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O fenômeno da globalização

Alexandre Érico Alves da Silva
Juiz do trabalho na 21ª Região

Colocada como marco para o surgimento do mundo globalizado, a queda do muro de Berlim serviu de ponto de partida para o desaparecimento das fronteiras internacionais com a acentuação da circulação ilimitada de capitais, produtos e serviços.

O surgimento do Mercado Comum Europeu e do MERCOSUL, por exemplo, provocaram o aumento da competitividade internacional. Os capitais passaram a migrar para pontos do globo onde a produção pudesse ser maximizada com minimização dos custos.

Bens de consumo passaram a ser produzidos em larga escala e a preços absurdamente reduzidos surgindo o fenômeno atualmente por alguns chamado de "banalização" da economia.

Difícil de conceber no quadro atual um produto industrializado puramente nacional. Um automóvel projetado e desenhado nos Estados Unidos, tem suas peças fabricadas no México, é montado na Argentina e servirá ao mercado brasileiro. É assim que a globalização funciona.

A globalização e as transformações tecnológicas ocorridas no limiar do terceiro milênio têm provocado uma restruturação profunda na política socio-econômica das nações desenvolvidas e têm obrigado as nações emergentes a se modernizar.

A vista de tais perspectivas conjunturais e atendendo a dispositivo Constitucional (art.4º) passou o Brasil a fazer parte do Mercado Comum do Sul-MERCOSUL criado a partir de 1991.

O ressurgimento da política Liberal tem distanciado o Estado da participação na economia e liberado o mercado para a livre competição internacional e direcionado a participação estatal para a menor atuação no campo social.

Sobre a política neoliberal:

" Dentre muitos resultados favoráveis que se podem dizer sentidos, apontamos o aumento da oferta de bens e serviços de melhor qualidade e preço, significativa redução dos índices inflacionários, enxugamento da pesada máquina estatal, um fortalecer na consciência da austeridade fiscal, emprego otimizado dos recursos públicos e estreitamento das relações comerciais entre as nações.

Negativos têm sido outros, dentre os quais a concentração de renda, riqueza e propriedade, desemprego, falência das pequenas empresas, empobrecimento da classe média, insegurança social e até mesmo, greves, rebeliões e violência capazes de questionar a autoridade e o próprio Estado"
 
 

Na prática, essa política tem mostrado que as grandes potências, industrializadas, detentoras de tecnologia e do capital, passaram a ditar ainda mais as regras do jogo, mas também sofrem as consequências.

Nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento a pobreza só tende a atingir níveis alarmantes. Fome, doença, lutas internas, tráfico de drogas, subemprego, violência, caos.

Para o nosso País não é diferente.

"EDUARDO GALEANO. As veias abertas da América Latina. A política neoliberal em curso coloca em risco o futuro do Brasil como nação. Esse é um modelo de desenvolvimento econômico, de inserção subordinada na globalização. Que sucateia o parque industrial nacional e o Estado, provocando também o aumento da miséria e comprometendo as perspectivas do nosso povo.(...) O governo falado das reformas. Apesar de contar com quase três quintos do Congresso na sua base de sustentação e de ter abusado do fisiologismo, não consegue efetiva-las, pois o que interessa é a política imediatista das privatizações e juros altos. No fundo FHC e seu governo não têm um projeto nacional para o Brasil. Apenas cumprem o receituário neoliberal."
 
A invasão em nosso dia a dia de produtos que de onde vêm não se sabe. As lojas de R$ 1,99 se proliferam em todas as cidades do País. Taiwan, Indonésia, China, e outros. Produtos industrializados confeccionados a custa de longas jornadas de trabalho de uma mão de obra absurdamente barata e farta.

Não se sabe em que condições de trabalho o operariado dos Tigres Asiáticos são submetidos para atingir os níveis de produção exigidos pela competitividade internacional. Uso de mulheres e crianças são frequentes.

Produtos que ingressam no Brasil a preços deveras atraentes em detrimento do similar nacional que via de regra tem um custo bem mais alto.

E diga-se, isso não acontece apenas como produtos industrializados, a exemplo de eletroeletronicos. A industria extrativista também sofre com a concorrência externa. Veja-se no caso do RN, o que acontece com o sal marinho. Preços menores levam ao mercado consumidor nacional a adquirir este produto de outros Países. Aqui, a recessão e o desemprego.

A industria nacional se vendo tolhida a tomar novos rumos sob pena de total aniquilação.

" Conquanto ainda estejamos aquém de atingir um grau de competitividade que assegure ao Brasil o engajamento nessa ordem econômica globalizada, o sistema produtivo já vai assumindo nova roupagem: investimentos tecnológicos, com o fim de dotar as empresas de capacidade para competir no mercado econômico, impõem, muitas vezes, a alteração das condições de trabalho dos seus empregados.(...)

(...)A tecnologia tem trazido, principalmente nos últimos 20 anos, ganhos significativos de produtividade e qualidade, mas tem também deixado rastros de desemprego e desilusão.

A implantação de inovações tecnológicas implica a eliminação de postos de trabalho, pois a automação, tanto em empresas industriais quanto em empresas rurais, é cada vez mais intensa e sofisticada. A aludida extinção de vagas conduz, por sua vez, a readaptação do empregado ao exercício de outra função ou, mais frequentemente, ao desemprego. "
 
 

Portanto, tudo nos leva a crer que a política agora dominante do neoliberalismo apenas esqueceu de que o homem é o objeto da sociedade organizada e como tal não deve ficar relegado ao ultimo plano dando-se importância apenas ao capital.

É como que se tudo estivesse andando na contramão da humanidade. O homem servindo ao capital e não o capital servindo ao homem.

Outrora os conflitos sociais pressionaram o Estado a aumentar sua atuação fazendo surgir e garantir as regras mínimas para o convívio de patrões e empregados tornando a política liberal ultrapassada. Agora é a política neoliberal que pressiona o distanciamento do estado das questões que envolvem os atores sociais pregando desregulamentação e deixando a livre negociação como regra básica para a convivência entre trabalhadores e empregadores.

Quadro que se mostra deveras preocupante na medida em que nosso futuro em relação a cidadania se torna incerto e duvidoso.