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BRASIL: o país dos
"doutores"
Alexsandro
Rahbani Aragão Feijó
Acadêmico de Direito do 6º período
da Universidade Federal do Maranhão
Quem nunca ouviu frases como estas: " é por aqui doutor!", "doutor
X, telefone pro senhor!", "pode deixar doutor, eu guardo pro
senhor", "doutora, eu estou me sentindo muito mal". Tais
expressões são diariamente faladas por todos nós, sem percebermos que damos um
título a alguém. Diante dessa situação, pergunta-se: a que se deve isto?
A princípio, poderíamos dizer que se trata de um problema cultural em nosso
país, visto que tais expressões são comuns entre as pessoas de menor grau de
instrução, em sua maioria de menor poder econômico, quando se referem à pessoas
formadas ou com poder aquisitivo maior. Geralmente, médicos, políticos,
advogados, seus chefes imediatos, etc.
Desta forma, tudo em nosso país é um "doutorado" só!! É doutor pra
cá, é doutor pra lá. Quando nos damos o trabalho de verificar a quem chamamos de
doutor, levamos um grande susto!! Quando estes são formados, o que é muito
difícil, o que não lhes dá motivo para o título, um número ínfimo possuem
verdadeiramente um doutorado.
É bom ressaltar que nossa crítica é tecida para o correto uso do título, ou
seja, dando àqueles que o têm por direito, além de incentivarmos a segunda
perna do lema das universidades: a pesquisa.
Dentro do nosso curso a situação se agrava mais ainda, pois, além do
formalismo jurídico que herdamos e carregamos, ainda temos aqueles que usam do
exagero quando tratam de pessoas que compõem o corpus do Judiciário
(juízes, promotores ou desembargadores).
Imaginemos a conversa de dois recém-formados advogados com pouca bagagem
prática e formação quase microscópica, uns "pebas" como diria um
célebre professor-enólogo de nossa Instituição Educacional. Adverte-se que esta
situação é hipotética, devido, em nosso curso, isto não ocorrer!
1º advogado: "Olha, lá vai o juiz Y!".
2º advogado: "Que juiz Y! Não sabes nem falar direito! O correto é Dr.
Juiz!!".
1º advogado: "Acho melhor sermos mais pomposos, o Direito exige pompa!!
Vamos chamá-lo de excelentíssimo senhor doutor juiz!!".
2º advogado: "É! Tem mais nome do que gente, mas tudo bem!?".
Outro fato interessante, é o anseio incontrolável de nossos pais e avós de
nos verem "doutores". Quando a simples graduação ocorre no prazo
previsto, se ocorrer, enchem-se de orgulho, estufam o peito e dizem que seu
filho, sua filha ou seu neto, neta são doutores!!! Estes são os menos culpados desse
drama cultural de nosso Brasil.
Através do humor procuramos apresentar este problema quase intransponível,
tendo como arrimo e esperança que em outros países, como a França, por exemplo,
isto não existe. Lá, nem mesmo os médicos recebem o título sem, obviamente,
terem feito a defesa de tese no curso de doutorado.
Portanto, é na defesa destes "profissionais-alunos", que procuram
aprofundar dia-a-dia os seus estudos, sendo mais úteis à sociedade que investiu
neles desde a universidade e fazendo jus ao título recebido, o que, en
passan, no curso de Direito é raro, devendo ser incentivado, que
lançamos a campanha nacional do uso do senhor, senhora e outros pronomes de
tratamento afins, para que possamos tirar do nosso Brasil o horrível
"título" de país dos "doutores".
Retirado de: http://members.tripod.com/CAIM/artigos