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Crise Ambiental - Algumas Considerações
José Silva Quintas
Fala-se também numa crise ambiental que hoje ameaça a sobrevivência da espécie humana no planeta, cuja saída depende de um novo estilo de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável. E, para discutir a crise e a sua solução, foi convocada pela ONU a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento a Rio-92 ou ECO-92, que reuniu no Rio de Janeiro no período de 5 a l2 de junho mais de cem governantes dos países do globo.
O relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento intitulado sugestivamente de "Nosso Futuro Comum" , constata que "alguns consomem os recursos da TERRA a um tal ritmo que provalvemente pouco sobrará para as gerações futuras. Outros, em número muito maior, consomem pouco demais e vivem na perspectiva de fome, da miséria, da doença e da morte prematura . De acordo com o relatório nunca se registrou na história da humanidade, a quantidade tão grande de famintos como observada atualmente. Em 1980, existiam 340 milhões de pessoas em 87 países em desenvolvimento com graves problemas de saúde por não consumirem a quantidade mínima de calorias necessárias. O mais preocupante é que tudo indica que o quadro de fome no mundo tende se agravar. O Banco Mundial prevê que o número de famintos deve continuar aumentando .
A existência de tantos famintos no mundo, pode nos levar automaticamente, a pensar na falta de alimentos como a causa fundamental da fome nos países em desenvolvimento. Todavia, sabe-se que a disponibilidade de calorias produzidas pela terra permitem o consumo médio diário de 3.140 calorias por habitante do planeta, número superior em quase 31% ás necessidades alimentares médias no mundo (2.400 calorias) . Na medida em que a produção de comida daria para suprir com sobras as necessidades de todos os habitantes do planeta, pode-se concluir que o problema da fome decorre da desigualdade na repartição dos alimentos entre nações, e entre as diferentes camadas sociais dos países. Em outras palavras, não basta se ter boas colheitas é necessário que as pessoas disponham de recursos para comprar os alimentos.
A Srª Gro Harlem Brundtland considera a pobreza como "a maior causa, e, o maior efeito dos problemas ambientais". Segundo ela "é fútil tentar tratar problemas ambientais sem uma ampla perspectiva que inclua ambos como fatores essenciais da pobreza mundial da desigualdade internacional .
Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento:
"O desgaste do meio ambiente foi com frequência considerado o resultado da crescente demanda de recursos escassos e da poluição causada pela melhoria do padrão de vida dos relativamente ricos. Mas a pobreza polui o meio ambiente, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos muitas vezes destroem seu próprio meio ambiente: derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem em número cada vez maior para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanças chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo ".
Entretanto, ninguém, pessoa ou nação é pobre por opção. A pobreza, decorre da repartição desigual dos recursos naturais e das riquezas produzidas pelo trabalho da população, entre nações e entre as diversas camadas dociais no interior de cada país. Os países industrializados, com 26% da população mundial consome a produção de 80% da energia, 79% de aço, 86% de outros metais, 85% de papel, 53% de gordura, 38% de proteína e 34% de calorias. Os países sub-desenvolvidos com 74% da população mundial ficam apenas com 20% da energia, 21% de aço, 14% de outros metais, 15% de papel, 47% de gordura, 62% de proteína e 66% de calorias . Um cidadão dos Estados Unidos consome duas vezes mais da energia consumida por um europeu, cinco vezes a energia consumida por um indiano, cento e sessenta e oito vezes a energia consumida por um tanzaniano e novecentas vezes a energia utilizada por um morador do Nepal .
Estes dados demonstram que a limitação do crescimento da população dos países em desenvolvimento, por si só não evitaria o esgotamento dos recursos naturais e a degradação ambiental. O estilo de vida dos países ricos é tão grave para a ecologia mundial quanto a chamada "explosão demográfica" nos países pobres.
Estimativas do Banco Mundial e da FAO, no início dos anos 80 indicaram que o número de pessoas que vivem em estado de pobreza absoluta variava entre 700 milhões e 1 bilhão de pessoas. Segundo a maioria dos indicadores, em 1989 houve um aumento do número de pobres na Ásia, na África, abaixo do Saara e na América Latina.
Ao lado da desigualdade no acesso aos recursos naturais entre países ricos e pobres existe uma desigualdade ainda mais séria. Trata-se da desigualdade social no âmbito dos países em desenvolvimento. O consumo dos 20% de pessoas mais ricas comparados com o consumo dos 20% mais pobres é maior: 8 vezes na Índia, 20 vezes no México, 22 vezes no Quênia, 33 vezes no Brasil. A França país rico do 1º mundo esta relação é de 9 para 1 .
Retirado de www.ibama.gov.br/online/artigos/artigo12