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A Armadilha da Globalização:

Mentiras Cômodas

                       

Luiz Henrique Teixeira da Silva

 

            O desemprego no México é um fato comum nos dias de hoje. Vários mexicanos em idade produtiva trabalham na economia informal.

            Durante dez anos, três presidentes mexicanos seguiram orientações do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e do governo norte-americano. O México privatizou a maioria de suas empresas estatais, baixou taxas alfandegárias e afastou os impedimentos para os investidores estrangeiros abrindo o país ao sistema financeiro internacional. Em 1993, o México assinou o NAFTA, por meio do qual o país se integraria dentro de dez anos às economias estadunidense e canadense.

            À primeira vista o acordo estava sendo bom para o México, as exportações cresciam cerca de 6% ao ano, abriram novas empresas e a dívida externa estava sendo reduzida. Mas, apenas uma pequena parte da população teve acesso aos benefícios. As indústrias implantadas necessitavam de muitas importações e pouca mão-de-obra; as empresas antes estatais estavam agora sob o domínio de vinte e cinco holdings que produziam metade do PIB mexicano. Essa abertura desenfreada fez com que as empresas norte-americanas concorressem com as mexicanas, o que obviamente favoreceu os americanos. A agricultura procurou acelerar suas exportações para concorrer com os rivais americanos, o resultado foi uma mecanização intensa do campo, provocando um êxodo rural para as cidades já superpovoadas.  

            Para manter a aprovação popular do governo e as importações baratas, o governo mexicano encareceu sua moeda com juros máximos, e em dezembro de 1994 ocorreu a desvalorização do peso. O medo de uma catástrofe financeira mundial levou o secretário do Tesouro de Washington e o chefe do FMI a deslanchar a operação de salvamento do México. Na tentativa de recuperar a confiança dos mercados internacionais, o presidente mexicano deixou os juros anuais acima de 20% em termos reais e cortou os gastos públicos. Dentro de poucos meses, cerca de 15.000 empresas estavam falidas, 3.000.000 de mexicanos desempregados e o poder aquisitivo da população reduzido a um terço.

            Para os EUA o NAFTA também se apresenta negativo. Os vários empregos esperados com as exportações para o México nem chegaram a existir. Apenas as empresas que usufruíram a mão-de-obra barata mexicana se beneficiaram do acordo.

            Com esta experiência mexicana podemos ver que a promessa de bem-estar social via livre-mercado é pura ilusão.

            Na Europa, a Turquia sofre de problemas similares aos mexicanos. A abertura desenfreada do mercado turco trouxe um aumento de 10% das exportações, mas também um aumento de 30% nas importações. A Turquia bem que tentou implementar uma taxa de 6% sobre as importações, mas o acordo assinado com a União Européia não permitiu, deixando os turcos presos à uma armadilha.

            Com isso, fica provado que a tentativa de integrar países em desenvolvimento com países desenvolvidos, numa zona de livre comércio, traz muito mais danos ao país menos desenvolvido do que benefícios.

 

TIGRES EM VEZ DE CORDEIROS: O MILAGRE ASIÁTICO

 

            A ilha de Penang na Malásia é considerada o maior pólo exportador de semicondutores do mundo empregando cerca de 300.000 pessoas. Esta ilha é apenas um dos exemplos do desenvolvimento experimentado na Malásia nos últimos vinte e cinco anos. Este país a muito já deixou de ser um país em desenvolvimento. Sua poupança interna cresce de 7 a 8% ao ano desde 1970 e a produção industrial aumenta 10% em média. A renda per capita do país é de 4.000 dólares/ano. Não somente a Malásia experimenta este desenvolvimento, mas também a Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong-Kong e mais recentemente a Tailândia, Indonésia e sul da China. Estes são chamados “Tigres Asiáticos”. A fórmula usada nestes países é criticada no mundo ocidental, e trata-se da intervenção estatal em todos os níveis da vida econômica. Para estes países, a integração no mercado mundial não é uma meta, mas um meio do qual se servem cuidadosa e prudentemente.

            Nos “Tigre Asiáticos”, os direitos alfandegários são altos e especificações técnicas impedem a importação desenfreada e estimula os setores mais fracos da economia a se melhor estruturarem. Existe também um incentivo à exportação. Nestes países há um controle de taxas cambiais. Além disso, todos os “Tigres” investem na educação de sua população e no prepara de seus profissionais para o mercado mundial.

            O sucesso deste sistema mostra o quanto ele é eficaz e que a globalização da economia mundial não acompanha um único princípio.

 

COMÉRCIO JUSTO: PROTEÇÃO PARAOS POBRES?

 

            Tal milagre experimentado pelos asiáticos traz também más conseqüências, como a corrupção a agressão ao meio-ambiente e principalmente o crescimento na exploração dos trabalhadores, que não possuem direitos (muitas vezes os salários pagos são o mínimo estabelecido pro lei, fixando o mínimo a ser pago para um pessoa sobreviver). Para manter esta ordem, o regime militar indonésio reprime qualquer revolta trabalhista ainda em seu embrião. Os baixos salários são explicados pela concorrência entre os “Tigres” pela instalação de fábricas. Sua finalidade é trazer para o país a produção de maior valor agregado. Mas, na Malásia, isso já é passado. Os salários da população malaia são bem maiores que o dos indonésios. Apesar disso, a Malásia está longe de ser um país democrático, e como exemplo podemos tomar a censura à mídia.

            Na China a situação do trabalho ainda é pior. Lá muitas vezes a jornada de trabalho diária chega a ser de quinze horas e muitos outros direitos trabalhistas são ignorados. Na China, qualquer tentativa de luta contra o sistema, resulta na sentença de três anos de trabalhos forçados.

            Diante dessa situação, os países ocidentais nada fazem. Fingem não ver as condições desumanas de trabalho e a má distribuição de renda nos “Tigres”. Por trás disso estão os interesses dos países desenvolvidos, que lucram e muito nos “Tigres” pouco se preocupando com o meio-ambiente, e a saúde, a democracia e os direitos humanos. Prova disso é o protesto pro parte da Inglaterra e da Alemanha contra uma cláusula da OMC que protegia o meio-ambiente.

 

PROTECIONISMO: DEFESA DOS RICOS?

 

            Devido aos baixos preços dos produtos asiáticos, os países desenvolvidos adotam políticas protecionistas, implementando as sobretaxas comerciais. Por causa dos baixos salários, os produtos produzidos no Oriente são muito competitivos. Por isso mesmo, vários postos de emprego na América, Europa e Japão estão desaparecendo, visto que nesses países o preço pago pelos serviços é maior.

 

            Apesar disso, as empresas dos “Tigres” precisam importar muito e fazem estas importações de vários países desenvolvidos. O problema é que o grosso dos lucros fica nas empresas exportadoras.

            Assim sendo, com a redução nas cotas de trabalho nos países desenvolvidos, os salários também caem. Tem-se também que as empresas são favorecidas com a globalização, em vista de usufruírem mão-de-obra barata, de países como os “Tigres Asiáticos”, e exportação para países em desenvolvimento.

            Mas não é só a concorrência com países de mão-de-obra barata que acaba com os postos de trabalho nos países desenvolvidos. Existe também uma corrida tecnológica para que estes países consigam um lugar para seus produtos no mercado mundial, com esta corrida tecnológica tem-se menos vagas, em vista da mecanização das atividades.

 

MODELO ALEMÃO: A(S) MENTIRA(S) SOBRE O LOCAL DE PRODUÇÃO

 

            Em 1996 ocorreu na Alemanha a maior manifestação sindical pós-guerra até então. Os trabalhadores reivindicavam melhores condições de trabalho. Apesar do fato de que a Alemanha tenha um dos melhores níveis de “benefícios” trabalhistas, várias medidas governistas estão diminuindo estes “benefícios” de modo a causar revolta nos trabalhadores. O motivo do governo é claro: reduzir salários e benefícios, para aumentar o número de pessoas empregadas.

            Existe também uma crise no sistema de proteção social alemão, que por depender de alíquotas dos salários dos empregados, está praticamente falido, devido ao desemprego.

            Em 1995, Olaf Henkel, ex-diretor da IBM e então presidente da Federação das Indústrias Alemãs declarou que as empresas alemãs criavam muito mais empregos no exterior do que na própria Alemanha. É uma realidade que várias empresas alemãs estão se “multinacionalizando”, mas também é uma realidade que elas não criam muitos empregos no exterior.

 

FUGINDO DA ESPIRAL DESCENDENTE

 

            É evidente, que hoje em dia, que o “abismo” entre ricos e pobres está muito maior. Para combater isto são necessárias várias estratégias, em parte, já elaboradas, como um aumento paulatino do preço da energia elétrica, que acarretaria uma menor exploração ambiental e no crescimento no número de empregos, visto que se tornaria menos viável o uso de tecnologia. Isso pode ser comprovado por uma pesquisa do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica que afirma que um pequeno aumento anual no preço dos combustíveis em geral, geraria, dentro de dez anos, cerca de 600.0002 postos de trabalho.

            Uma intervenção estatal para se conseguir tal fim, seria indispensável. Mas, com medias como esta sendo adotadas, várias empresas acabariam fugindo para o exterior levando o projeto ao fracasso.

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 6 – SALVE-SE QUEM PUDER, MAS QUEM PODE?

 

A SOLIDÃO DE CHARLIE BROWN

 

            Os EUA, nos anos 70, detinham uma classe média invejável. Hoje já não se pode dizer o mesmo. Muitos jovens recém formados têm que se conformar com empregos em lanchonetes ou de entregadores. A classe média americana “se dilui e desaparece” afirma Justin Fox, fotógrafo da revista Fortune e dono de um contracheque quinzenal de US$ 1.157. preocupados com seu futuro os remanescentes da classe média americana investe em ações. Vinte milhões de famílias americanas participam deste mercado.

            Outra classe em perigo é a dos trabalhadores burocráticos, que correm o risco de perder deus empregos para computadores. Os sindicatos patronais haviam exigido uma redução de 40% do salário inicial em New York, os sindicatos de trabalhadores protestaram contra w acabaram por aceitar uma redução de 20% nos salários iniciais. Com isso, vários trabalhadores veteranos perderam seu emprego com o argumento: os famintos de rua são mais baratos e menos exigentes.

            A decadência da classe média americana é apenas um dos problemas vivenciados pelos americanos, como a alta criminalidade e consumo de drogas e o problemático ensino secundário, onde os professores ganham salários que na Alemanha não seriam aceitos nem por uma empregada doméstica.

 

O FIM DA UNIDADE ALEMÃ

 

            Na Alemanha, pelos menos um quarto da população já deixou o estado de bem-estar social, e as camadas inferiores da sociedade estão claramente empobrecendo. A criminalidade entre os jovens cresce e o nível educacional diminui. Assim, a unidade alemã cai por terra, apesar de geograficamente ter se firmado a pouco tempo.

 

A TRAIÇÃO DAS ELITES: O BRASIL COMO MODELO PARA O MUNDO

 

            Em São Paulo podemos perceber claramente o isolamento das camadas mais abastadas da população. Cresce o número de pessoas que decidem morar em condomínios fechados, onde cada movimento é vistoriado pelos seguranças. Este isolamento pode ser considerado um tipo de apartheid que o co-projetista de Alphaville (condomínio residencial de São Paulo) Yojiro Takaoka declara ser “uma solução para os nosso problemas”.

            Este modelo de isolamento das elites já é seguido, por exemplo, na África do Sul, onde condomínios como o Alphaville foram criados na Cidade do Cabo. Nos EUA, França, Itália, Espanha, Portugal, Índia e Cingapura parecem seguir a mesma “receita” brasileira.

            Assim, nestes países cada vez mais os ricos estão vivendo seguros em seus “oásis” de muros altos, enquanto bandidos continuam soltos pelas ruas.

 

SOCORRO! FUNDAMENTALISTAS NO PODER

 

            Já não se pode mais esconder que os populistas de direita estão ganhando espaço entre o eleitorado alemão. Nos EUA isto também já é visível. Assim sendo, vários analistas políticos chegam a dizer que nestes países temos uma situação pré-fascista.

O neofascismo tem sua origem em tendências econômicas e político-financeiras. Analistas políticos afirmam que se aparecer um político autoritário, com certa credibilidade e que defende posições (subentendidas) racistas, não tardará a alcançar um espaço considerável na política americana.

            O fundamentalismo já não é mais um problema unicamente do islã, como demonstram os exemplos acima. Na Áustria, o populista radical de direita Jörg Haider, que lembra em alguns aspectos Adolf Hitler, vem ganhando espaço no cenário político.

 

PRIMEIRO ACERTO DE CONTAS: A VOLTA DA ANTIGA CAPITAL IMPERIAL

 

               Na Áustria é visível a xenofobia crescente. Desde o século XIX que a imigração de estrangeiros é proibida no país. Com isso, a figura política de Haider vai ganhando adeptos. Cogita-se que se este político alcançar grande poder na Áustria, pode-se levantar um muro num bairro de Viena onde moram a maioria dos estrangeiros que vivem na Áustria. A única coisa estrangeira bem-vinda neste país é o dinheiro dos turistas. A venda de jóias é um grande negócio em Viena.

 

RÁPIDO! RÁPIDO! O TURBOCAPITALISMO ESGOTA A TODOS

 

            As mudanças bruscas provocadas pela globalização ocasionam diversos problemas. Várias famílias são desfeitas devido à perda do emprego de um dos cônjuges, Estados sofrem as mais duras conseqüências, como o México, trabalhadores necessitam atualizar-se diariamente devido à velocidade do avanço tecnológico. Com toda esta velocidade de mudanças, importantes decisões políticas podem acabar sendo tomadas de forma errada, devido pressa com que os políticos tomam tais decisões visando dar uma resposta instantânea ao povo que assim cobra.

            A globalização acelera as mudanças estruturais de modo que as pessoas muitas vezes não conseguem acompanhar. É necessário que haja uma discussão sobre este assunto, tendo a participação tanto dos cidadãos como dos global players.