As Conexões Ocultas - Ciência para uma vida sustentável

                    

Fritjof Capra

 

Obra: CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas - Ciência para uma vida sustentável. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Cultrix, 2002.

 

Diagrama original

 

Apresentação do livro (contracapa)

 

“As últimas descobertas científicas mostram que todas as formas de vida – desde as células mais primitivas até as sociedades humanas, suas empresas e Estados nacionais, até mesmo sua economia global – organizam-se segundo o mesmo padrão e os mesmos princípios básicos: o padrão de redes, com unidades e sistemas interconectados.  Em As Conexões Ocultas, Fritjof Capra desenvolve uma compreensão sistêmica e unificada que integra as dimensões biológicas, cognitivas e sociais da vida e demonstra claramente que a vida, em todos os seus níveis, é inextricavelmente interligada por redes complexas.

 No decorrer deste novo século, dois fenômenos específicos terão um efeito decisivo sobre o futuro da humanidade. Ambos se desenvolvem em rede e ambos estão ligados a uma tecnologia radicalmente nova. O primeiro é a ascensão do capitalismo global, composto de redes eletrônicas de fluxos de finanças e de informação; o outro é a criação de comunidades sustentáveis baseadas na alfabetização ecológica e na prática do projeto ecológico, compostas de redes ecológicas de fluxos de energia e matéria.

 A meta da economia global é a de elevar ao máximo a riqueza e o poder de suas elites; a do projeto ecológico, a de elevar ao máximo a sustentabilidade da teia da vida. Atualmente, esses dois movimentos encontram-se em rota de colisão: ao passo que cada um dos elementos de um sistema vivo contribui para a sustentabilidade do todo, o capitalismo global baseia-se no princípio de que ganhar dinheiro deve ter precedência sobre todos os outros valores. Com isso, criam-se grandes exércitos de excluídos e gera-se um ambiente econômico, social e cultural que não apóia a vida, mas a degrada, tanto no sentido social quanto no sentido ecológico.

 O grande desafio que se apresenta ao século XXI é o de promover a mudança do sistema de valores que atualmente determina a economia global e chegar-se a um sistema compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. Capra demonstra, de modo conclusivo, que os seres humanos estão, de forma  inextricável, ligados à teia da vida em nosso planeta e mostra quão imperiosa é a necessidade de re-organizarmos o mundo segundo um conjunto de crenças e valores diferente (que não tenha o acúmulo de dinheiro por único sustentáculo) e isso não só para o bem-estar das organizações humanas, mas para a sobrevivência e sustentabilidade da humanidade como um todo”.

 

 

Ficha de Leitura - Resumo

 

 

Parte Um – Vida, Mente e Sociedade

 

 

CAPÍTULO 1 - A NATUREZA DA VIDA

 

O autor parte da pergunta “o que é a vida?” e restringe sua análise ao fenômeno puramente biológico, podendo assim reformular sua pergunta para “quais são as características que definem os sistemas vivos?”.(p.21)

A partir disso, busca “apresentar a nova estrutura unificada para a compreensão dos fenômenos biológicos e sociais”.(p.21)

 

A primordialidade das células

 

A célula é posta como uma característica essencial da vida. Não há vida sem células. Fala-se sobre a evolução da vida a partir de uma célula bacteriana, trazendo a tona a simplicidade celular, que pode ser simplicidade interna (da bioquímica do ambiente interno do organismo) e simplicidade ecológica (o organismo impõe poucas exigências químicas ao ambiente externo, exigindo certa complexidade bioquímica interna).

 

A perspectiva ecológica

 

Para Morowitz a vida constitui um sistema ecológico formando ciclos proto-ecológicos e incluindo os sistemas químicos com os quais se relaciona. Essas relações de interdependência culminam com a Hipótese de Gaia.

Não existe nenhum organismo individual que viva em isolamento. Os animais dependem da fotossíntese das plantas para ter atendidas as suas necessidades energéticas; as plantas dependem do dióxido de carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado pelas bactérias em suas raízes; e todos juntos, vegetais, animais e microorganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições propícias à preservação da vida.” (p. 23)

 

 

A vida definida pelo DNA

 

O DNA é responsável pela auto-replicação da célula, característica essencial da vida, mas organismos mortos também podem conter DNA. Portanto, apenas as estruturas moleculares não bastam para definir a vida: deve-se também levar em consideração os processos metabólicos da célula.

 

As membranas - Os fundamentos da identidade celular

 

"A célula jamais poderia perdurar enquanto entidade distinta sem uma barreira física que impedisse a livre difusão. A existência das membranas, portanto, é uma condição essencial da vida celular”.(p.25)

        

Autogeração

 

O metabolismo das células promove vários processos a fim de manter a sobrevivência desta, como a assimilação e substituição de componentes, em que as redes metabólicas criam e recriam a si mesmas (autogeração).

“A dinâmica da autogeração foi identificada como uma das características fundamentais da vida pelos biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela, que lhe deram o nome de “autopoiese” (p.27)

“...as reder vivas criam e recriam a si mesmas continuamente mediante a transformação ou a substituição dos seus componentes.” (CAPRA, 2002, p. 27)

            “Uma das primeiras intuições da teoria dos sistemas foi a percepção de que o padrão em rede é comum a todas as formas de vida. Onde quer que haja vida, há redes.” (CAPRA, 2002, p. 27)

 

A rede celular

 

"Uma das principais intuições da nova compreensão de o que seja a vida foi a de que as formas e funções biológicas não são simplesmente determinadas por uma ‘matriz genética’ , mas são, isto sim, propriedades que nascem espontaneamente da rede epigenética inteira." (p.29)

 

O surgimento de uma nova ordem

 

A teoria das estruturas dissipativas de Prigogine afirma que a interação entre uma estrutura ou um sistema aberto com o fluxo de mudança de seus componentes resulta no surgimento espontâneo de novas formas de ordem. Este surgimento espontâneo tornou-se importante para a compressão da vida e passou a ser chamado de auto-organização.

“Os sistemas vivos são fechados no que diz respeito à sua organização - são redes autopoiéticas -, mas abertos do ponto de vista material energético. Para se manter vivos, precisam alimentar-se de um fluxo contínuo de matéria e energia assimiladas do ambiente. De modo inverso, as células, como todos os organismos vivos, produzem dejetos continuamente, e esse fluxo de matéria - alimento e excreção - estabelece o lugar que elas ocupam na teia alimentar.” (p.30)

“(...), a criatividade - a geração de formas novas - é uma propriedade fundamental de todos os seres vivos. E, uma vez que o surgimento dessas novas formas é também um aspecto essencial da dinâmica dos sistemas abertos, chegamos à importante conclusão de que os sistemas abertos desenvolvem-se e evoluem. a vida dilata-se constantemente na direção da novidade.” (p.31)

 

 

A evolução pré-biótica

 

"As estruturas dissipativas (...) não são necessariamente sistemas vivos; mas, como o surgimento [de novas formas de organização] é uma parte essencial da sua dinâmica, todas as estruturas dissipativas têm o potencial de evoluir. Em outras palavras, existe uma evolução 'pré-biótica' - uma evolução da matéria inanimada que deve ter começado algum tempo antes do surgimento das primeiras células vivas”. (p.32)

 

A vida em sua forma mínima

 

Entre biólogos e bioquímicos predomina a idéia de que "a origem da vida na Terra resultou de uma seqüência de acontecimentos químicos, sujeitos às leis da física e da química e à dinâmica não-linear dos sistemas complexos". (p.34)

 

Os elementos da vida

 

Acredita-se que os elementos básicos que deram origem à vida são o carbono(C), nitrogênio(N), oxigênio(O) e o hidrogênio(H), com a participação algumas vezes do fósforo(P) e do enxofre(S)

 

Bolhinhas da vida mínima

 

"As vesículas [bolhas de vida mínima] são sistemas abertos, sujeitos a um fluxo contínuo de matéria e energia, ao passo que o interior delas é um espaço relativamente fechado em que há grande probabilidade de desenvolverem-se redes de reações químicas." (p.38)

 

As membranas

 

"As vesículas lipídicas (...) são as estruturas que maior probabilidade têm de ter sido as protocélulas a partir das quais evoluíram as primeiras células vivas. (...) são estruturas que se formam espontaneamente segundo as leis básicas da física e da química”.(p.39)

 

A recriação de protocélulas em laboratório

 

"As vesículas auto-replicantes produzidas em seu laboratório são sistemas autopoiéticos mínimos nos quais reações químicas ocorrem dentro de um limite fechado e feito a partir dos próprios produtos dessas reações" (p.41)

 

Os catalisadores e a complexidade

 

"Os catalisadores aumentam a velocidade das reações químicas sem sofrer transformações nesse processo, e tornam possível a ocorrência de certas reações que, sem eles, não aconteceriam. As reações de catálise são processos importantíssimos e essenciais para a química da vida."(p.42)

"Com o aparecimento dos catalisadores, a complexidade molecular aumentou rapidamente, porque os catalisadores criam redes químicas mediante a interligação de diversas reações." (p.43)

 

O desenvolvimento da vida

 

            Nesse ponto o autor defende a idéia de que o desenvolvimento da vida seguiu três caminhos: 1. mutações genéticas aleatórias; 2. trocas livres de material genético (feito por bactérias); 3 – simbiose.

 

“...a microbiologia nos dá uma lição de humildade: as tecnologias de engenharia genética e de uma rede global de comunicação, propaladas como avanços exclusivos da civilização moderna, já têm sido usadas desde há bilhões de anos pela rede planetária de bactérias.” (CAPRA, 2002, p. 45)

 

O que é a vida?

 

A célula é "...uma rede metabólica limitada por uma membrana, autogeradora e fechada no que diz respeito à sua organização"(p.47)

 

CAPÍTULO 2 - MENTE E CONSCIÊNCIA

 

 

A teoria da cognição de Santiago

 

“A idéia central da teoria de Santiago é a identificação da cognição, o processo de conhecimento, com o processo do viver”(p.50)

"Na teoria de Santiago, a cognição está intimamente ligada à autopoiese, a autogeração das redes vivas. O sistema autopoiético é definido pelo fato de sofrer as mudanças estruturais contínuas ao mesmo tempo  que conserva o seu padrão de organização em teia." (p.50)

“A caracterização cartesiana da mente como “coisa pensante” é abandonada. A mente não é uma coisa, mas um processo de cognição, identificado com o processo de viver”(p.51), onde o cérebro é o local onde o processo ocorre.

            “O ambiente só faz desencadear as mudanças estruturais; não as 
especifica  nem as dirige.” (CAPRA, 2002, p. 51)

“... o sistema que se liga ao ambiente através de um vínculo estrutural é um sistema que aprende.” (CAPRA, 2002, p. 51)

“A estrutura viva é sempre um registro dos desenvolvimentos já ocorridos.” (CAPRA, 2002, p. 51)

 

Cognição e consciência

 

"A consciência - ou seja, a experiência vivida e consciente - se manifesta em certos graus de complexidade cognitiva que exigem a existência de um cérebro e de um sistema nervoso superior. Em outras palavras, a consciência é um tipo especial de processo cognitivo que surge quando a cognição alcança um certo nível de complexidade." (p.54)

            “... com a evolução da linguagem, surgiu não só o mundo interior dos conceitos e das idéias como também o mundo social da cultura e dos relacionamentos organizados.” (CAPRA, 2002, p. 55)

 

A natureza da experiência consciente

 

"A experiência consciente é um fenômeno que surge espontaneamente (emergent phenomenon), ou seja, não pode ser explicado somente em função dos mecanismos neuronais. A experiência nasce da dinâmica não-linear complexa das redes neurais, e só poderá ser explicada se a nossa compreensão da neurobiologia for combinada a uma compreensão dessa dinâmica." (p.56)

 

As escolas de estudo da consciência

 

A corrente tradicional, neurorreducionista de Churchland e Crick, que foi chamada assim por Francisco Varela, reduz a consciência a atividade nervosa. "A consciência se reduz à ativação dos neurônios”(p.59), mas a consciencia emerge do cérebro como um todo.

A corrente funcionalista defende uma ““organização funcional”, ou seja, por padrões de relações causais no sistema nervoso." (p.59)

A corrente filosófica do chamado misterianismo afirma que a consciência é um mistério profundo e que devido às limitações humanos, é impossível conhecê-la.

Enfim, a neurofenomenologia que é o "método de estudo da consciência que combina em si o exame disciplinado das experiências subjetivas com a análise dos padrões e processos neurais correspondentes." (p.59)

 

A visão a partir do interior

 

"Todas as escolas...partilham a idéia básica de que a consciência é um processo cognitivo que surge espontaneamente a partir da atividade neural complexa" (p.63)

 

A consciência e o cérebro

 

A dimensão social da consciência

 

“Humberto Maturana foi um dos primeiros cientistas a estabelecer de maneira sistemática uma relação teórica entre a biologia da consciência humana e a linguagem”(p.67).

“Segundo Maturana, a comunicação não é uma transmissão de informação, mas antes uma coordenação de comportamentos entre organismos vivos através de uma acoplagem estrutural mútua.” (CAPRA, 2002, p. 67)

"Maturana deixa bem claro que o fenômeno da linguagem não ocorre no cérebro, mas num fluxo contínuo de coordenações de coordenações de comportamento. Ocorre, nas próprias palavras do Maturana, 'no fluxo de interações e relações de convivência'." (p.68)

            “... a autoconsciência surge com a observação do próprio observador, quando usamos a noção de um objeto e os conceitos abstratos a ela associados 
para descrever a nós mesmos.” (CAPRA, 2002, p. 68)

 

Conversas com chimpanzés

 

"A teoria da consciência de Maturana estabelece uma série de vínculos cruciais entre a autoconsciência, o pensamento conceitual e a linguagem simbólica."(p.68)

"A continuidade entre os seres humanos e os chimpanzés não se restringe à anatomia, mas abarca também as características sociais e culturais. Como nós, os chimpanzés são seres sociais" (p.69)

 

As origens da linguagem humana

 

            “O surgimento de palavras vocalizadas como meio de comunicação deu imediatamente certas vantagens a nossos ancestrais. Os que se comunicavam vocalmente podiam faze-lo quando estavam com as mãos ocupadas ou quando o receptor da comunicação estava de costas”(p.74)

 

A mente encarnada

 

"Os estudos recentes empreendidos no novo campo da 'lingüística cognitiva' nos fornecem fortes indícios de que a razão humana, ao contrário da crença de boa parte dos filósofos ocidentais, não transcende o corpo, mas é fundamentalmente determinada e formada por nossa natureza física e nossas experiências corpóreas."(p.74)

 
            “... a maior parte dos nossos pensamentos são inconscientes e operam 
num nível inacessível para a atenção consciente normal.” (CAPRA, 2002, p. 
74-75).
            “... o inconsciente cognitivo molda e estrutura todo o nosso pensamento consciente.” (CAPRA, 2002, p. 75)

“Nosso pensamento e linguagem contém centenas de metáforas primarias, a maioria das quais nós usamos sem ter consciência delas; e, uma vez que se originam das experiências corpóreas mais básicas... tendem a ser as mesmas na maioria das línguas”(p.77)

 

A natureza humana

 

Existem apenas graus diferentes entre a vida cognitiva e emocional dos seres humanos e dos animais.

"A mente é intrinsicamente encarnada. O pensamento é, em sua maior parte, incosciente. Os conceitos abstratos são, em grande medida, metafóricos." (CAPRA, 2002, P. 78)

"...a razão não é uma essência que nos separa dos outros animais, antes, coloca-nos no mesmo nível deles." (CAPRA, 2002, P. 79)

 

A dimensão espiritual

 

            “A experiência espiritual é uma experiência de que a mente e o corpo estão vivos numa unidade. Além disso, essa experiência da unidade transcende não só a separação entre mente e corpo, mas também a separação entre o eu e o mundo. A consciência dominante nesses momentos espirituais  é um reconhecimento profundo da nossa unidade com todas as coisas, uma percepção de que pertencemos ao universo como um todo.” (p.81)

 

CAPÍTULO 3 - A REALIDADE SOCIAL

 

Três idéias sobre a vida

 

Três idéias sobre a vida: "O padrão de organização de um sistema vivo como a configuração das relações entre os componentes do sistema; configuração esta que determina as características essenciais do sistema; a estrutura do sistema como a incorporação material desse padrão de organização; e o processo vital como o processo contínuo dessa incorporação."(p.83) Capra preparou essa síntese para que fosse aplicada também no domínio social (a partir deste capítulo)

 

O significado - a quarta perspectiva

 

Quarta perspectiva: "A linguagem humana, por ser de natureza simbólica envolve antes de mais nada a comunicação de um significado, e que as ações humanas decorrem do significado que atribuímos ao ambiente que nos rodeia"(p.86)

 

A teoria social

 

Segundo a doutrina de Comte, no séc.XIX é muito importante a noção de “causalidade social”, ligando a teoria social à física e não a biologia.

Para Durkheim, “a plena explicação dos fenômenos sociais tinha de combinar as analises causais e funcionais, além disso, ele também fazia uma clara distinção entre funções e intenções”(p.88)

Parsons desenvolve a teoria geral das ações "partindo do princípio de que as ações humanas são ao mesmo tempo orientadas por um objetivo e constrangidas [pelas condições exteriores]."(p.89)

 

Giddens e habermas - duas teorias integradoras

 

"À semelhança de Giddens, Habermas diz que duas perspectivas diversas mas complementares são necessárias para a plena compreensão dos fenômenos sociais. A primeira perspectiva é a do sistema social, que corresponde ao estudo das instituições na teoria de Giddens; a outra é a perspectiva do 'mundo da vida', que corresponde, em GIddens, ao estudo da conduta humana."(p.91)

“Para Habermas, o sistema social está ligado ao modo pelo qual as estruturas sociais constrangem as ações dos indivíduos, está ligado, portanto, às questões de poder e, em específico as relações de classe que envolvem produção”(91).

 

A ampliação da hipótese sistêmica

 

Capra tenta integrar a teoria sistêmica de uma unidade vital ao domínio social.

“A aplicação da compreensão sistêmica da vida ao domínio social (...) identifica-se à aplicação do nosso conhecimento dos padrões e princípios básicos de organização da vida – e, em específico, da nossa compreensão das redes vivas – à realidade social”(p.93).

 

Redes de comunicação

 

Luhmann se preocupa em contextualizar a comunicação como elemento central das redes sociais e desenvolve uma teoria da 'autopoiese social' dizendo que embora os sistemas sociais sejam autopoiéticos, não são sistemas vivos. Capra prefere conceber “a autopoiese como uma das características específicas da vida”(p.94).

 

O significado, a intencionalidade e a liberdade humana

 

Os sistemas sociais são organizados a partir de redes autogeradoras, sendo que as redes sociais também geram estruturas materiais, mas a construção dessas estruturas vai alem das que ocorrem nas redes biológicas pois contem algum significado, uma intencionalidade que é inerente a liberdade humana.

"Os organismos vivos são dotados da capacidade de auto-organização, o que significa que seu comportamento não é imposto pelo ambiente, mas estabelecido pelo próprio sistema" (p.97)

 

A dinâmica da cultura

 

            "Nossa capacidade de formar imagens mentais e associá-las ao futuro não só nos permite identificar metas e objetivos e desenvolver estratégias e planos como também nos habilita a escolher entre diversas alternativas e, assim, formular valores e regras sociais de comportamento." (CAPRA, 2002, P. 97)

Nossos valores e regras comportamentais são fenômenos sociais que advêm de redes criadas pela comunicação humana. “É da dinâmica e da complexa interdependência desses processos que nasce (emerges) o sistema integrado de valores, crenças e regras de conduta que associamos ao fenômeno da cultura”(p.97). "A cultura nasce de uma dinâmica complexa e altamente não-linear"(p.98).

"..., as estruturas sociais ou regras de comportamento que delimitam as ações dos indivíduos são produzidas e continuamente reforçadas pela própria rede de comunicações deles." (CAPRA, 2002, P. 98)

"... os limites sociais não são necessariamente limites físicos, mas limites feitos de significado e exigências." (CAPRA, 2002, P. 99)

 

A origem do poder

 

O exercício do poder é essencial nas relações humanas pois é ele quem resolve os problemas ocasionados pelos conflitos de interesses: "o poder desempenha papel de destaque no surgimento das estruturas sociais"(p.101)

Três tipos de exercício de poder: “O poder coercivo ou coativo garante a submissão pela imposição de sanções, efetivas ou só enquanto ameaças; o poder compensatório, pelo oferecimento de incentivos ou recompensas; e o poder condicionado, pela mudança de crenças mediante a persuasão ou a educação. A arte da política está em encontrar a medida certa de cada um desses três tipos de poder em vista de resolver conflitos e promover o equilíbrio entre os interesses opostos.”(p.100)

 

A estrutura nos sistemas biológicos e sociais

 

“As estruturas sociais são o conceito fundamenta da teoria social. Todas as outras coisas funcionam por meio das estruturas sociais”(p.102) As estruturas de significado como idéias, valores e crenças são chamadas de estruturas semânticas e atuam nas redes de comunicação da sociedade.

 

Tecnologia e cultura

 

 “A tecnologia é uma as características que definem a natureza humana”(p.104)

Existem aqueles que defendem a tecnologia como algo neutro que pode ser usado para ou para o mal dependendo de quem e como o utiliza, mas há ainda aqueles que acham que não, a tecnologia não é algo neutro pois nasce sempre voltada para um fim e está sempre influenciando a evolução e o comportamento humano.

 

CAPÍTULO 4

"Para construir uma sociedade sustentável para nossos filhos e as gerações futuras, temos de repensar desde a base uma boa parte das nossas tecnologias e instituições sociais, de modo a conseguir transpor o enorme abismo que se abriu entre os projetos humanos e os sistemas ecologicamente sustentáveis da natureza." (CAPRA, 2002, p. 110)

 

"Compreender a vida é compreender seus processos intrínsecos de mudança." (CAPRA, 2002, p. 112)

 

"... as empresas resistentes e longenvas são as que apresentam um comportamento e certas características semelhantes aos de entidades vivas." (CAPRA, 2002, p. 116)

 

"As redes informais de comunicação materializam-se nas pessoas mesmas que se dedicam à prática comum. Quando chegam pessoas novas, a rede inteira pode reconfigurar-se; quando as pessoas saem, a rede muda de novo, ou às vezes até deixa de existir. Já na organização formal, em contraposição, as funções e as relações de poder são mais importantes do que as pessoas, e permanecem por anos a fio enquanto as pessoas vêm e vão." (CAPRA, 2002, p. 121)

 

"Não é a intensidade ou a freqüência de uma mensagem que vai fazê-la ser ouvida por elas; é o fato de a mensagem ser ou não significativa para elas." (CAPRA, 2002, p. 123)

 

"... as organizações não podem ser controladas através de intervenções diretas, mas podem ser influenciadas através de impulsos, não de instruções." (CAPRA, 2002, p. 123)

 

"Quando as pessoas modificam as instruções que recebem, estão respondendo criativamente a uma perturbação, pois é nisso que reside a essência da vida." (CAPRA, 2002, p. 124)

 

"A geração constante de novidades - o 'avanço criativo da natureza', nas palavras do filósofo Alfred North Whitehead - é uma propriedade fundamental de todos os sistemas vivos." (CAPRA, 2002, p. 127)

 

"A abertura da organização a novos conceitos, novas tecnologias e novos conhecimentos é um indício da sua vida, da sua flexibilidade e da sua capacidade de aprendizado." (CAPRA, 2002, p. 128)

 

"..., O PRESSUPOSTO TELEOLÓGICO DE QUE OS FENÔMENOS NATURAIS TÊM CADA QUAL UM OBJETIVO INTRÍNSECO É UMA PROJEÇÃO HUMANA, POIS O TER UM OBJETIVO É UMA CARACTERÍSTICA DA CONSCIÊNCIA REFLEXIVA, QUE NÃO EXISTE INDISCRIMINADAMENTE NA NATUREZA." (CAPRA, 2002, p. 131)

 

"A capacidade de expressar uma visão em metáforas, de formulá-la de tal modo que seja compreendida e adotada por todos, é uma qualidade essencial da liderança." (CAPRA, 2002, p. 133)

 

"... a cultura que estimula o surgimento espontâneo de novidades tem de abarcar em si a liberdade de cometer erros." (CAPRA, 2002, p. 135)

 

"... ser criativo é ser capaz de permanecer tranqüilo em meio à incerteza e à confusão." (CAPRA, 2002, p. 137)

 

 

CAPÍTULO 5

 

"Apesar de uma paisagem social e cultural altamente diversificada, pela primeira vez na história o mundo inteiro está organizado em torno de um conjunto mais ou menos comum de regras econômicas." (CAPRA, 2002, p. 143)

 

"A história da evolução da Internet é fascinante, pois exemplifica do modo mais claro possível o contínuo intercâmbio entre planejamento engenhoso e o surgimento espontâneo de novas idéias que tem caracterizado a Revolução da Informática como um todo." (CAPRA, 2002, p. 146)

 

 

"... a atenção dos investidores deslocou-se dos lucros reais para o critério subjetivo e volátil do valor possível das ações." (CAPRA, 2002, p. 149)

 

"O chamado 'mercado global', á rigor, não é um mercado de forma alguma, mas uma rede de máquinas programadas para agir segundo um único valor - ganhar dinheiro por ganhar dinheiro - à exclusão de todos os outros." (CAPRA, 2002, p. 152)

 

"O capital é global, ao passo que o trabalho , via de regra, é local. Assim, capital e trabalho cada vez mais existem em espaços e tempos diferentes: o espaço virtual dos fluxos financeiros e o espaço real dos locais e regiões onde as pessoas trabalham; o tempo instantâneo das comunicações eletrônicas e o tempo biológico da vida cotidiana." (CAPRA, 2002, p. 153)

 

"A meta central da teoria e da prática econômicas atuais - a busca de um crescimento econômico contínuo e indiferenciado - é claramente insustentável, pois a expansão ilimitada num planeta finito só pode levar à catástrofe." (CAPRA, 2002, p. 157)

 

"A ascensão da sociedade em rede foi acompanhada pelo declínio do Estado nacional como entidade soberana." (CAPRA, 2002, p. 159)

 

 

 

"Uma vez que a cultura é criada e sustentada pelas redes de comunicação humanas, é inevitável que mude com a transformação dos seus modos de comunicação." (CAPRA, 2002, p. 163)

 

 

CAPÍTULO 6

 

"Quando o capitalismo global começou a crescer na década de 1990, sua mentalidade de atribuir valor supremo ao ganho de dinheiro envolveu a biotecnologia e, ao que parece, provocou o esquecimento de todas as considerações éticas..." (CAPRA, 2002, p. 171)

 

"Essas descobertas recentes mostram claramente que a estabilidade genética não é uma propriedade intrínseca da estrutura do DNA, mas uma propriedade emergente que resulta da dinâmica complexa de toda a rede celular." (CAPRA, 2002, p. 176)

 

"Há muitas décadas, os biólogos desenvolvimentistas concluíram desse fato que os tipos de células são diferentes não porque contêm genes diferentes, mas porque em cada um deles os genes ativados são diferentes." (CAPRA, 2002, p. 182)

 

"O medo de que a clonagem venha a violar a identidade singular de um indivíduo não tem fundamento." (CAPRA, 2002, p. 191)

 

"Tecnologias como estas [soja transgênica] aumentam a dependência dos agricultores em relação a produtos patenteados e protegidos por 'direitos de propriedade intelectual', que lançam na ilegalidade as antiqüíssimas práticas agrícolas de reproduzir , armazenar e trocar sementes." (CAPRA, 2002, p. 196)

 

"A própria vida tornou-se a suprema mercadoria." (CAPRA, 2002, p. 209)

 

 

CAPÍTULO 7

 

"... a forma atual de globalização econômica foi projetada conscientemente e pode ser modificada." (CAPRA, 2002, p. 221)

 

"Os valores da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica, acima delineados, constituem a base ética da remodelação da globalização, e uma notável coalização global de ONGs formou-se em torno desses valores." (CAPRA, 2002, p. 225)

 

"Uma empresa sustentável estaria inserida numa 'ecologia das empresas', na qual os subprodutos de uma empresa seriam os recursos de outra." (CAPRA, 2002, p. 242)

 

"Numa sociedade industrial sustentável, todos os produtos, materiais e resíduos serão nutrientes biológicos ou técnicos." (CAPRA, 2002, p. 248)

 

"... a economia de serviços e fluxo se apóia menos sobre o uso de recursos naturais, que são escassos, e mais sobre o uso de recursos humanos, que são abundantes." (CAPRA, 2002, p. 250)

 

"... a transição para uma sociedade sustentável implica uma transição do uso de combustíveis fósseis - as principais fontes de energia da Era Industrial - para o da energia solar." (CAPRA, 2002, p. 254)

 

 

Principais obras de Fritjof Capra

(Texto Diponível em <http://www.juventudefsm.org/noticias/FritjofCapra> em 08 de Abril de 2003)

1) O Tao da Física, de 1975, analisa as semelhanças entre os conceitos da Física Moderna e o Misticismo Oriental. Fritjof Capra mostra o que há em comum entre a física atômica e subatômica, a teoria da relatividade e a astrofísica com as tradições místicas orientais do Hinduísmo, Budismo, Taoísmo, do Zen e do I Ching. Já foi traduzido para 23 idiomas.

2) O Ponto de Mutação, de 1982, mostra como a revolução da Física moderna prenuncia uma revolução iminente em todas as ciências e uma transformação da nossa visão de mundo e dos nossos valores. O livro, já traduzido para 16 idiomas, virou filme em 1990 (MindWalk), dirigido por Bernt Capra (irmão de Fritjof), e interpretado por Liv Ullmann, Sam Waterston e John Heard. Uma cientista, um poeta e um político inspirado em Al Gore discutem Física Quântica, Ecologia e os novos paradigmas.

"Acredito que a visão de mundo sugerida pela Física Moderna seja incompatível com a nossa sociedade atual, a qual não reflete o harmonioso estado de inter-relacionamento que observamos na natureza. Para se alcançar tal estado de equilíbrio dinâmico, será necessária uma estrutura social e econômica radicalmente diferente: uma revolução cultural na verdadeira acepção da palavra. A sobrevivência de toda a nossa civilização pode depender de sermos ou não capazes de realizar tal mudança".

3) A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos, de 1996, retoma a visão de interligação ecológica de todos os eventos que ocorrem na Terra e da qual fazemos parte, de forma fundamental. O livro foi traduzido para sete idiomas.

"O novo paradigma que emerge atualmente pode ser descrito de várias maneiras. Pode-se chamá-lo de uma visão de mundo holística, que enfatiza mais o todo que as suas partes. Mas negligenciar as partes em favor do todo também é uma visão reducionista e, por isso mesmo, limitada. Pode-se também chamá-lo de visão de mundo ecológica, e este é o termo que eu prefiro. Uso aqui a expressão ecologia num sentido muito mais amplo e profundo do que aquele em que é usualmente empregado. A consciência ecológica, nesse sentido profundo, reconhecer a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das sociedades nos processos cíclicos da natureza. Essa percepção profundamente ecológica está agora emergindo em várias áreas de nossa sociedade, tanto dentro como fora da ciência."