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Por que somos um país tão corrupto





Paulo Queiroz*





Porque já as eleições dos “nossos” representantes são realizadas de modo a institucionalizar o crime, pois os grupos econômicos, ao bancarem a eleição de Presidente, Governadores, Prefeitos etc., assim o fazem, como é natural, sob a condição de obterem financiamentos graciosos ou de participarem de licitações de mentirinha, multiplicando lucros;



Porque num tal contexto, a política passa a constituir extraordinário atrativo para criminosos profissionais, em geral burocratas medíocres sem nenhuma perspectiva fora da política;



Porque alguns partidos políticos passam a funcionar, assim, como autênticas quadrilhas, cujos membros seguem a lógica do quem dá mais, por isso que trocam de legenda constantemente, impunemente;



Porque o sistema representativo é uma fraude que conta com a participação do próprio eleitor, que não raro exige, em troca do voto, algum proveito, de modo que o voto constitui, por isso, apenas um expediente para legitimar e perpetuar o crime, afinal os eleitos não representam o eleitorado, mas os seus próprios interesses e os interesses dos grupos econômicos que os patrocinam;



Porque somos um país de cordeiros e idiotas que assistimos a tudo isso passivamente;



Porque, apesar das fraudes, insistimos em perpetuar criminosos no poder;



Porque a Polícia, que deveria, junto ao Ministério Público, formar instituição única, está subordinada ao Poder Executivo, de sorte que são as raposas (Governadores, Prefeitos) que em última análise cuidam do galinheiro;



Porque criminosos políticos estão protegidos por um sem número de privilégios (foro privilegiado, imunidades etc.) que os tornam imunes às investigações;



Porque, dentro e fora da política, raríssimos são os exemplos de ética, de retidão de caráter;



Porque a corrupção política tem a cara da nossa hipocrisia, da nossa indiferença, da nossa tendência ao jeitinho, tem, portanto, a nossa própria cara, seja porque nossos políticos não vieram de marte, seja porque corrupção é interação/acordo entre corruptor e corrompido, entre eleitor e eleito;



Porque somos obrigados a votar, quando votar é um direito e não um dever, pois o eleitor tem, há de ter, a liberdade de votar em quem quiser, quando e se quiser, consciente e livremente;



O Brasil é, enfim, um país corrupto, simplesmente porque está estruturado para sê-lo!





*Professor do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Procurador Regional da República, autor do livro Direito Penal, Parte Geral, Saraiva, 2005.





Disponível em: <http://jusvi.com/>. Acesso em: 8 jun. 2006.