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A PRÓXIMA REVOLUÇÃO

Muita produtividade zero desperdício: receita ambiental para o século 21

 

Por Ricardo Arnt

 

 

Economias vitais baseadas em alta tecnologia e em altíssima produtividade, radicalmente poupadoras de material e de energia, serão implantadas nas sociedades mais civilizadas do planeta no século 21. Assim como em 1750, antes da máquina a vapor, ninguém concebia que um mineiro de carvão trabalhasse cem vezes mais, hoje um kilowatthora cem vezes mais produtivo parece inconcebível. Mas daqui a 70 anos talvez ele já esteja obsoleto.

A promessa dos professores Paul Hawken, Amory Lovins e Hunter Lovins em Capitalismo Natural é referendada pelo mais poderoso mortal do planeta: Bill Clinton. "Há anos estou convencido de que já não há mais necessidade de escolher entre crescimento econômico e preservação do meio ambiente", diz o morador da Casa Branca. "O livro Capitalismo Natural prova. contra qualquer argumentação, que atualmente já existem tecnologias, à parte as que estão surgindo no horizonte, que nos permitirão ficar mais ricos preservando, e não devastando o meio ambiente:

As 358 páginas de Capitalismo Natural parecem um catálogo de soluções de design, tecnologias e inovações empresariais para aumentar a eficiência de produtos e processos. Paul Hawken é o autor do celebrado The Ecology of Commerce e de livros publicados em 50 países, além de animador do Natural Capital Institute, em Sausalito, na Califórnia. O físico Amory Lovins e sua mulher, a socióloga Hunter Lovins, são consultores de empresas e fundadores do Rocky Mountain Institute, uma incubadora de projetos ambientais. em Snowmass, Colorado. Em plenas Montanhas Rochosas, o ultramoderno prédio de 1 200 metros quadrados do instituto gasta o mínimo de recursos, recicla tudo, dispensa calefação e dá-se ao luxo de cultivar jasmins e bananas a 2 160 metros do nível do mar um recorde mundial de altitude.

O livro parte de uma idéia velha, mas sinistramente atual: no próximo século, com população duplicada e recursos disponíveis per capita reduzidos à metade, a civilização vai ter de parar para "pensar". Água, minérios, petróleo, árvores, peixes, solo, ar e sistemas vivos como pastos, savanas, mangues, estuários, oceanos, recifes de coral. áreas ribeirinhas, tundras e florestas tropicais estão se deteriorando a uma velocidade sem precedente. "A humanidade herdou 3,8 bilhões de anos de capital natural. Mantidos os padrões atuais de uso e degradação, muito pouco há de restar no fim do século 21 ", dizem os autores. A natureza não é substituível, e sua clonagem não tem a menor graça.

Hawken e os Lovins anunciam quatro estratégias para o advento do novo capitalismo: "produtividade radical dos recursos", "biomimetismo" (o redesenho de técnicas sob a inspiração de processos biológicos), "economia de fluxo contínuo de serviços" (substituindo o comércio de bens e aquisições por um fluxo de reciclagem, reuso e refabricação), e "reinvestimento em capital natural" para restaurar os serviços da biosfera.

Americanos pragmáticos, os autores propõem conciliação com o passado por meio de aceleração para o futuro. Pregam a preservação de recursos naturais e valores humanistas confiantes na expansão da tecnologia. Um dos seus argumentos é o Hypercar, o automóvel de fibra de carbono movido pela combinação de motor elétrico com célula de combustível a hidrogênio, que está sendo testado em laboratórios no mundo todo. Para eles, a máquina aposentará a civilização predatória a gasolina.

Um capítulo inteiro é dedicado a Curitiba. "uma cidade com níveis de qualidade de vida mais elevados que os da maioria das cidades dos Estados Unidos". Para os autores. 30 anos de racionalidade ambiental na administração municipal, iniciados pelo arquiteto Jaime Lerner, "começam a concretizar aquilo que talvez possamos chamar de capitalismo humano". Segundo afirmam, os brasileiros de Curitiba romperam com a "síndrome da tragédia" que paralisa o progresso no Terceiro Mundo e a "substituíram

EXAME/29 DE NOVEMBRO DE 2000


por dignidade e esperança". Nada mau.