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José Jivaldo Lima

joselima@genetic.com.br


Aqui uma contribuição para aqueles que vêem que a Psicologia não esgota o assunto da realidade do conhecimento humano em todo o seu processo gnosiológico:




"Síntese do Processo Psicológico do Conhecimento Humano"



É de grande auxílio para uma melhor compreensão do nosso conhecimento, a exposição do processo psicológico, do funcionamento das nossas faculdades cognitivas, na aquisição dos nossos conhecimentos. Por isso, sem entrar em uma exposição minuciosa, objeto dos tratados de Psicologia, damos aqui uma breve síntese dessa gênese.

Propriamente falando é o homem, a pessoa, quem conhece por meio das suas faculdades. Essas faculdades, embora distintas entre si, não são separadas como seres independentes, mas são simples qualidades e poderes de agir, unidas em uma única e mesma alma da qual resultam. Por conseguinte a atividade de uma faculdade não se dará sem relação e repercussão nas outras, concorrendo todas, conforme a sua natureza e capacidade, para uma única finalidade que é o conhecimento humano; nem se deve imaginar uma como que distância que deva ser transporta para explicar esta união e interdependência. Para adquirir este conhecimento o homem dispõe dos sentidos externos e dos sentidos internos e da Inteligência. Todas estas faculdades são qualidades que aperfeiçoam a substância humana; são poderes de agir, potências ativas, que no início da nossa existência são, na ordem do conhecimento, puras potências, tabulas rasas onde ainda nada foi escrito: pois ao nascer não temos nenhum conhecimento. Deverão pois passar do poder conhecer para o conhecer de fato. E como o manifesta a experiência, o nosso conhecimento intelectual tem a sua origem no conhecimento sensível.

O Ato do Conhecimento em Geral

Se interrogarmos a consciência, única testemunha dos nossos atos psicológicos, o ato do conhecimento se apresenta desde a primeira reflexão como:

a) uma operação vital imanente, isto é, que permanece em quem a faz e o aperfeiçoa;

b) operação que diz respeito a um objeto (ob-jectum = algo colocado diante) atingido pelo conhecedor, sem que com isso este objeto e este conhecedor deixem de permanecer em si mesmos o que são;

c) operação intrinsecamente determinada e especificada por este objeto que age sobre o conhecedor impondo-se, mostrando-se, revelando-se a ele, estando por conseguinte presente de um modo vital no conhecedor.

É este fato de consciência que devemos analisar procurando explicar-lhe o mecanismo à luz das leis gerais causalidade.

Análise do Ato do Conhecimento:

1 — Como ao nascer o homem não possui nenhum conhecimento atual, na ordem do conhecimento ele é ainda pura potência. Ele possui, sim, faculdades e sentidos, mas elas de si são indiferentes e indeterminadas para conhecer estes ou aqueles objetos. Devem, pois, primeiro receber uma determinação porque de uma faculdade indeterminada não pode sair um efeito já determinado e especificado: os olhos podem ver qualquer superfície colorida, mas sem algum influxo que lhes venha do exterior não poderão ver determinadamente esta ou aquela superfície colorida. Ora, o que determina e especifica o conhecimento é o objeto. Logo, é preciso que um objeto venha determinar as faculdades.

2 — Evidentemente ele não faz isso entrando, ele mesmo, na faculdade com sua materialidade física: o monte visto não se desloca para vir entrar nos olhos, mas fica onde está. Logo o objeto deve unir-se à faculdade por meio de uma ação sua nela.

3 — Pode bastar a simples presença? Evidentemente que não, pois a presença é algo de extrínseco à faculdade, de onde ela não ficaria ainda intrinsecamente determinada.

4 — Deve, pois, ser uma operação transeunte, um influxo do objeto que através do meio ambiente chegue a impressionar a faculdade: o termo da operação transeunte do agente (aqui, o objeto) se encontra no paciente (aqui, a faculdade), como o termo da ação do fogo se encontra na água que se tornou aquecida.

5 — Considerada na sua entidade, esta impressão recebida é uma forma acidental que aperfeiçoa a faculdade. Na sua causa, isto é, no objeto sensível, ela é inteiramente corpórea, material e determinada pelas condições da matéria; nos órgãos sensoriais e nas faculdades sensitivas, ela não é inteiramente corpórea porquê não contém a matéria física, nem é inteiramente imaterial porquê não abstrai de todas as condições materiais: comparação com a impressão do carimbo na cera; na Inteligência, como veremos, é inteiramente imaterial.

6 — Para produzir esta impressão, o objeto age por meio de umas suas qualidades (ex: superfície colorida, vibrações, peso...), e como o efeito é sempre uma semelhança de sua causa, a impressão recebida será uma semelhança do objeto quanto a estas qualidades.

7 — Esta semelhança chama-se espécie impressa. Por meio dela fica atuada e determinada a aptidão ativa da faculdade, que assim é capaz de produzir uma determinada ação vital, que será o conhecimento do tal objeto produtor da impressão.

8 — A espécie impressa é pois necessária para realizar a união do objeto com a faculdade. Só é dispensável quando o objeto conhecido não é distinto do sujeito conhecedor (Deus conhecendo a si mesmo), ou quando o objeto se une a ela por sua própria essência como acontece nos bem-aventurados na visão intuitiva de Deus.

9 — A função da espécie impressa é pois determinar a faculdade, completando-a em ordem ao ato do conhecimento, formando com ela um único princípio total do ato. De onde ela faz parte da causa produtora do conhecimento, que será tal porquê a faculdade é tal por meio da tal espécie impressa, e esta por sua vez é tal porquê o objeto excitante é tal. Logo, a espécie impressa é o meio pelo qual se conhece.

A espécie impressa não é pois, o que se conhece diretamente, porquê:

a) o princípio, a causa do ato não pode ser o termo, o que se atinge por este ato;

b) a consciência nos atesta que percebemos imediatamente o objeto e não a espécie impressa, cuja existência só é conhecida por demonstração, como necessária para explicar a possibilidade do conhecimento.

c) se o que conhecemos diretamente fosse a espécie impressa, modificação nossa subjetiva, se seguiria o subjetivismo idealista e o ceticismo.

10 — De onde o ato vital do conhecimento não consiste essencialmente na impressão desta espécie impressa na faculdade, porque isto é atividade transeunte do objeto e não ação vital da faculdade; nem na pura recepção desta espécie, porque nisso a faculdade é puramente passiva, como uma parede que recebe do objeto os mesmos raios que os olhos; mas consiste na ação vital da faculdade, pela qual ela reage sob o influxo do objeto, tornando-se vital e intencionalmente o objeto conhecido, como chapas fotográficas vivas que se revelassem por si mesmas (sem o líquido revelador) olhando e contemplando o objeto que as impressionou. É o que se chama de "teoria da Assimilação Vital".

11 — Mas esta assimilação é bem diferente da assimilação nutritiva, na qual a matéria mesma do alimento se torna substância viva do nutriente. No conhecimento, nem quem vê uma pedra se torna fisicamente pedra, nem a pedra vista se torna substância do vidente: a matéria na sua realidade física não é assimilada. De onde não fica destruída a distinção entre o objeto e a faculdade; ficam ambos essencialmente com a natureza que tinham antes. Mas na faculdade, à forma que a constitui na sua entidade física une-se também outra forma (a do objeto) de um modo não material, não no seu modo físico de existir, mas de um modo que foi chamado intencional, porquê relaciona a faculdade com o objeto, para ele a faz tender (in-tendere), determinando-a a reagir vitalmente segundo a sua natureza de faculdade cognitiva, e assim a conhecê-lo.

12 — O conhecedor torna-se o objeto conhecido, porquê nele além da sua forma própria se acha a forma do objeto com um modo de ser (de existir) não físico mas intencional. E precisamente porquê esta união não é de ordem física mas intencional, o objeto é conhecido como outra coisa, distinta do conhecedor. Por isso, conhecer é "tornar-se outro (isto é, o objeto) enquanto outro (enquanto é distinto)".

13 — Receber em si um objeto intencionalmente, quanto à sua forma e não quanto à sua matéria, é recebê-lo imaterialmente. De onde a condição do conhecimento é alguma imaterialidade, e conforme o grau de imaterialidade será a perfeição do conhecimento. E é precisamente nesta capacidade de receber em si as formas dos outros seres que se distinguem os que podem ter conhecimento dos que não podem.

14 — O conhecimento, pois, é uma perfeição, porquê a limitação de toda criatura, determinada pelas suas formas substancial e acidental em força das quais, na ordem real da existência, ela é o que é, e não outra coisa (ex: água e não metal, cavalo e não homem...), acha como que uma compensação e um remédio no poder conhecer, que permite ao conhecedor gozar das perfeições dos outros seres, possuindo-as não fisicamente mas ao menos intencionalmente, conhecendo-as, admirando-as, amando-as. Assim a Inteligência, cujo objeto adequado é qualquer ser, conhecendo torna-se de algum modo todos os seres: "O Intelecto torna-se de algum modo tudo".

O Conhecimento Sensível

Conhecimento Externo:

Os nossos sentidos, de si indiferentes e em potência para conhecer, exigem ser determinados pelo influxo de um ser sensível por si, que produza neles uma espécie impressa.

A ação deste objeto sensível nos órgãos sensoriais e na faculdade constitui a "ponte" que nos une à realidade.

Por meio da espécie impressa, tomada não na sua entidade física, mas no seu ser intencional, enquanto é relacionada com o objeto que a produziu, atingimos e conhecemos imediata e intuitivamente o objeto mesmo no seu ser físico real, presencialmente existente diante da faculdade e agindo nela.

Assim acontece em cada sentido externo, nas suas sensações elementares (chamadas também percepções primitivas), isto é, ao perceber o seu objeto formal própria nas condições normais.

Mas não pára aí o conhecimento sensível.

Conhecimento Interno:

As diferentes qualidades específicas percebidas pelos sentidos externos:

a) não ficam em nós como isoladas e separadas, mas são distinguidas entre si e as que se referem a um mesmo objeto são reunidas e coordenadas num todo único por um sentido interno, chamado Sentido Comum ou Consciência Sensível;

b) nem se desvanecem de todo ao desaparecer o objeto, assim como nô-lo atesta a consciência, são conservadas mais ou menos nitidamente num outro sentido interno, a Imaginação, que os exprime e representa em uma espécie expressa chamada imagem ou fantasma, na qual é conhecido o objeto como num espelho perfeitamente recortado e ajustado a ele e cuja presença não é percebida senão por reflexão; esta espécie expressa é pois "aquilo no qual o objeto é conhecido;

c) as imagens, conservadas em estado de hábito na Imaginação, são reproduzidas em ato por meio da Memória Sensível; é a reprodução da imagem (espécie expressa) que nos permite poder imaginar o objeto mesmo na ausência dele.

Nos objetos percebidos pelos sentidos externos e representados pela Imaginação, um outro sentido interno, a estimativa, discerne certos dados não percebidos pelos outros sentidos, como a utilidade ou nocividade do objeto para o indivíduo ou a espécie, de onde resultam determinados comportamentos cujo conjunto é chamado de instinto animal. No homem, este sentido interno, mais perfeito por causa das suas relações com a inteligência, chama-se cogitativa (co-gitare); suas apreciações concretas resultam de raciocínios concretos do particular para o particular sobre objetos individuais: são espécies de intuições adivinhadoras, em que as situações concretas (sínteses dos vários dados da experiência por ela organizadas com o auxílio da Imaginação e Memória e por meio de confrontos entre objetos individuais) são conhecidas e avaliadas como nocivas ou convenientes para o indivíduo. É por uma forte "cogitativa" que se caracterizam as pessoas práticas, espertas.

E assim, com o concurso dos vários sentidos internos, os dados sensoriais primários, percebidos pelos sentidos externos, são integrados para formar as chamadas percepções adquiridas, acerca de um objeto. É o ponto culminante a que chega o conhecimento sensível.

O Conhecimento Intelectual

Necessidade de uma espécie impressa inteligível: No homem há também, além do conhecimento sensível, o conhecimento intelectual. pelo qual são conhecidas as essências reais de um modo absolutamente imaterial e universal.

E a Inteligência, como os sentidos, é uma faculdade de si indeterminada, tabula rasa; ativa sim, quanto à produção do ato de conhecer, do conceito, mas passiva quanto à determinação do conteúdo objetivo deste mesmo ato. Este conteúdo deve, pois, ser recebido de fora e por isso a Inteligência deve receber uma atuação do seu objeto, uma espécie impressa inteligível.

E como o conhecimento intelectual tem a sua origem no sensitivo, este objeto deve ser apresentado à Inteligência nos dados sensíveis reais contidos na imagem ou fantasma. Não é impossível, pois, tanto a Inteligência como a Imaginação se acham radicadas na mesma essência da alma humana.Necessidade do Intelecto Agente e sua função: A imagem, por ser de ordem sensível, material, concreta e individual, não pode por si só produzir nada na Inteligência que é espiritual: nada de corpóreo pode ser impresso no incorpóreo; de onde a imagem sozinha não pode produzir a espécie impressa inteligível que é imaterial.

É, pois, necessário reconhecer no homem, que de fato tem idéias imateriais e universais, uma atividade espiritual capaz de agir nos fantasmas, torná-los inteligíveis e imprimir na Inteligência a espécie impressa espiritual. Esta atividade espiritual, já reconhecida por Aristóteles, é chamada Intelecto Agente, cuja função não é conhecer, mas fazer conhecer, como a luz que torna visíveis os objetos mas não vê.

Como é a matéria que, pelas suas condições concretas e individuais, é o impedimento para a inteligibilidade e universalidade, a ação do Intelecto Agente deve consistir em libertar das condições materiais individuais a essência (o tipo de ser) contida nas imagens e imprimi-la na Inteligência propriamente dita (= o Intelecto Possível ou Passível). Esta ação é parecida analogicamente com a ação dos raios X que passando pelo corpo humano projetam no quadro somente o esqueleto. Assim a ação (chamada por isso iluminação) do Intelecto Agente ao passar pela imagem sensível como que leva consigo somente o tipo de ser nela contido, deixando as condições materiais individuais, e imprime na Inteligência este tipo de ser assim espiritualizado e inteligível (= a espécie impressa inteligível). De onde esta ação iluminativa é na realidade a abstração universalizadora de que já falamos.

Na produção desta espécie impressa concorrem, pois, duas causas subordinadas: o Intelecto Agente e o fantasma; o Intelecto Agente, como causa principal e primária; o fantasma, como causa instrumental e secundária.

Por isso é que a espécie inteligível impressa na Inteligência contém e conserva o efeito de ambos: do Intelecto Agente, a sua natureza imaterial e inteligível; do fantasma, a sua especificação, isto é, o ser espécie deste tipo de ser e não de outro.Necessidade de uma espécie expressa intelectual (o conceito): A recepção da espécie impressa inteligível na Inteligência (= Intelecto Possível) não é ainda o conhecimento intelectual, mas um seu pré-requisito necessário. Por meio dela, tornado princípio de operação determinada e como que fecundo, o Intelecto Possível (= a Inteligência) rege vitalmente e passa ao ato imanente da intelecção, que consiste em produzir em si e dizer-se internamente um verbo mental (= conceito, idéia), que é uma semelhança da natureza do objeto expressa na Inteligência (e por isso se chama espécie expressa intelectual); e nesta espécie expressa, como em espelho perfeitamente adaptado, conhece o objeto mesmo.

A existência destas espécies expressas é atestada pela própria consciência: na nossa atividade mental percebemos estar formando concepções, afirmações, que são precisamente as espécies expressas, as palavras mentais, com as quais exprimimos primeiro internamente em nós, e depois oralmente, o que conhecemos acerca das coisas.

Além disso, como acontece com a Imaginação, também com a Inteligência conhecemos objetos ausentes, acerca dos quais pensamos, julgamos, raciocinamos. Não podem, pois, estes objetos ser o termo de uma intuição intelectual no sentido estrito; logo é somente em uma sua representação interna (= espécie expressa) que podem estar presentes na Inteligência e serem conhecidos.

Mas mesmo quando os seres estão fisicamente presentes e são percebidos intuitivamente pelos sentidos externos, requer-se ainda uma espécie expressa para a Inteligência os poder atingir e conhecer, porque: o objeto inteligível, o que a inteligência pode conhecer acerca dos seres reais, são as naturezas (= tipos de ser) sem as condições materiais e individuais; ora, nos seres materiais as naturezas não existem fisicamente sem estas condições, mas são concretas e individualizadas; logo as naturezas fisicamente existentes nos indivíduos não podem ser por si mesmas e diretamente o termo de uma intuição intelectual, mas só poderão ser atingidas e conhecidas num termo psicológico (o conceito, a espécie expressa) que seja produzido na Inteligência e que as exprima e represente de um modo universal, isto é, quanto aos seus caracteres essenciais e formais (= tipos de ser) e não quanto aos seus princípios materiais e individuais.

A razão mais profunda e metafísica da necessidade da espécie expressa é a impossibilidade para o objeto de poder pela sua própria essência estar em ato mesmo de se conhecer e de ser conhecido. Pois um ser que por sua própria essência fosse não somente conhecível mas conhecido em ato, também estaria pela própria essência em ato de se conhecer a si mesmo (seria conhecido em ato também em relação a si mesmo), isto é, o ato de conhecer-se constituiria a sua mesma essência, o seu agir (a sua atividade) seria a sua essência mesma (a sua substância) e não uma modificação acidental; mas como o agir supõe o existir e o modo de agir é função do modo de existir, uma essência que fosse a sua própria atividade, seria também a sua própria existência, isto é, existiria por si mesma em virtude da própria essência = não seria essência criada. Isso se verifica só em Deus, ser incriado. Logo, só Deus pode ser objeto conhecido por intuição intelectual, o que se dá na visão beatífica do paraíso. Por conseguinte, nenhuma essência criada pode ser conhecida intelectualmente a não ser numa sua semelhança que a Inteligência, humana ou da substância separada, exprime em si mesma e que é precisamente a espécie expressa, o conceito.

Esta espécie expressa é muito distinta da espécie impressa, porque a espécie impressa é produzida pelo objeto (representado no fantasma) sob a ação do Intelecto Agente e atuando a Inteligência faz parte da causa produtora do ato do conhecimento, sendo, pois, o meio pelo qual se conhece; pelo contrário, a espécie expressa, o conceito, é o termo interno e psicológico produzido em si mesma pela Inteligência na sua atividade imanente de conhecer o objeto, sendo, pois, o meio no qual é conhecido o objeto mesmo. Mas o conteúdo inteligível é idêntico em ambas: a natureza do objeto abstraída das condições da matéria.

Note-se bem que estas várias espécies, sensíveis e intelectuais, impressa e expressa, reconhecidas necessárias para explicar o contato entre o objeto e a faculdade, não se opõem à objetividade e ao imediatismo da percepção sensível e do nosso conhecimento da realidade. Pois, no processo cognitivo, não são elas um objeto conhecido primeiro em si para só depois passarmos a atingir a realidade: não são "o que se conhece" (quantos homens não sabem da existência delas!!). Assim a espécie impressa na vista não é o que os olhos vêem, não se interpõe entre o que sente e o sensível, como um muro ou um substituto atraindo para si um instante sequer, o olhar da faculdade, para referi-la depois ao objeto como a seu original, tal como uma fotografia conhecida primeiro em si mesma nos refere à pessoa fotografada. A espécie impressa não é vista, nem é visível em si mesma; nem temos mais consciência dela do que dos atos da nossa vida orgânica. É somente por raciocínio que somos levados a admiti-la.

Todas estas espécies são condições prévias e determinações psicológicas pelas quais os sentidos e a Inteligência ficam determinados, dirigidos para o objeto mesmo e habilitados a conhecê-lo. Como usando óculos não vemos primeiro as lentes e depois os objetos, mas diretamente vemos os objetos através dos óculos. Constituem, pois, as peças coordenadas, integrantes do processo do ato cognitivo e não o objeto atingido e conhecido por este ato (do conhecimento), são meios e termos psicológicos, não intermediários e termos objetivos.

E assim a análise psicológica do processo do conhecimento, longe de comprometer a solução da realidade do objeto exterior e do conhecimento no sujeito, vem, mais ainda, iluminá-la e confirmá-la.

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