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Comércio Eletrônico: últimas notícias



14/04/99
PAULO LEMOS
Editor do BIL e pesquisador associado ao NUPRI-USP


    Durante dois dias, o comércio eletrônico (e-commerce) foi o centro do Congresso "E-Commerce Brasil '99 - 3º Congresso Nacional sobre Comércio Eletrônico", realizado pela Mantel com o apoio da Amcham. A seguir, apresentamos um relato sucinto das principais questões debatidas nessa que é a fronteira não apenas do mundo dos negócios, mas da própria organização de toda a economia nas próximas décadas.

    De um lado, permanecem discussões que se tornaram até mesmo óbvias (como por exemplo, as deficiências ainda existentes na infra-estrutura de telecomunicações, tanto corporativa quanto residencial). Mas, ao mesmo tempo, esse congresso demonstra que o e-commerce é uma realidade - instável, não consolidada e repleta de dúvidas para os empresários e profissionais em torno dela - que vem causando transformações significativas no modo de realização de negócios, ainda que com maior presença em países como os EUA.


    A economia e a gestão dos negócios do comércio eletrônico (e-commerce)


    * Crescente articulação entre produção de conteúdo e e-commerce

    A agregação dos conteúdos disponíveis na Internet pode ser (e já está sendo) utilizada para alavancar o e-commerce. Em alguns portais, a divisão dos conteúdos baseada em temas está relacionada à venda de produtos e serviços afins aos conteúdos disponíveis. Essa deve ser uma estratégia de negócios que deve crescer entre os shoppings virtuais e portais.


    * A importância da capacitação profissional

    Qual o modelo de treinamento corporativo capaz de criar competências nos profissionais das empresas? Através da educação voltada para a atividade do e-commerce (ec), deve-se priorizar os aspectos de inovação e criatividade ("corporate education/training"). Esse é um dos pontos fundamentais de mudança, do ponto de vista do funcionamento interno das empresas. Os profissionais devem estar aptos a usufruir de um ambiente corporativo, de uma cultura empresarial, capaz de contribuir para desenvolvimento de novos produtos, novos processos e novos relacionamentos da empresa em direção ao e-commerce. A Universidade de Denver tem um programa de treinamento/educação de executivos voltado para a capacitação em e-commerce.

    * A economia de redes e os portais

    É indiscutível, pelo menos na fase atual, que a economia organizada em redes em torno de portais é o principal modelo orientador dos negócios. A Internet e o e-commerce vêm garantindo a organização de uma parte da economia e dos negócios em estruturas de negócios baseadas em rede.


    * Os gargalos na Infra-Estrutura Nacional de Informações (INI)

    Poderão ocorrer problemas em relação à heterogeneidade de soluções no provimento de infra-estrutura de telecomunicações. Algumas iniciativas de construção de infra-estrutura de telecomunicações (baseadas em fibra ótica, por exemplo) têm anunciado larguras de banda bastante superiores às existentes na infra-estrutura predominante (rede telefônica, por exemplo). Assim, diferenças de 'escala' no tráfego de informações entre essas várias infra-estruturas que suportam o e-commerce, poderão criar um novo tipo de "gargalo" a infra-estrutura de informação.


    * Estrutura de financiamento

    Não há na economia brasileira uma tradição em "venture business". Esse é um fator limitador do desenvolvimento do e-commerce no Brasil, considerando que o modelo de negócios de e-commerce e de Internet tem sido alavancado por esse tipo de estrutura de financiamento nos EUA.


    * Crescimento do acesso à Internet através de dispositivos diferentes do PC.

    Os negócios envolvidos com e-commerce devem considerar as possibilidades de uso crescente da TV, aparelho telefônico celular e todos os tipos de PDAs como forma de acesso à Internet. Pode haver também uma "evolução" dos agentes de procura de produtos e serviços na Internet ("e-brokers"), que poderão estar articulados e conectados a dispositivos como aparelho telefônico celular, "avisando" o consumidor de que determinado bem ou serviço adequado às suas exigências foi encontrado em alguma loja virtual na Internet.

    * Equilíbrio entre privacidade do consumidor e fonte de informações para o marketing

    Como garantir que as informações dos consumidores coletadas através da Internet não sejam consideradas como intrusivas da privacidade e do sigilo de quem as forneceu? Como transformar essas informações em informações de alto valor agregado para a construção de ferramentas de marketing das empresas?

    * O tamanho do mercado consumidor

    Há dificuldades para "deslocar" a Internet em direção a um mercado de massas. A exemplo do que ocorreu com o estagnação da TV por assinatura em relação à saturação no atendimento às classes A e B, existem difuldades de se expandir o mercado de usuários e assinantes de serviços Internet em relação às classes C e D. Não há dúvidas que novas e diferenciadas iniciativas devem ocorrer se se pretende alargar o acesso à Internet aos segmentos de mais baixo poder de compra.

    * Algumas estatísticas

    Em dez/96, haviam 256 mil domicílios com acesso à Internet (Fonte: Levantamento Socio-Econômico, IBOPE, 1996).

    Difusão do uso de computadores e da Internet no Brasil:
    9,49 milhões de pessoas possuem computador
    7,52 milhões são usuários de computador
    4,46 milhões de pessoas utilizam Internet em casa ou no trabalho
    2,37 milhões são usuários da Internet (Fonte: IBOPE: Pesquisa Internet Brasil - dezembro de 98. Pesquisa realizada em 9 regiões metropolitanas, representando 28,4% da população total do Brasil e 37,6% da população urbana total do Brasil).



    A questão institucional, de regulamentação e de 'governance'



    Há um esforço global e nacional reunindo várias instituições. No lado global, poderíamos citar OECD, WTO, UNCITRAL, UNCTAD, WIPO, CEFACT , Departamento de Comércio dos EUA, entre outras instituições) preocupadas na construção do aparato institucional em torno do e-commerce. Como construir, por exemplo, as "posições comerciais brasileiras" em relação ao e-commerce e que devem ser levadas à discussão nos foros internacionais que estão tratando do tema? Essa foi uma importante questão que emergiu das discussões sobre o aparato institucional que envolve o e-commerce.

    Há também a necessidade de adequação entre os ambientes institucionais existentes (basicamente os que garantem a sustentação e controle econômico, jurídico, técnico e de "governabilidade" geral da Internet) às novas atividades econômicas em torno do e-commerce. É importante considerar os aspectos relativos à negociação e aquisição "eletrônica" de bens e serviços, os aspectos relativos aos bens entregues "eletronicamente" (todos os bens digitalizáveis e que podem ser distribuídos na forma de arquivos) e os aspectos relativos aos "meios de pagamento" eletrônicos utilizados em e-commerce. É possível pensar em "cartórios digitais" que, analogamente ao modo de funcionamento dos cartórios que atuam no comércio tradicional, atuariam junto ao e-commerce? Como fica, do ponto de vista econômico, a questão do fator gerador de impostos em relação ao e-commerce? No Brasil, tem sido é fundamental a atuação da SIMPRO-Brasil, ABNT, INPI, entre outras instituições.


    Outra questão relevante é saber o que significam as iniciativas de "auto-regulação" da Internet e do e-commerce. A melhoria da qualidade dos serviços e produtos Internet pode passar pelo maior articulação e atuação das entidades e associações representativas dos segmentos envolvidos em e-commerce e Internet (associação de ISPs, associação de usuários Internet, entre outros), a exemplo do que ocorre em países como os EUA. Essas instituições podem ser os principais atores no processo de auto-regulação da Internet no Brasil.



    Segurança das informações



    A questão da segurança das informações evoluiu para conceitos e aplicações como "Information Management Risk", que significam sistemas sofisticados de automação de todo o processo de proteção dos dados corporativos das empresas envolvidas com e-commerce. É fundamental que a adoção desses tipos de sistemas sejam acompanhadas da consciência por parte dos empresários de que deve haver uma "política" bem-definida da empresa para a garantia da segurança dos dados.