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Clóvis Rossi
Pior que o fato de o PT manter e até aprofundar
a política econômica anterior é a continuidade também da ditadura do
"pensamento único" que assola o planeta há já mais de uma década.
Na
era FHC, qualquer um que tivesse críticas ou até mesmo singelas dúvidas a
respeito da política econômica era classificado de neobobo, jurássico,
fracassomaníaco.
Com
a vitória de um partido teoricamente de oposição, o razoável seria esperar um
esforço para romper a ditadura e criar um ambiente cultural propício ao debate
de uma maneira menos preconceituosa, menos enviesada, menos safada.
Até
porque, sejamos justos, ninguém tem a fórmula para virar o jogo econômico de
forma a preservar a estabilidade e, ao mesmo tempo, começar a fechar a obscena
brecha social que há no Brasil.
Não
foi o que aconteceu. O próprio PT contribuiu para a interdição do debate ao
estigmatizar como radicais os petistas que têm restrições a alguns aspectos das
propostas governamentais e ao preparar o processo para expulsá-los. Agora, a
ditadura volta-se contra o vice-presidente, José Alencar, pela sua campanha a
favor da redução dos juros. Já aparece gente para dizer que Alencar não tem
sensibilidade, atrapalha a governabilidade e que o cargo deveria ser extinto (o
cargo, por enquanto).
Não
se faz a pergunta preliminar: Alencar tem ou não razão ao dizer que a atividade
econômica está sendo crescentemente sufocada e ao afirmar que se está
produzindo uma monumental transferência de renda para o setor financeiro?
Se
tem razão --e obviamente tem-, então não há governabilidade nem sensibilidade
dignas de serem preservadas, se são, uma e outra, incapazes de resistir a uma
verdade tão simples e tão evidente.
Desclassificar
quem critica, em vez de ao menos tentar verificar se a crítica procede ou não,
é um mecanismo totalitário. E burro, como se viu no governo passado: dois
terços dos eleitores preferiram votar nos neobobos, jurássicos,
fracassomaníacos
Retirado de: www.folha.com.br