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Informática Jurídica, Direito e Tecnologia
Grupo de pesquisa do CNPQ

Resumo feito por Mairê Luiza Zanini

Data do resumo: 30 de outubro de 2001

Livro: A Era do Acesso

Autor: Jeremy Rifkin

Capítulo 1: Entrando na Era do Acesso

O papel da propriedade está mudando radicalmente. Na nova era, os mercados estão cedendo lugar às redes, e a noção de propriedade está sendo substituída rapidamente pelo acesso. A propriedade continuará a existir, mas com a probabilidade bem menor de ser trocada em mercados. A troca de bens entre vendedores e compradores dá lugar ao acesso a curto prazo entre servidores e clientes que operam em rede.

O capital intelectual é a força propulsora da nova era. A riqueza já não é mais investida no capital físico, mas na imaginação e criatividade humana.

Com a velocidade das inovações tecnológicas e o ritmo estonteante das atividades economicas ter, guardar e acumular faz cada vez menos sentido.

Ocorrerão mudanças profundas na forma como iremos nos governar no próximo século, haverá um tipo diferente de ser humano.

Estamos fazendo uma mudança de longo prazo da produção industrial para a produção cultural. Assegurar o acesso aos vários recursos e experiências culturais torna-se tão importante quanto manter as posses.

A luta entre a esfera cultural e a esfera comercial para controlar tanto o acesso quanto o conteúdo da diversão é um dos elementos definidores da próxima era. A esfera comercial sempre derivou da esfera cultural e depende dela.

Na era do acesso as máquinas inteligentes substituem a mão-de-obra, pois a tecnologia torna-se muito barato. Em 2050 estima-se que somente 5% da população adulta estará empregada na tradicional esfera industrial. Novas oportunidades de emprego surgirão, mas em trabalho cultural pago na arena comercial.

A vida está se transformando cada vez mais em mercadoria, e as comunicações, a cultura e o comercio estão se tornando indistinguíveis. O tempo cultural mingua, deixando a humanidade apenas com vínculos comerciais que manterão a civilização unida, caracterizando a crise da pós-modernidade.

Existe uma defasagem social e economica profunda, embora 1/5 da população mundial esteja migrando para o ciberespaço e para relações de acesso, o resto da humanidade é vítima da escassez física. Mais da metade da raça humana nunca fez uma ligação telefônica.

A migração do comércio humano e da vida social para o âmbito do ciberespaço isola uma parte da população humana do restante de maneiras nunca imaginadas.

A grande divisão que irá determinar muito da luta política nos próximos anos é entre aqueles cujas vidas são cada vez mais levada para o ciberespaço e aqueles que nunca terão acesso.

Capítulo 2: Quando os Mercados Dão Lugar às Redes

Tecnologias modernas tornaram possível uma nova forma de conduzir os negócios, o que os economistas chamam de "abordagem de rede" à vida econômica.

A mudança no comércio primario do espaço geográfico para o ciberespaço representa uma das maiores mudanças na organização humana e precisa ser entendida adequadamente , na medida que traz consigo grandes mudanças na própria natureza da percepção humana e da comunicação social. Essa mudança se manifesta mais em nossa noção de propriedade, atualmente a meta é fornecer acesso, ao invés de acumular bens materiais.

Tudo isso é possível graças a proliferação das redes, principalmente a internet. O primeiro computador entrou on-line em 1969; em 1988, mais de 60 mil computadores estavam conectados. 1989, menos de 10% das empresa americanas estavam ligadas em rede; em 1993, mais de 60% delas estavam on-line. Uma empresa de pesquisa de mercado de Massachusetts, estima que, em 2003, as vendas pela internet representarão 9,4% de todas as vendas das empresas.

A ECONOMIA CONECTADA

A economia no ciberespaço une as empresa em redes profundas de relações mutuamente interdependentes, onde compartilham atividades e ocupações. Ao reunir suas forças, cada empresa poderá otimizar melhor seus próprios objetivos.

A economia global baseada em rede dirige e é dirigida por uma aceleração acentuada na inovação tecnológica.

"Não importa quanto um produto seja bom, você tem apenas 18 meses até ele ser um fracasso", Nathan Myhrvold, diretor tecnologia Microsoft.

Redução no ciclo de vida dos produtos tem , em contrapartida, a menor atenção do consumidor, assim como, o aumento da impaciência por parte do mesmo.

Ser a primeira a comercializar permite às empresa comandar preços e margens de lucros mais altos.

Essa nova organização economica leva as empresas a se reunirem com o intuito de partilhar informações estratégicas, juntar recursos, partilhar cursos, além de partilhar perdas de processos e tecnologias fracassados.

As redes são mais flexíveis e mais adequadas a natureza volátil da nova economia se comparadas com os mercados. A cooperação e abordagens de equipe à soluções de problemas permite respostas mais rápidas às mudanças de ambiente.

O MODELO ORGANIZACIONAL DE HOLLYWOOD

Hollywood possui longa experiência com abordagens de rede, tornando-se o protótipo para a reorganização do resto do sistema capitalista.

No final da década de 40, início década 50 a Suprema Corte obrigou principais estúdios a se desfazerem das redes de cinema, na mesma época surgiu a televisão, criando uma crise na indústria do cinema, o que as levou a se reorganizar de acordo com as bases de rede.

Hoje, os estúdios gigantes remanescentes raramente produzem filmes na própria casa, eles apenas investem financeiramente e possuem o direito da distribuição.

As grandes empresas de entretenimento ainda exercem controle sobre grande parte do processo, financiando parcialmente a produção e controlando a distribuição.

Capítulo 3: A Economia sem Peso

A nova era valoriza as formas intangíveis de poder vinculadas a conjuntos de informações e ativos intelectuais.

Uma poderosa mudança está ocorrendo nas economias globais: crescente perda de peso com a substituição do conteúdo material por informações e a expansão do papel dos serviços.

A RETRAÇÃO IMOBILIÁRIA

Os imóveis estão encolhendo. As empresas introduziram uma série de novos designs inovadores para acomodar melhor o tipo de rede mais aberto de estrutura organizacional.

Em um ambiente de rede o espaço privado cede ao espaço social.

Na Era do Acesso, o acesso imediato e aberto aos colegas é valorizado, pois aumenta a produtividade com o compartilhamento de dados imediato.

Estudos britânicos sugere que as instalações físicas encolherão em pelo menos 25% nos próximos anos.

ESTOQUE JUST-IN-TIME

Por volta de 2004 a distribuição digital de música na internet responderá por mais de 8% de todas as músicas gravadas vendidas no mundo, permitindo que as gravadoras se livrem de fornecedores, depósitos, estoques, assim, economizado os custos.

O comércio do ciberespaço já está impondo uma ameaça significativa às lojas de varejo, pois possuem custos gerais extremamente reduzidos.

Convivência e preços mais baixos favorecerão o novo mercado no ciberespaço.

A DESMATERIALIZAÇÃO DO DINHEIRO

Na nova economia ciberespacial, o dinheiro está se tornando cada vez menos concreto.

A nova economia ciberespacial também está criando a tecnologia para uma sociedade sem dinheiro em espécie, como, por exemplo, caixas eletrônicos, cartões inteligentes e dinheiro eletrônico.

Em mais 25 anos, aproximadamente, a moeda corrente provavelmente será considerada como uma raridade histórica.

CHEGA DE POUPANÇA

A desmaterialização do dinheiro ocorreu simultaneamente ao declínio da poupança e ao aumento da dívida pessoal.

Os norte-americanos estão poupando uma fração bem menos de sua renda. A propriedade em forma de economias pessoais está se tornando rapidamente um anacronismo, em uma era de atividades economicas sempre aceleradas em que o giro rápido, e não a acumulação, é o mais importante.

Os norte-americanos, e cada vez mais os consumidores em geral, estão se acostumando com a idéia de usar sua renda para o consumo imediato e viver com menos economias acumuladas.

A EXISTÊNCIA EMPRESTADA

Precisamos abandonar a idéia de que ter posses ou mesmo controlar capital é um recurso necessário para atender as necessidades de mercado.

Muitas vezes não compensa ter equipamentos, a propriedade pode tornar-se o peso que afetará a capacidade da empresa de se mover com agilidade para sair de uma linha de negócios e entrar em outra.

CAPITAL: “Use-o, não o possua”.

Hoje, quase 1/3 de todas as máquinas, equipamentos e frotas de transporte nos EUA é alugado em vez de comprado.

Praticamente todo tipo de capital de empresa agora está sendo alugado. 80% empresas americanas alugam todo ou uma parte dos equipamentos de mais de 2000 empresa de leasing.

O leasing permite as empresa serem flexíveis nos mercados em rápidas mudanças e abandonar sua tecnologia absoleta.

TERCEIRIZANDO A PROPRIEDADE

Empresas de todos os campos e em todas as indústrias estão correndo para alienar os ativos que não são extritamente relacionados as suas missões centrais.

Cap. 04: Monopolizando Idéias

O capitalismo está se reinventando na forma de redes e começando a deixar os mercados para trás. No processo, novas formas de poder institucional estão se desenvolvendo, e se tornando melhores e potencialmente mais perigosas que qualquer coisa que a sociedade tenha experimentado durante o longo reinado da era do mercado.

Substituição da propriedade pelo acesso e a troca da relação de vendedores e compradores por fornecedores e usuários são duas características importantes da mudança que vem ocorrendo no capitalismo.

Idéias na forma de patentes, direitos autorais, marcas registradas, segredos comerciais e relacionamentos estão sendo usadas para forjar um novo tipo de poder econômico composto de megafornecedores no controle de redes expandidas de usuários.

Atualmente o poder econômico está concentradao nas mãos de menos instituições se compararmos com a era do mercado.

Ser capaz de controlar as idéias de comércio, em vez de simplesmente controlar ferramentas, processos operacionais e produtos, dá ao novo gênero de fornecedores corporativos globais uma vantagem incoparável na história econômica anterior.

ACESSO AO FRANCHISING

Franquia: usa propriedade intelectual na fórmula de negócios para exercer controle sobre grandes redes de varejo.

A franquia combina praticamente todos os elementos do novo modo de se fazer negócios em rede.

FRANCHISING: o que está sendo franqueado é um conceito de nogócio. Ativos intang´veis valem mais que tangíveis.

As pequenas empresa tornaram-se subcontratadas das grandes empresa, ligadas em rede rigidamente definida de arranjos contratuais de comum acordo.

Franqueado não é realmente o dono do negócio, pois não tem a idéia, o conceito, a fórmula operacional, a identificação da marca.

O franqueado não compra o negócio, mas tem o acesso a curto prazo para usá-lo sob as condições estabelecidas pelo fornecedor.

Em uma economia de rede, a verdadeira propriedade é daquele que possuem os conceitos, idéias e fórmulas operacionais.

ALUGANDO DNA

Engenharia genética: usa patente de genes para estabelecer redes cativas de usuários que variam de produtores rurais a pesquisadores e profissionais de saúde.

Os genes estão sendo usados para criar novos tipos de supercolheitas, novos produtos farmacêuticos, novos tipos de fibras e materiais de construção e mesmo novas formas de energia.

Os genes não são vendidos, mas apenas licenciados.

Quando genes com valor comercial potencial são localizados, eles são patenteados e se tornam, aos olhos da lei, invenções.

Menos de 25 anos, grande parte do patrimônio genético comum estar´fichado na forma de propriedade intelectual, controlado por transnacionais gigantes.

Se um animal for clonado e patenteado, as cópias clonadas são consideradas a propriedade intelectual do detentor da patente, e um direito autoral deve ser pago para cada nascimento.

Um empresário do Alasca descobriu que suas próprias partes do corpo haviam sido patenteadas sem o seu conhecimento ou consentimento.

Cada vez mais, as pessoas em busca de informações genéticas, para qualquer finalidade terão de pagar taxas de acesso exorbitantes, toda vez que usarem o gene em questão.

CAPÍTULO 05: Tudo São Serviços

Como o mundo de hoje seria se Henry Ford tivesse pensado no automóvel mais como um serviço que como um produto? O século XX poderia ter sido bem diferente. Da forma como transcorreu, o automóvel tornou-se a melhor prova do sucesso pessoal na era da propriedade.

Agora, o automóvel está sendo transformado de um bem para um serviço, o que representa um sinal das mudanças radicais que estão ocorrendo na organização das relações econômicas.

O leasing de automóveis corresponde um em cada três veículos nas ruas do Estados Unidos, e na Alemanha 20% dos automóveis fazem parte do leasing.

Há inumeras razões para a mudança da propriedade para o leasing:

*Os preços dos novos automóveis estão muito elevados;

*Os juros dos empréstimos para a compra de carros já não são mais dedutíveis;

*O leasing permite aos clientes "esnobar" e dirigir um carro mais caro.

O leasing pegou primeiro os compradores ricos que preferiam não dispor de uma boa parte de seus fundos para ter um carro. E ainda é esse o caso.

Em uma sociedade caracterizada por ciclo de vida de produtos mais curtos e pela inovação contínua, o leasing é um meio para se manter atualizado.

Nosso longo vínculo com a propriedade está começando a enfraquecer; nos próximos anos, passaremos a pensar nossa vida econômica mais em termos de acesso a serviços e a experiências e menos em termos da posse de bens, caracterizando o final da era da propriedade e o começo da era do acesso.

Aristóteles: "No total, você encontra a riqueza muito mais no uso que na propriedade."

O NASCIMENTO DA ECONOMIA DE SERVIÇOS

A crescente complexidade das operações de negócios em grande escala, a renda familiar mais discricionária e o ingresso de grande numéro de mulheres na força de trabalho levaram à introdução de serviços de negócios e, então, transformaram os serviços ao consumidor na composição capitalista.

Hoje, as indústrias de serviços empregam mais de 77% da força de trabalho norte-americana e respondem por 75% do valor agregado.

Se uma sociedade industrial é definida pela quantidade de bens como indicadores de um padrão de vida, a sociedade pós industrial é definida pela quantidade de vida medida pelos serviços- saúde, educação, recreação e arte- que agora são considerados desejáveis.

Nossa sociedade continua a agir como se as relações de propriedade fossem fundamentais. Nossos códigos de conduta, nossos valores cívicos e nosso sentido mais profundo de quem somos no relacionamento com as pessoas foram medidos durante muito tempo pelas relações de propriedade que a idéia de viver em um mundo mais intangível é incerta.

A EVOLUÇÃO DE BENS PARA SERVIÇOS

Os consumidores não compram coisas por si mesmas, mas pelo que elas fazem.

A transformação da venda de bens para o fernecimento de acesso a serviços está resultando em significativa economia de recursos, na redução de emissão de poluentes e de detritos e em menos prejuízo ambiental.

A Carrier, maior fabricante de equipamentos de ar-condicionado, agora oferece serviços de resfriamento.

Em um arranjo de economias compartilhadas, os fabricantes de automóveis nunca compra os produtos químicos. O proprietário faz um contrato de execução em que se responsabiliza pelo gerenciamento e pela aplicação dos produtos químicos. Como resultado, há uma redução nos custos e poluentes e uma margem de lucro maior.

O FIM DAS VENDAS

Com os custos de material e produção aproximando-se de zero e os custos de transação seguindo o mesmo caminho, há menos lucros nas vendas.

Grandes empresas estão percebendo que os produtos concretos fornecem pequena margem de lucro. Com a produção barata, e os controles de qualidade tornando-se indistinguíveis, a única área onde há oportunidades para se ganhar dinheiro é o oferecimento de experiência aos clientes, na forma de serviços.

O fornecedor não vende nada ao cliente, em vez disso ele empresta seu capital intelectual e experiência para ajudar a dirigir o negócio do cliente.

DESFAZENDO-SE DOS BENS E COBRANDO PELOS SERVIÇOS

Um númeor crescente de empresas está doando seua produtos para atrair clientes e, então, cobrando deles pela administração, atualização e outros serviços.

O que está ocorrendo é a distribuição do produto e a cobrança dos clientes pelos sofisticados serviços que o acompanham.

CAPÍTULO 06: Transformando as Relações Humanas em Commodities

Imagine acordar um dia e descobrir que todos os aspectos de seu ser tornaram-se sujeitos à compra, que sua vida em si se tornou a melhor experiência de compra. A característica distintiva do capitalismo moderno é a expropriação de várias facetas da vida em relações comerciais.

Na economia ciberespacial emergente, as forças de rede deslocam todo o tempo livre remanescente para a órbita comercial, tornando cada instituição e indivíduo cativo de uma "comercialidade" disseminada. A transformação de bens e serviços em commodities torna-se secundária à transformação das relações humanas.

A Era do Acesso é definida, acima de tudo, pela crescente transformação em commodities de toda a experiência humana.

O sucesso da nova era será daqueles que forem capazes de fazer a transição de uma perspectiva de produção para uma perspectiva de marketing e da noção de fazer vendas para a de estabelecer relações. A meta de toda a empresa, na Era do Acesso, é estabelecer relações permanentes entre ela e seus clientes.

O CLIENTE É O MERCADO

Na Era do Acesso, com sua ênfase na venda de serviços especializados e no fornecimento de acesso a experiências de todos os tipos, o papel desempenhado pelos fornecedores muda marcantemente. "Estamos mudando de vendedores de livros para nos tornarmos conselheiros confiáveis".

Os consultores de marketing Peppers e Rogers afirmam: "na economia de rede, você não tentará vender um único produto ao máximo de clientes possível. Em vez disso, tentará vender a um único cliente o máximo de produtos possível, em um longo período de tempo, incluindo diferentes linhas de produção".

Especialistas de marketing usam a frase "lifetime value" (LVT- o valor ao longo da vida) onde o mais importante é transformar em commodity relações ao longo da vida com o cliente. Estima-se que o cliente médio "fiel" de um supermercado vale mais de $3.800 dólares por ano. A chave é encontrar o mecanismo apropriado para manter o cliente para a vida toda.

É possível determinar o LVT de uma pessoa com as novas tecnologias de informação e telecomunicações da economia de rede. As empresas recebem informações atualizadas continuamente sobre as compras dos clientes, com perfis detalhados sobre o estilo de vida dos mesmos.

Na nova economia de rede, vender o acesso aos padrões e às esperiências de vida diárias de alguém, refletindo em decisões de compra, torna-se um ativo intangível muito valorizado.

A MUDANÇA DE UMA PERSPECTIVA DE PRODUÇÃO PARA UM PERSPECTIVA DE MARKETING

A mudança na ênfase da manufatura e venda de produtos para o estabelecimento e manutenção de relações comerciais a longo prazo leva a perspectiva de marketing a assumir um papel relevante na vida comercial. A produção que reinava soberana na Era Industrial está sendo cada vez mais vista como uma função auxiliar de marketing.

Hoje, controlar o cliente assume o mesmo tipo de importância e urgência que controlar o que o trabalhador fazia quando a perspectiva de manufatura prevalecia. A idéia é fazer a totalidade da experiência de uma pessoa depender de agentes comerciais. Os agentes comerciais cuidam dos clientes.

Na Era do Acesso, os clientes estão perdendo lentamente o controle sobre cada decisão de consumo, à medida que decisões de curto prazo dão lugar as relações comerciais de longo prazo com intermediários confiáveis. O cliente se torna mobilizado e envolvido em uma densa rede de relações comerciais contínuas e pode ficar totalmente dependente das forças comerciais das quais ele entende pouco e tem cada vez menos controle.

Por exemplo, considere o planejamento financeiro. Muitas empresas de investimento que simplesmente negociavam ações e administravam os portfólios dos clientes começaram a ser provedoras de serviços plenos, integrando sistemas. A instituição financeira trata de todo o aspecto de transações financeiras do cliente durante a vida toda.

A Nike está praticamente sem propriedades, seu ativo básico é o acesso a clientes e sua capacidade de forjar relações comerciais de longo prazo com os usuários finais.

Por volta da década de 60, o mercado de consumo estava saturado, obrigando as empresas a captar e manter a atenção do consumidor por tempo suficiente para torná-lo um cliente fiel.

Um dos primeiros a captar o siginificado da mudança de uma perspectiva de produção para a perspectiva de marketing foi Peter Drucker, o pai das modernas práticas de administração de empresas. Ele escreveu:

"O cliente é a fundação de uma empresa e mantém a existência dela. Só ele gera emprego. E é para atender ao cliente que a sociedade confia recursos de produção de riquezas ao empreendimento de negócios... Por ser o seu objetivo criar um cliente, qualquer empreendimento de negócio tem duas – e apenas duas- funções básicas: marketing e inovação... O marketing é a função distintiva, exclusiva da empresa... É a empresa toda vista do ponto de vista do resultado final, ou seja, do ponto de vista do cliente. A preocupação e a responsabilidade pelo marketing devem, portanto, permear todas as áreas do empreendimento".

As empresas deveriam desenvolver seus planos de negócios começando do cliente e fazendo o movimento para trás, em vez de começar pela produção e seguir adiante.

Os consumidores informam cada vez mais os fornecedores de suas necessidades individuais, que são, então, produzidas de acordo com suas especificações. Isso marca a mudança que vem ocorrendo desde a década de 80, passando da produção de massa para a customização de massa.

Ser capaz de customizar bens para as necessidades e desejos de cada cliente dá às empresas uma enorme vantagem sobre a concorrência.

NOVOS TIPOS DE COMUNIDADES

Há uma consciência crescente entre o gerenciamento e os especialistas de marketing de que estabelecer as chamadas "comunidades de interesse" é a maneira mais efetiva de captar e manter a atenção do cliente e de criar relacionamentos para todo a vida. A empresa promove o relacionamento entre os clientes, basendo em seus interesses comuns nos produtos e serviços da empresa. Este vínculo é extremamente durável, para rompê-lo, os concorrentes devem desconsiderar os vínculos sociais entre amigos, colegas ou familiares.

Enquanto tem havido considerável desentendimento público nos anos recentes quanto à desregulamentação dos serviços e atividades do governo e sua subsequente absorção na esfera comercial, bem menos atençaõ tem sido focalizada para a absorção da esfera pessoal no mercado.

Quando as relações se tornam, em sua maior parte, relações comerciais e toda a vida do indivíduo é transformada em commodity 24 horas por dia, o que resta para os relacionamentos de natureza não-comerciais, relacionamentos baseados em parentesco, vizinhança, interesses culturais partilhados, afiliação religiosa, indentificação étnica e envolvimento fraterno cívico?

O que é mais preocupante é que esses esforços em larga escala para criar uma esfera social substituta inserida em um pacote comercial passarão na maior parte despercebidos e não criticados, apesar das amplas consequências potenciais para a sociedade. Quando praticamente todo o aspecto do nosso ser se torna uma atividade paga, a vida humana em si se torna o melhor produto comercial, e a esfera comercial se torna o árbitro final de nossa existência pessoal e coletiva.


CAPÍTULO 07: O Acesso Como um Modo de Vida

Estamos preparando uma nova fase do capitalismo, outros ícones comerciais estão emergindo para uma nova era na história.

Hoje, para onde olhamos, o acesso está se tornando a medida das relações sociais. Ao contrário da noção anterior de propriedade privada, o acesso deslizou para o corpo político e se aninhou praticamente em cada escaninho da vida pública e privada, com pouca discussão.

A mudança da posse para o acesso muitas vezes é gradativa . A transformação às vezes é tão sutil que passa praticamente despercebida e se torna evidente apenas quando vista em retrospecto. A mudança nas formas de moradia nos últimos 25 anos é um bom exemplo.

A moradia nos EUA, e em outros países também, está se renovando conceitualmente. Sua nova configuração está começando a refletir as percepções de uma Era de Acesso.

COMUNIDADES FECHADAS

As comunidades residenciais chamadas “urbanizações de interesses comuns” estão se tornando rapidamente a norma na maioria das formas de habitação. 12% da população norte-americana, atualmente residem em uma das 150 mil comunidades.

As comunidades fechadas partilham inúmeros aspectos que as distinguem de outros tipo de habitação, incluindo a posse comum de alguma propriedade e a participação obrigatória de uma associação dos proprietários de casas. Os residentes de comunidades tem suas unidades a partilham a posse de áreas comuns incluindo parques, gramados, ruas, estacionamentos, piscinas, quadras de tênis e centros de lazer. Se as comunidades são condomínios ou cooperativas, então os residentes possuem coletivamente toda a edificação e cada indivíduo possui apenas o espaço aéreo dentro de cada unidade. Cada proprietário de casa pertence a associação de membros da comunidade e deve pagar cotas mensais ou anuais para a sua administração e manutenção. Novamente, como está como está se tornando cada vez mais o caso de outras atividades comerciais, ser sócio e pagar cotas são componentes fundamentais dessa nova forma de viver baseada nas relações de bloqueio da entrada de acesso.

A contrário das comunidades convencionais, as comunidades fechadas são espaços para se viver totalmente transformados em commodity. Os espaços públicos e a propriedade pública não existem.

As comunidades fechadas vendem uma forma de vida, em vez de vender apenas uma casa. Comprar uma casa é apenas o ingresso para ganhar acesso a um estilo de vida preconcebido.

As cidades planejadas são grandes projetos de urbanização que criam uma comunidade inteira de uma só vez. Elas tem escolas, escritórios comerciais, shopping center, parques e outras comodidades que se poderia encontrar em uma cidade tradicional, exeto que nelas tudo é uma experiência transformada em commodity. Os relacionamentos são estruturados comercialmente. Não há vida pública no sentido que conhecemos. Embora haja direção e até direitos de voto, a franquia é baseada em vínculos comerciais, e não na cidadania.

Muita gente prefere viver em comunidades devido as conveniências e serviços que elas oferecem, entretanto, as experiências de vida das pessoas muitas vezes são transformadas em commodity à custa de seus direitos de propriedade.

Em Rancho Bernardo, uma comunidade de aproximadamente 33 mil residentes ao nore de San Diego, a lista de sujeições é longa e às vezes absurda.

“Mesmo as hortas são vistas com ressalvas... Cercas, cercas-vivas ou muros... não podem ter mais de um metro de altura. Placas que não sejam de imóveis à venda são proíbidas. As árvores devem ser mantidas podadas e não podem crescer acima do nível do teto,e os telhados devem ser de telhas vermelhas. Os residentes não podem estacionar trailers ou barcos na entrada para a garagem, uma área de estacionamento comum especial é reservada para eles. Uma vila destinada aos senhores, proíbe os netos de usar o centro de lazer, e a visita de crianças às casas é estrtamente limitada.”

A maioria dos residentes de comunidades diz que está disposto a abrir mão de alguns direitos de propriedade em troca de acesso a pessoas que pensam da mesma forma, que compartilham valores, sentimentos e estilos de vida comum.

No caso de comunidades fechadas, onde todo metro quadrado de espaço faz parte de um arranjo comercial, o que acontece com a noção de espaço público e com os direitos básicos garantidos pela constituição de se reunir e de se expressar livremente? Como as comunidades são domínios privados, suas diretorias alegam que tem a liberdade para dispensar a Primeira Emenda, que garante livre acesso.

Os sócios de uma comunidade fechada podem ter concordado com cláusulas restritivas que limitam o acesso a suas vidas, vizinhanças e comunidades, mas aqueles que não são sócios não concordam.”Onde tais comunidades são as formas dominantes de vida residencial, pontos de vista menos populares ou menos financiados correm o risco de ser ouvidos raramente, se o forem.”

O crescimento fenomenal das comunidades fechadas nos últimos 25 anos demonstra claramente a mudança na maneira de pensar que deu prioridade aos valores comerciais e afastou os valores cívicos da vida humana.

Para um número crescente de norte-americanos, o fato de a comunidade agora ser um produto que podemos comprar em vez de algo que criamos para nós mesmos sugere como os valores do mercado penetram profundamente na vida doméstiva norte-americana.

ALUGANDO UM ESTILO DE VIDA

O mercado de aluguéis de apartamento, que durante muito tempo foi dominado pelas famílias de renda baixa, de pessoas solteiras e de jovens casais que ainda não tinham meios para comprar sua primeira casa, está mudando de caráter e atraindo cada vez mais os novos interesses de uma geração em ascensão social que valoriza mais o acesso a curto prazo aos serviços, comodidades e experiências e que está menos disposta a arcar com o peso de responsabilidades que acompanham a posse de uma casa própria.

Os desenvolvedores de apartamentos tem como alvo aqueles que “privilegiam o estilo de vida”, dando maior importância aos serviços.

Embora ter um imóvel ainda seja atraente, o futuro provavelmene verá uma mudança lenta e contínua em direção aos aluguéis, à medida que um número maior de jovens norte-americanos acomodar formas de vida de acordo com as forças que estão movendo o resto da sociedade para a Era do Acesso

COMUNIDADES DE TEMPO COMPARTILHADO

A noção de casa das pessoas, que sempre foi fundado no espaço físico e na identificação espacial, está cedendo lugar a uma nova noção de uma forma de vida como algo transitório, de curto prazo.

O “time-share” (direito de uso de um imóvel por um certo período) está revolucionando o próprio conceito de imóvel em todo o mundo. O “time-share” é uma alternativa para usar uma segunda casa ou casa de férias, a vantagem é que não há preocupação com a manutenção e nem investimento do capital financeiro.

O número de pessoas com “time-share” deve crescer de 4 milhões para 11 milhões até o ano 2010.

O maior desafio desse tipo de negócio é convencer os ricos de que comprar uma participação de um resort é preferível a ter uma segunda casa, um símbolo tradicional de status.


CAPÍTULO 8: A Nova Cultura do Capitalismo

Na maior parte do século XX uma nova forma de capitalismo tem estado em lenta gestação e só agora está prestes a superar o capitalismo industrial. Depois de centenas de anos convertendo os recursos materiais em bens adquiridos, agora estamos transformando cada vez mais os recursos culturais em experiências e entretenimentos pagos.

Estamos entrando em uma nova era de tecnologias de comunicação digitais e do comércio cultural. Os dois juntos criam um novo e poderoso paradigma econômico. A cultura está sendo arrastada para o âmbito econômico, graças ao domínio que as novas tecnologias de comunicação estão começando a ter na vida diária.

COMUNICAÇÃO E CULTURA

Se a cultura “são as redes de significado” que giram em torno dos seres humanos, então as comunicações, linguagem, arte, música, dança, filmes, são as ferramentas que os seres humanos usam para interpretar, reproduzir, manter e transformar essas redes de siginificado. Comunicações e cultura tornam-se uma expressão da outra. Assim sendo, quando todas as formas de comunicação se tornam commodities, então, a cultura, a matéria das comunicações, também se torna inevitalmente uma comodity.

A fala, a dança, o drama, rituais, músicas e as artes plásticas e visuais têm sido aspectos vitais, e mesmo necessários, da expreriência humana desde os primórdios. O que é diferente são os esforços incansáveis e bem-sucedidos para separar essas expressões elementares da criatividade humana de suas origens grupais e comunitárias, com a finalidade de vendê-las àquelas que podem pagar por elas.

A ASCENSÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL

No decorrer do século passado, os valores das esferas políticas e cultural foram sendo cada vez mais transformados em commodities e arrastados para a esfera econômica. As noções de participação democrática e de direitos individuais encontraram seu caminho até o mercado, onde predomina a soberania do consumo e dos direitos do consumidor.

Para milhões de norte-americanos, os direitos de comprar e adquirir tornaram-se expressões bem mais significativas da libertade pessoal que o exercício de voto.

O capitalismo está fazendo sua transição final para o capitalismo cultural plenamente desenvolvido, apropriando não só os significadores da vida cultural e das formas artísticas de comunicação que interpretam esses significadores, mas da experiência vivida também.

As indústrias da experiência, que incluem toda a gama de atividades culturais de viagens ao entretenimento, estão dominando a nova economia global. Os consumidores de hoje não se perguntam com frequência: “ O que eu quero ter que já não tenho?”, em vez disso perguntam: “O que eu quero vivenciar que ainda não vivenciei?”

“A indústria da experiência relaciona-se a comercialização do que faz o coração bater mais rápido”. Analista das tendências capitalistas.

“Na economia de experiência emergente, as empresa precisam perceber que fabricam lembranças, e não bens.”

A MAIS ANTIGA INDÚSTRIA CULTURAL

A expressão mais visível e poderosa da nova economia da experiência é o turismo global.

Viajar por prazer atualmente é a terceira maior despesa de uma família, depois de alimentação e manutenção da casa. O turismo representa mais de 11% do produto nacional bruto e, segundo as projeções, deverá dobrar para mais de 20% do PIB do mundo pelo ano 2008. Viagens e turismo agora respondem por 7,5% de todo o investimento de capital feito no mundo e é a maior commodity no comércio mundial de muitos países. Atualmente, mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo, 10% da força de trabalho global total, são empregadas pela indústria de viagens e turismo.

Embora os economistas continuem a pensar na economia global em termos de produção industrial, serviços tradicionais e bens de produção, o turismo está desafiando rapidamente essas categorias tradicionais.

Nos anos recentes, o turismo tornou-se muito mais parecido com o entretenimento comercial apresentado em um teatro do que com uma visita cultural. Embora muitas vezes promovidas como experiência de aprendizado, as viagens estão adotando uma natureza muito mais teatral. O objetivo é encantar e divertir, assim como educar e esclarecer, e se o ambiente local se prestar a experiência suficientemente evocativas e interessantes, então muitas vezes eles são fabricados para assegurar um experiência uniforme e previsível para todo o cliente.

O turismo e o entretenimento estão se fundindo em produções culturais que são mais uma simulação de experiência que um experiência autêntica em si.

Uma parte cada vez maior da esfera cultural global, suas maravilhas culturais, catedrais, museus, palácios, parques, rituais, festivais, está sendo desviada para o mercado, onde está sendo transformada em várias formas de produção cultural para o entretenimento e a edificação dos seres humanos mais ricos do mundo. O que antes era uma dádiva histórica dessas culturas transforma-se em meros suportes e cenários, panos de fundo, para representar experiência culturais pagas.

Embora o turismo traga dinheiro e emprego às comunidades e países de todo o mundo, os estudos mostram que pouco do dinheiro que entra vai para o povo do local.

O desenvolvimento sustentável(proteger a vida selvagem, conservar a biodiversidade, manter ecossistemas locais) é tão importante para a indústria do turismo quanto construir infra-estrutura.

A CULTURA DOS SHOPPINGS

Durante centenas de anos, o espaço público foi considerado como um espaço cultural do povo, o espaço aberto onde as pessoas se reúnem, compartilham experiências e se engajam em trocas culturais. Nesse cenário o mercado sempre foi uma atividade derivada. A atividade primária sempre foi a criação e manutenção do capital social, e não do capital de mercado.

Agora, em menos de 30 anos, o espaço público quase desapareceu, engolido por um novo conceito radical na agregação humana galgada nas relações comerciais.

Hoje, as atividades culturais no espaço público tem sido absorvidas por shopping centers fechados e tornaram-se uma commodity à venda.

O maior centro de compras dos EUA atrai mais visitantes por ano que a Disney World e o Grand Canyon juntos. O Ministério do Comércio dos EUA relata que 85% dos turistas internacionais citam o shopping como sua atividade turística número um enquanto estão nos Estados Unidos.

Os shoppings estão se tornando lugares onde se pode comprar acesso a experiências vividas de todo o tipo, como por exemplo, ver um show, fazer exames médicos, praticar exercícios, ver um festival...

Mais da metade das vendas de varejo são geradas dentro desses estabelecimentos. O que é ainda mais importante é o fato de esses serem lugares onde a maioria das pessoas passa grande parte de suas horas de lazer.

Evidentemente, a diferença mais importante entre o espaço público e os shoppings é que os shoppings são domínios privados com regras e normas que controlam o acesso. Embora seus corredores, bancos e espaços abertos, contornados por árvores, dêem aos shoppings a aparência de esfera pública, não são. A atividade cultural que acontece neles nunca é um fim em si mesmo, mas sempre instrumental à missão central da compra de bens e entretenimento.

O americano visita um shopping a cada dez dias e gasta uma hora e 15 minutos lá, em média. A razão mais comumente mencionada para fazer essas peregrinações nos finais de semana é o entretenimento.

Em uma Era de Acesso, os megashoppings e os centros temáticos de diversão são os portões de entrada para uma nova cultura comercializada. O acesso a esses domínios se torna uma questão social cada vez mais importante.

“As áreas do Tyson Center usadas pelo público não são vias públicas, mas são para o uso dos inquilinos e do público que compra deles. A permissão para uso dessas áreas pode ser revogada a qualquer momento.”

Esses tipos de questões de acesso provavelmente dominarão a agenda política no século XXI à medida que a sociedade luta com a questão de quem deve ser incluído e quem deve ser excluído da economia cultural.