Valdez, ocorrido no Alasca em 1989 e que resultou na dispersão pelo ambiente de cerca de 37 mil toneladas de óleo, representou pouco mais de 10% da quantidade de óleo derramada pelo navio Atlantic Express dez anos antes (287 mil toneladas). Portanto, enquanto o grau de sensibilidade social para este assunto aumentou significativamente, o volume de poluição desse segmento vem se reduzindo de forma drástica. É importante reconhecer isto para não cultivarmos uma visão preconcebida distorcida de uma indústria que é fundamental para o desenvolvimento de nosso País.

Toda a indústria do petróleo se encontra mobilizada para minimizar o número de acidentes, bem como para mitigar-lhes os efeitos adversos. Deve ser ressaltada a externalidade altamente positiva que é o altíssimo volume de investimento em ciência e tecnologia para a proteção ambiental, o que, na prática, implica mais capacitação tecnológica em nosso País, criação de renda, conhecimento e pesquisa. Os maiores acidentes brasileiros com petróleo, ocorridos na Baía de Guanabara e no estado do Paraná, em termos internacionais foram relativamente pequenos, mas ainda assim a sociedade nacional mobilizou recursos extremamente relevantes. Foi criada a Recupetro (Rede Cooperativa em Recuperação de Áreas Contaminadas por Atividades Petrolíferas), coordenada pelo Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade Federal da Bahia. Tal associação reúne 13 Redes Cooperativas de Pesquisa do Setor de Petróleo e Gás Natural nas regiões Norte e Nordeste financiadas pelo CT-Petro, CNPq e Finep. A Recupetro reúne 226 pesquisadores e cerca de 2,2 mil participantes indiretos, a maioria atuando em universidades federais. Isto para não se falar dos investimentos de iniciativa da Petrobras que, ao fim de 2003, chegarão aos R$ 3,2 bilhões.

Para que a indústria petrolífera possa ter, no Brasil, o desenvolvimento necessário, dentro de um contexto de sustentabilidade ambiental e responsabilidade social, cerca de 300 empresários e especialistas estarão debatendo estes e outros temas no Seminário sobre Energia, Petróleo e Proteção Ambiental, no Rio de Janeiro, entre 26 e 28 de maio. É hora de amadurecermos nossas concepções acerca do papel que essa indústria pode e deve ter na economia nacional, sem medos ou conflitos infundados, mas encarando com seriedade o enorme desafio representado pela questão ambiental.kicker: Em 1970, foram registrados 29 vazamentos e em 2000 foram três grandes derramamentos.

 

Disponívem em : <  http://www.dannemann.com.br/site.cfm?app=show&dsp=pba8&pos=5.15&lng=pt >

Acesso: 21/07/06