UFSC UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CCJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

INFORMÁTICA JURÍDICA

 

PROF. JOSÉ AIRES ROVER

 

Organizador: RODRIGO CETRULO PONTES

Não seria possível esse resumo sem a contribuição de:

 

LUÍS FERNANDO NANDI VICENTE

FELIPE HAYASHI

LETÍCIA CANUT

 

Existem pessoas que choram por ter espinhos nas rosas; e pessoas felizes porque há rosas nos espinhos. Confúcio

 

 

Zen e a arte da manutenção de motocicletas

 

PIRSIG, Robert M. ZEN E A ARTE DA MANUTENÇÃO DE MOTOCICLETAS: Uma investigação sobre valores. Tradução de Celina Cardim Cavalcanti. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

 

 

Resumo Geral

A principal motivação que o livro tenta demosntrar é a tentativa de "fuga" de uma sociedade demarcada por compromissos, horários e completamente cercada por ditames tecnológicos, a fim de encontrar uma filosofia de vida diversa da rotina estadunidense, resgatando valores esquecidos pelo aumento da tecnologia e sobretudo pelos meios de comunicação em massa.

Exemplo deste fato são as chautaquas ditas pelo autor, que eram séries de palestras populares (...) que visavam edificar, divertir, aprimorar o raciocínio e fornecer cultura e informação ao espectador.” (Cap. 1).

Em suas chautauquas, o narrador faz reflexões sobre filosofia, literatura, ciência, arte, tecnologia, fatores esquecidos com a emergência da televisão e do rádio.

O interessante é como o autor, referindo-se a motocicleta, trabalho como uma espécie de analogia a vida humana, como no caso em que invocando Fedro promove a diferença entre os estilos clássicos e românticos, explicando a atitude de seus amigos que apresentam uma certa ressalva a tecnologia, como no cap. 8 :

“A motocicleta funciona inteiramente de acordo com leis racionais, e o estudo da arte da manutenção de motocicletas é, no fundo, um estudo em miniatura da arte da própria racionalidade.”

E sobretudo no Cap. 26

“Na verdade, a motocicleta a ser ajustada é você mesmo. A máquina que parece ser externa, e a pessoa, que parece ser interna, não são coisas separadas.”

No final do livro, um importante trecho marca bem o que o autor tenta repassar, quando no Cap. 29 diz o seguinte:

“Fedro lembrou-se de um trecho de Thoreau: ‘Nunca se ganha nada sem perder alguma coisa.’ E então começou a compreender pela primeira vez a inacreditável magnitude daquilo que o homem, ao adquirir o poder de entender e governar o mundo em termos de verdades analíticas, havia perdido. Ele construíra impérios de capacitação científica para manipular os fenômenos da natureza, transformando-os me monstruosas manifestações de seus próprios sonhos de poder e de riqueza - no entanto, para conquistar isso, tivera que ceder um império de compreensão de igual magnitude: a compreensão do que seja fazer parte do mundo, e não ser um inimigo dele.”

Assim, quer dizer que o mundo se modifica e o próprio homem contribui significantemente para isso, e para tanto, não adianta simplesmente fugir do que existe, mas tentar se adaptar às mudanças tecnológicas promovidas pelo homem, para que não se torne unicamente um "inimigo",podendo retirar proveito do que foi alcançado.

 

 

Resumo de Citações e Notas importantes

 

 

" O verdadeiro veículo que conduzimos é um veículo chamado nós mesmos."

"... A motocicleta é principalmente um fenômeno mental."

 

 

Primeira Parte

 

Capítulo 1

 

"O mais importante é aprender a não se perder ". Página 12

"Andamos sempre correndo tanto que não temos muitas oportunidades para conversar. Daí aquela eterna superficialidade do cotidiano. " Página 15

 

O Buda, a Divindade, mora tão confortavelmente nos circuitos de um computador digital ou nas engrenagens de uma transmissão de motocicletas quanto no pico de uma montanha ou nas pétalas de uma flor. Pensar de outra maneira

é aviltar o Buda-o que significa aviltar-se a si mesmo. Eis o que desejo explicar nesta chautauqua.

 

Capítulo 2

 

 

Capítulo 3

 

" Creio que nessa viagem devemos perceber e investigar um pouco este detalhe, para ver se aquela estranha separação entre o ser e o fazer humanos pode fornecer algumas pistas para descobrirmos que diabo aconteceu de errado

neste nosso século...A pressa é um dos vícios de nossos dias. Quando a gente resolve apressar alguma coisa é porque não se interessa mais por ela e quer mudar de atividade..." Página 33

 

" O nosso senso comum não é nada mais que a voz de milhares e milhares desses fantasmas vindos do passado. Fantasmas e mais fantasmas. Fantasmas procurando um lugar entre os viventes". Página 40

 

Capítulo 4

 

"Cada máquina tem sua personalidade exclusiva e peculiar, que provavelmente poderia ser definida como a soma total intuitiva de tudo que a gente sabe e sente sobre ela. Essa personalidade está em constante mudança, em geral para pior, mas às vezes, surpreendentemente, para melhor, constituindo o verdadeiro objeto de manutenção das motocicletas. As máquinas novas são,

simpáticas desconhecidas e, dependendo do tratamento recebido, transformam-se rapidamente em rezingões malcriados ou até mesmo em aleijões; ou então, tornam-se amigas sadias, dóceis e resistentes..."

 

"As críticas à tecnologia não passam de uma tremenda ingratidão". Página 50

 

Capítulo 5

 

"Às vezes, investigando pequenas incoerências, chega-se a grandes descobertas."

 

"Há coisas que a gente não nota porque são muito pequenas para serem vistas. Mas há outras que a gente não vê porque são imensas. Estávamos ambos olhando para a mesma coisa, falando sobre a mesma coisa, só que ele estava olhando, vendo, falando, pensando a partir de uma dimensão completamente diferente." Página 58

 

"Existem duas realidades, uma da aparência artística imediata e outra da explicação científica subjacente; elas não coincidem, são incompatíveis, não tem quase nada em comum. É uma situação bastante complicada. Constitui, aliás, um problema de certa gravidade". Página 59

 

Capítulo 6

 

Na chautaqua deste capítulo o autor começa a investigar o mundo de Fredo. Diz que alguém queria dizer alguma coisa, mas ninguém acreditou nela nem a compreendeu. Essa é a história de Fredo.

 

O autor falou de formas de tecnologia - força mortal que os Sutherlands parecem fugir. Afirma que penetrará no âmago dessa força mortal que equivale ao mundo de Fredo. Diz que neste mundo ( o único que Fredo conheceu ) compreende-se tudo a partir da forma subjacente.

 

O mundo de Fredo é o mundo da forma subjacente. Assim, o autor, que antes analisava o mundo de Fredo, o aspecto da tecnologia de um ponto de vista externo, agora passará a falar desse mesmo aspecto do ponto de vista particular.

 

Quer falar da forma subjacente ( particular ) do próprio mundo da forma subjacente ( mundo de Fredo).

 

Existem duas formas de compreensão do mundo: a romântica e a clássica.

 

A compreensão clássica vê o mundo acima de tudo como a própria forma subjacente. A compreensão romântica o vê, antes de mais nada, em termos de aparências imediatas. Se a gente mostrar a um romântico um motor, uma planta ou um esquema de eletrônica, ele certamente não se interessará muito. Essas coisas não o atraem, porque o que ele está vendo é a superfície". Página 70

 

"A modalidade romântica baseia-se, acima de tudo, na inspiração, na imaginação, na criatividade e na intuição. Predominam os sentimentos, ao invés dos fatos."

 

"A modalidade clássica, entretanto, parte da razão e obecdece a normas - que são, por sua vez, formas subjacentes de pensamento e comportamento."

 

"O estilo clássico é direto, objetivo, simplificado, seco, econômico e cuidadosamente dimensionado". Página 71

 

Capítulo 7

 

"Retiramos um punhado de areia da infindável paisagem da percepção que nos rodeia e achamos que esse bocado de areia é o mundo.

Depois que nos apoderamos desse punhado de areia, o mundo do qual tomamos consciência, começa a funcionar um certo processo de discriminação."

"A visão clássica preocupa-sed com os montinhos, os critérios de sua seleção e a correlação entre eles". Página 79

 

Segunda Parte

 

Capítulo 8

 

"Destruir uma fábrica, revoltar-se contra um governo, ou recursar-se a consertar uma motocicleta porque ela é um sistema é o mesmo que atacar os efeitos ao invés das causas. Enquanto se atacarem os efeitos ao invés das causas, não haverá mudança nenhuma. O verdadeiro sistema é o nosso próprio modelo atual de pensamento sistemático, a própria racionalidade. Se destruirmos uma fábrica, sem aniquilar a racionalidade que a produziu, essa racionalidade simplesmente produzirá outra fábrica igual. Se uma revolução derrubar um governo sistemático, mas conservar os padrões sistemáticos de pensamento que o produziram, tais padrões se repetirão no governo seguinte. Fala-se tanto sobre o sistema, e tão pouco se entende a seu respeito". Página 98

 

Capítulo 9

 

"Existem dois tipos de raciocínio lógico, o indutivo e o dedutivo. As inferências indutivas começam com o exame da máquina e permitem chegar a conclusões gerais. Por exemplo, se a motocicleta falha ao passar sobre alguma saliência, depois passa por cima de outra saliência e falha, depois falha denovo ao passar por uma terceira saliência, correndo normalmente num longo trecho liso e reto de estrada, e depois falha ao passar sobre uma quarta saliência, chega-se à conclusão lógica de que a falha é causada pelas irregularidades da estrada. É o raciocínio indutivo: o raciocínio a partir das experiências particulares, visando às verdades gerais. [...] Com as inferências dedutivas, o processo é inverso". Página 103

 

"O objetivo real do método científico é certificar-se de que a natureza não nos enganou, fazendo-nos pensar que sabemos algo que realmente não sabemos..." Página 104

 

"Uma experiência nunca fracassa apenas porque deixa de alcançar os resultados previstos. Uma experiência só é um fracasso quando também deixa de testar adequadamente a hipótese em questão, quando os dados que ela produz não provam nada, de maneira alguma." Página 105

 

Capítulo 10

 

O autor fala que a razão da atual crise social é um defeito genético da razão. Afirma que as atuais formas (modalidades) de racionalidade estão afastando a humanidade de um mundo melhor, e até ideal.

 

Mas o que seria este mundo ideal para o autor ? será o método científico ( a crise que ele está gerando ) o causador deste óbice ?

 

Qual o porque da não contestação das verdades absolutas ? As verdades múltiplas e relativas não seriam o verdadeiro aprimoramento do método científico e, consequentemente, uma melhora social.

 

O método científico pode Ter falhado durante anos. As verdades absolutas ( até então incontroversas) podem ser falsas.

 

A própria criação da ciência ( e do método ) foi calcada com base em critérios pré-estabelecidos, os quais poderiam estar errados ou tornaram-se obsoletos ao longo dos anos.

 

"A formação da hipótese é a mais misteriosa do método científico. De onde elas vêm, niguém sabe. A pessoa está sentada num lugar qualquer, pensando na vida, e de repente - zás! - passa a entender uma coisa que não entendia antes". Página 109

 

" 'O mundo dos fenômenos determina o sistema teórico, apesar de não existir ponte teórica nenhuma entre os fenômenos e seus princípios teóricos' " Página 110

 

"As verdades científicas não eram dogmas. Não eram eternas. Eram entidades temporais quantitavas e podiam ser estudadas como qualquer outra coisa". 111

 

" ... O que encurta o período de sobrevivência das verdades existentes é o volume de hipóteses oferecidas para substituí-las...Logicamente, isso significa que, ao se tentar alcançar a verdade imutável através da aplicação do método científico, não se realiza qualquer progresso. Pelo contrário, passamos a distanciar-nos dessa verdade! É a aplicação do método científico

que está causando a transformação das verdades " Página 111

 

"O objetivo do método científico é selecionar uma dada verdade dentre muitas verdades hipotéticas". Página 112

 

Capítulo 11

 

"As instituições como a escola, a igreja, o governo e organizações políticas de toda espécie tendiam a dirigir o pensamento para fins, em vez de para a verdade, para a perpetuação de suas próprias funções e para o controle dos indivíduos subordinados a essas funções". Página 117

 

"A trajetória a partir daquela existência rústica e angustiante até a vida moderna pode ser descrita em poucas palavras como progresso, e o único agente desse progresso é, obviamente a razão". Página 123

 

"A feiúra estava na razão em si e parecia não haver escapatória." Página 131

 

Capítulo 12

 

"Mas aconteceu que, um belo dia, na sala de aula, quando o professor de filosofia estava fazendo uma alegre esposição sobre a natureza ilusória do mundo pela quinta vez, mais ou menos, fedro levatou a mão e perguntou secamente se as bombas atômicas lançadas sobre Hiroxima e Nagasáqui seriam consideradas uma ilusão. O professor sorriu e respondeu que sim. Foi aí que terminou o diálogo.[...] Podia ser que nas tradições filosóficas hindus aquelas resposta estivesse correta, mas Fedro e para todos os que lêem jornal regularmente e se preocupam com assuntos como o massacre de seres humanos, tal resposta era irremediavelmente absurda. Ele saiu da sala, da Índia e desistiu". Página 138

 

"A lógica pressupõe a separação entre sujeito e objeto; portanto, ela não constitui a sabedoria última. Pode-se eliminar melhor a ilusão de que o sujeito eo objeto estão separados través da paralisação da atividade física, mental e emocional." Página 138

 

Capítulo 13

 

 

"A verdadeira universidade não se localiza num lugar específico. Não tem propriedades, não paga salários, não recebe taxas materias. A verdadeira universidade é um estado de espírito. É a grande herança do pensamento racional que nos foi legada ao correr dos séculos e que não tem lugar específico para ficar. É um estado de espírito que se renova através dos séculos, graças há um grupo de pessoas que ostentam tradicionalmente o título de professor, título esse que, no fundo, também não faz parte da universidade. A verdadeira universidade é nada mais nada menos que o corpo contínuo da razão em si". Página 143

 

"Seu objetivo principal é servir, através da razão, a busca da verdade". Página 145

 

Capítulo 14

 

Folheto de instruções para a montagem de uma churrasqueira. Porque De Weese teve dificuldade em compreender o folheto.

 

Segundo o autor, ele não consegue entender as coisas apresentadas no estilo feio, fragmentário e grotesco da redação técnica e mecânica. A ciência lida com pedaços, partes e peças de coisas, tomando a continuidade como pressuposto, e De Weese trabalha apenas com a continuidade das coisas, tomando como pressuposto os pedaços, as partes e as peças. O que ele realmente quer que o autor critique é a falta de continuidade artística, para a qual os engenheiros não ligam a mínima. Isso se encaixa no problema da divisão romântica-clássico, assim como todo que diz respeito à tecnologia.

 

Paz de espírito. “ A montagem de uma bicicleta japonesa exige uma grande paz de espírito”.

 

Diz o autor que a paz de esp. não é uma coisa superficial. Ê produzida pela boa manutenção e destruída pela manutenção descuidada. O que se chama praticabilidade de uma máquina é apenas a objetivação dessa paz de espírito na máquina. O teste final é sempre a nossa própria serenidade. Se, ao começarmos e prosseguirmos o trabalho não conservamos essa serenidade, transmitiremos nossos problemas pessoais à própria máquina.

 

“O teste da máquina consiste na satisfação que ela nos proporciona. Não há outro. Se a máquina produz tranquilidade, ela está certa. Se nos perturba, está errada. O teste da máquina é sempre a nossa cabeça”.

 

Que modificações devem ser feitas no folheto para que De Weese alcance essa paz de espírito ?

 

O autor diz que são necessários mais detalhes. As instruções da churrasqueira começam e terminam falando da máquina. O que causa nervosismo nessa espécie de instruções é que elas pressupõem que só existe uma maneira de montar a churrasqueira: a deles. E isso anula toda a criatividade.

 

“A tecnologia pressupõe que só existe uma maneira correta de fazer as coisas. Assim, é natural que as instruções comecem e terminem na churrasqueira. Mas se a gente puder escolher entre um número infirnito de maneiras de montá-la, a relação entre nós e a máquina, e a relação entre nós, a máquina e o resto do mundo precisa ser levada em consideração, porque a escolha de uma dentre muitas opções, a arte do trabalho, depende tanto da nossa cabeça e espírito quanto do material da máquina” .

 

O autor coloca que este problema não decorre apenas da relação entre arte e tecnologia. É uma espécie de incompatibilidade entre razão e sentimento. O problema é que a tecnologia não se relaciona de modo concreto com os assuntos do coração e do espírito ( feiura da tecnologia).

 

Deduz o autor assim, que a crise tem origem na incompatibilidade entre a situação e as formas de pensar atuais. Ela não pode ser resolvida em termos racionais porque a fonte do problema está na própria racionalidade “ careta “ deixando-se guiar pelos sentimentos ( como John e Silvia).

 

Para resolução de tal problema, afirma o autor que se deve expandir a natureza da racionalidade e não abandoná-la. Exemplo disso encontra-se em Isaac Newton que criou um novo tipo de raciocínio para que pudesse lidar com os problemas de velocidades instantâneas de mudança.

 

Ou seja, a confusão toda é causada pela obsolência das formas tradicionais de pensamento, que não conseguem abarcar novas experiências. “ a razão moderna é semelhante àquela concepção medieval de terra chata”. Em consequência disso, cada vez mais pessoas ingressam em áreas irracionais do pensamento - ocultismo, misticismo, experiências com drogas e coisas semelhantes - porque sentem que a razão clássica já não sabe lidar com fatos que elas sabem ser reais.

 

* Razão clássica: razão analítica, dialética. Razão que, às vezes, na universidade, é considerada o único meio possível de compreensão. Sempre foi inteiramente falha em relação a arte abstrata. Alguns a condenam porque ela não faz sentido. Mas o que está errado não é a arte, mas sim o sentido clássico, que não pode captá-la.

 

"Não é a tecnologia que nos amedronta. O que nos amedronta é o que ela faz com o relacionamento entre as pessoas". Página 149

 

Capítulo 15

 

"Algumas coisas são melhores do que outras, ou seja, têm mais qualidade. Porém, se a gemte tenta definir qualidade, isolando-a das coisas que a possuem, então puf! - já não há mais o que falar". Página 175

 

Terceira Parte

 

Capítulo 16

 

O que é QUALIDADE ? ( Como Fredo explorou o significado desse termo )

 

Fredo trabalhou com duas vertentes: Não-metafísica e Metafísica. Na primeira etapa não tentou criar uma definição rígida e sistemática. A Segunda etapa surgiu em consequência de críticas intelectuais normais sobre a falta de definição daquilo a que ele se referia. Nessa etapa, ele construiu definições rígidas e sistemáticas de Qualidade e elaborou uma enorme estrutura hierárquica de pensamento para defendê-las.

 

"Para cada fato há uma infinidade de hipóteses quanto mais se olha, mais se vê". Página 183

 

"As escolas nos ensima a imitar. Se a gente não imita o que o professor quer, ganha nota baixa. É claro que na faculdade o processo é mais sofisticado; é necessário imitar o professor de modo a convencê-lo de que não se está fazendo imitação, mas sim assimilando a essência dos conhecimentos transmitidos e aplicando-os na elaboração de pensamentos individuais". 184

 

"A idéia de que a maior parte dos estudantes vai para a universidade só para se educar, sem pensar em notas e conceitos é uma mentira inocente, que a maioria das pessoas prefere não admitir". Página 186

 

"É trágico apenas se a gente pensar que a carroça da civilização, o "sistema", é impulsionado só por mulas. Este é um ponto de vista que defende a mediocridade, a profissionalização ea especialização". Página 187

 

Capítulo 17

 

"Qualidade é uma característica do pensamento e da expressão, reconhecida por um processo não-intelectual. Por serem as definições um produto do pensamento rígido e formal, não se pode definir Qualidade". Página 197

 

Capítulo 18

 

"A recusa de Fedro em definir Qualidade, em termos da mesma analogia, foi uma tentativa para romper as cadeias do método de entendimento clássico, que seleciona os grãos de areia, e de encontrar um ponto comum entre o mundo clássico e o mundo romântico". Página 212

 

"Só que os românticos deixavam a aqualidade em paz, apreciando-a pelo que ela era, e os clássicos tentavam transformá-la num conjunto de tijolos intelectuais, para outros propósitos". Página 212

 

"Um conhecimento profundo sobre Qualiadade domina o sistema, doma-o, e o faz trabalhar em nosso benefício, permitindo-nos ficar completamente livres para decidirmos nossos próprios destinos". Página 213

 

"Qualidade é apenas o centro em torno do qual uma grande estrutura intelectual está se reoganizando". Página 213

 

Capítulo 19

 

"A Qualidade não é uma coisa. É um evento. [...] É o vento no qual o sujeito toma consciência do objeto. E como sem objetos não podem existir sujeitos - porque são os objetos que fazem com que o sujeito tome consciência de si mesmo - a Qualidade é o evento que torna possível a inter-relação sujeito - objeto". Página 227

 

Capítulo 20

 

O autor passa a explanar, por conta própria, algumas das idéias que Fredo deixou de investigar. A chautaqua é o próprio título do livro. (pg. 234)

 

Qualidade = TAO

 

Especulando sobre a relação entre Qualidade, mente e matéria, ele deduziu que a Qualidade é que dava oriem à mente e à matéria. [...] Queria apenas dizer que na fronteira do tempo, antes do processo de discriminação de um objeto, deve existir uma consciência de natureza irracional que ele denominava consciência de Qualidade. Página 235

 

"O passado existe apenas em nossa memória, o futuro, apenas em nossos planos. O presente é a única realidade que temos". Página 235

 

"A Qualidade é o estímulo constante que nos é imposto pelo meio ambiente para que criemos todo o mundo em que vivemos, nos mínimos detalhes". Página 239

 

Capítulo 21

 

Na chautaqua que autor inicia neste capítulo são deixadas de lado as abstrações intelectuais de natureza geral, passando-se para dados concretos, práticos e cotidianos.

 

Analisa quais as implicâncias no mundo para a descoberta de Fredo, a de que há uma relação metafísica entre a Qualidade e o Buda.

 

Afirma o autor que não se sabe se é verdadeira a idéia de que a Qualidade corresponde ao Tao, diz que tudo que Fredo fez foi comparar sua concepção de uma entidade mística com outra entidade mística.

 

O autor crê que essa tremenda escala metafísica não contribui em nada para aprimorar o conhecimento sobre Qualidade e nem sobre o Tao.

 

Conclui que Fredo não fez nada pela Qualidade e para o Tao, só pela RAZÃO. “Ele indicou um caminho pelo qual a razão poderia expandir-se, incluindo elementos antes impossíveis de serem assimilados, sendo assim considerados irracionais. Creio que foi a presença esmagadora desses elementos irracionais clamando pela assimilação que criou o sentimento atual de má qualidade o espírito caótico e fragmentado do nosso século”.

 

1 se for correta a afirmação de Fredo ® Qualidade = Buda, fornece-se uma base racional para unificação de 3 áreas da cultura humana, que ora se acham desvinculadas:

 

Religião - Artes - Ciência

 

"O ditado corrente segundo o qual a ciência e sua filha, a tecnologia, são "neutras", isto é, "não tem qualidade", precisa ser desmistificado.É essa "neutralidade" que está por trás daquela impressão de "força mortal". Página 246

 

Capítulo 22

 

"Deixar no mundo científico a impressão de que a fonte de toda a realidade científica é apenas uma harmonia subjetiva e caprichosa é resolver problemas epistemológicos deixando uma bainha desfeita na fronteira com a metafísica, que torna a epistemologia inaceitável". Página 256

 

Capítulo 23

 

...romance...

 

Capítulo 24

 

Afirma o autor que o CUIDADO e a QUALIDADE são os aspectos interno e externo de uma mesma coisa. “Aquele que enxerga a Qualidade e a percebe enquanto trabalha é alguém que tem cuidado”

 

Assim, se o problema do impasse tecnológico é causado pela falta de cuidado por parte dos tecnólogos e dos antitecnólogos, logicamente, aquilo que dá origem ao impasse tecnológico é a ausência de percepção da Qualidade na tecnologia.

 

Diz o autor que a busca desesperada do sentido racional, analítico e, portanto tecnológico da palavra Qualidade era, no fundo, uma busca da reposta para todo este problema do impasse tecnológico.

Para isso, o autor falou da separação entre clássico e romântico. Para compreender o significado da Qualidade em termos clássicos teve que voltar à metafísica e para a sua relação com a vida cotidiana, para compreensão dessa relação teve que usar do raciocínio formal.

 

Partindo da razão formal o autor chega à metafísica e a Qualidade e, a partir dessa, volta à metafísica e à ciência. Agora, o autor irá da ciência até a tecnologia. Diz que já se pode lançar mão de alguns conceitos: A QUALIDADE É A REALIDADE CIENTÍFICA. A QUALIDADE É O OBJETIVO DA ARTE.

 

 

"No primeiro dia, falei sobre o cuidado com as coisas, e aí percebi que não podia dizer nada de significativo sobre esse cuidado sem que a sua essência, a Qualidade, fosse compreendida". Página 263

 

"A Qualidade é a realidade científica. A Qualidade é o objetivo da Arte". Página 264

 

O autor falou do método científico formal à manutenção de motocicletas (Método Experimental - Causa e efeito), no intuito de explicar a lógica clássica.

 

Agora, pretende demonstrar que esse modelo clássico de raciocínio pode ser aperfeiçoado, ampliado e tornado mais eficiente através do reconhecimento formal da Qualidade em operação.

 

Antes disso, todavia, o autor demonstra alguns dos aspectos negativos da manutenção tradicional:

 

1 - Empacamento

 

Quando um parafuso da motocicleta emperra, vc precisa de uma idéia para resolver como irá tirar o parafuso dali. E o método científico não fornece esse tipo de idéias. Opera depois que elas surgem. O método científico nunca chegou a especificar onde se podem conseguir mais hipóteses.

 

A criatividade, originalidade, inventividade, intuição, imaginação - o desempacamento - estão totalmente fora do método científico.

 

Mas, por que o método científico tradicional não consegue dar solução a este problema ?

 

O erro básico que permeia o problema do empacamento é a insistência da racionalidade tradicional sobre a objetividade, doutrina segundo a qual a Realidade se divide em sujeitos e objetos. Está se expulsando dela a Qualidade, indicadora do caminho quando se empaca.

 

Voltando a atenção para Qualidade, poder-se-á salvar o trabalho tecnológico, retirando-o do dualismo sujeito-objeto desinteressado e devolvendo-lhe o caráter artesanal do envolvimento entre produtor e produto, que revelará os fatos necessários quando se empaca.

 

Como desempacar ?

 

Se considerarmos um Trem o Saber, o Saber Clássico seria a Locomotiva + os Vagões. Todavia, segundo o autor, essa é uma definição estática, sem objetivo. Se subdividirmos o trem nÃo encontraremos o saber romântico.

 

O verdadeiro trem do saber não é uma entidade estática que pode ser freada e subdividida. Está sempre correndo em direção a algum destino nos trilhos da Qualidade. A Qualidade Romântica, o limpa-trilhos da locomotiva é o que os guia pela via afora. E para o trem inteiro saber para onde vai é preciso haver um método formal para avaliar, reconhecer esta Qualidade.

 

O Valor, o limpa-trilhos da realidade, não é mais um elemento excluído da estrutura. O Valor é o antecessor da estrutura, é a consciência pré-intelectual que origina a estrutura. Nossa realidade estrutural é pré-estabelecida com base no valor, e para compreendermos amplamente esta realidade estrutural, precisamos compreender de que valores ela se origina.

 

Nossa compreensão racional da motocicleta será modificada então minuto a minuto, enquanto trabalhamos nela, percebendo que uma compreensão racional nova e diferente tem mais qualidade.

 

“A gente não se pode agarrar aos velhos chavões, porque tem uma base racional imediata para rejeitá-los”.

 

A realidade deixa de ser estática. É construída, em parte, de idéias que se destinam a crescer junto com você e com todos nós. Com a Qualidade como termo central indefinível, a realidade é, em essência, não estática, mas dinâmica. E quando entendemos a realidade dinâmica, nunca ficamos empacados.

 

 

"É inútil temer o empacamento, poque toda vez que a gente fica empacada, a Qualidade-realidade vem em nosso auxílio e nos libera. O que está prolongando o empacamento é que você estava tentando encontrar a solução nos vagões do seu trem do saber, quando ela se achava na frente do trem". Página 272

 

Capítulo 25

 

"Em todos os casos, existe uma maneira bonita e uma feia de proceder, e para atingir uma maneira bela, de alta qualidade, é necessário ter capacidade para perceber o que "parece bom" e para compreender os métodos sublimnares para alcançar tal aqualidade. Deve-se combinar a compreesão clássica e romântica da Qualidade". Página 278

 

"É a sofisticação que nos satura: essa feiúra tecnológica coberta por uma calda de falsificação romântica, na tentativa de se converter em beleza e produzir lucro para pessoas que, embora sejam sofisticadas, não sabem por onde começar, porque ninguém jamais lhes disse que existe neste mundo uma coisa chamada Qualidade, sque é genuína, não sofisticada". Página 279

 

"Não se pode viver de emoções estéticas. É necessário levar também em conta a forma subjacente do universo, as leis da natureza, que, quando compreendidas, podem tornar o trabalho mais fácil, diminuir a quantidade de doenças e, principalmente, acabar com o problema da fome". Página 280

 

"Acredito que, quando esta idéia da paz de espírito for introduzida e transformada no componente central do trabalho técnico, poderá ocorrer a fusão da qualidade romântica com a clássica num nível básico, dentro de um contexto prático de trabalho". Página 282

 

Capítulo 26

 

Brio. Aqueles que estabelecem laços com a Qualidade ficam repletos de Brio.

 

O processo pelo qual nos tornamos briosos ... ( pg. 289)

 

“Ciladas para o Brio” ( pg. 290) - Curso de Briologia

 

O primeiro tipo de cilada para o Brio é aquele em que saímos dos trilhos da Qualidade devido a condições resultantes de circunstâncias externas: “contratempos”.

 

O segundo tipo de cilada faz desviar dos trilhos por condições internas:

 

a) bloqueiam o entendimento afetivo: “ciladas morais”

b) bloqueiam o entendimento cognitivo: “ciladas factuais”

c) bloqueiam o comportamento psicomotor: “ciladas físicas”

 

a) Falta de capacidade para avaliar o que se vê, por causa do comprometimento com valores anteriores. Os valores estáticos tornam a manutenção de motos um processo impossível.

“A situação típica é aquela em que a motocicleta não funciona. Os fatos estão na cara, mas você não vê. Eles não tem valor suficiente. A qualidade, o valor, cria os sujeitos e objetos deste mundo. Se os seus valores forem rígidos, você não conseguirá aprender coisas novas”

 

 

b) “ciladas factuais”

 

Dados captados e que estão dentro dos vagões do trem. Tais informações, geralmente, são manipuladas pela lógica dualista e pelo método científico. Mas existe uma cilada que escapa a essa lógica: a cilada factual da lógica do sim ou não.

 

Sim ou não, um ou zero, com base nessa discriminação elementar constrói-se todo o conhecimento humano ( ex: bits - 1 e 0).

 

Sugere o autor uma terceiro termo lógico possível: mu = nenhum. Quer dizer que o contexto da questão é tal, que tanto uma resposta afirmativa quanto negativa estarão erradas, não podendo ser utilizadas. O contexto da pergunta se torna pequeno demais para o fato da resposta ( ex: circuito do computador = 2 estados: 1 ou 0; sem energia = um )

 

c) “ciladas psicomotoras” ( pg. 306)

 

Aqui a cilada mais frustrante é o problema das ferramentas inadequadas. Diz o autor que nada é tão desmoralizante quanto suspender um conserto por falta de ferramentas.

 

 

"O trilho da Qualidade pré-seleciona os dados de que vamos tomar consciência, sendo tal seleção feita de modo a harmonizar o que somos com aquilo em que nos estamos transformando". Página 296

 

"Você quer saber como se pinta um quadro perfeito? É fácil. Seja perfeito, e depois pinte, naturalmente". Página 308

 

Quarta Parte

 

Capítulo 27

 

... romance..

 

Capítulo 28

 

"Não desperdice nada nessa vida. Nunca, jamais desperdice nada". Página 317

 

"A Qualidade não é o método. É o objetivo que o método visa alcançar". Página 322

 

"Normalmente, quando se vai apresentar uma idéia nova num ambiente acadêmico, age-se objetivamente, sem se envolver com ela. Mas a idéia de Qualidade questionava justament essa objetividade e esse desinteresse, maneirismos apropriados apenas à razão dualista". Página 328

 

Capítulo 29

 

"Os filósofos pré-socráticos até aqui mencionados buscavam todos esteabelecer um Prinsípio Imorta universal no mundo externo que conheciam. Essas inteções comuns fizeram com que eles fosse reunidos num só grupo, o dos cosmólogos. Todos concordavam que tal princípio existia, mas as discordâncias em torno da sua natureza pareciam irreconciliáveis. Os discípulos de Heráclito acreditavam que o Princípio Imortal fosse a tranformação e o movimento. Mas Zenão, discípulo de Parmênides, provou, através de uma série de paradoxos, que toda percepção de movimento e de mudança é ilusória. A realidade deveia ser imutável".

 

"A solução para a disputa dos cosmólogos veio de uma direção completament nova. [...] Segundo eles todos os princípios e verdade são relativas. "O homem é a mediada de todas as coias". Página 353

 

Capítulo 30

 

"A igreja da razão, como todas as instituições do sistema, não se baseia na força individual, mas na fraqueza de cada um. O que ela exige, no fundo, não é a capacidade, mas a incapacidade. Só então é que consideram a gente pessoas ensináveis". Página 369

 

"Para ele, a Qualidade se encontra antes no limite das florestas do que aqui, empanada pelas janelas esfumaçadas epor oceanos de palavras; ele sente que aquilo de qu está falando jamais erá realmente aceito aqui, por que para entender isso é preciso libertar-se do controle social, e esta é uma instituição de controle social. O pastor está anunciando Qualidade às ovelhas. E quando a gete leva uma ovelha para a orla da floresta, nas montanhas, à noite, em meio a um vento tempestuoso, ela quase morre de susto, e fica balindo, balindo, balindo até que venha o pastor ou o lobo". Página 369

 

"Qualquer tentativa de desenvolver um raciocínio sistemático em torno de uma Qualidade indefinida está fadada ao fracasso. A própria organização racional rejeita a Qualidade". Página 372

 

Capítulo 31

 

... romance...

 

Capítulo 32

 

" Naturalmente, os problemas jamais deixarão de existir. A infelicidade e o infortúnio fatalmente ocorrerão em nossas vidas, mas agora sinto algo que antes não sentia, que não se localiza apenas na superfície das coisas, mas as permeia até a medula: nós vencemos." Página 388

 

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