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Os efeitos da Área de Livre Comércio das Américas sobre os processos de integração, economia e sociedade na América Latina

 

 

Daniel Lopes Cerqueira
bacharel em Direito pela UFMG, bacharel em Relações Internacionais pela PUC Minas

 

 

 

 "Desejo, mais que qualquer outra pessoa, ver formar na América a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas que por sua liberdade e glórias (...) Não somos mais índios, africanos ou europeus, e sim um novo gênero humano, próprio, característico, inovador ética e culturalmente, a caminho de outras novas sínteses políticas e sociais."

Simón Bolívar


Introdução

            Ensaios para a integração política na América Latina são conhecidos desde o início do século XIX, quando do enterro do ideal bolivariano de uma América espanhola unida. A particularização de interesses e a consolidação de elites locais são alguns dos elementos que dificultaram todas as tentativas posteriores. A partir da segunda metade do século XX, esboçam-se tratativas para a criação de um bloco regional, desta vez, assentado sobre bases comerciais. O contexto de liberalização da economia mundial no último quartel do século XX remodelou os arranjos experimentados até então, pressionando os países para a abertura de seus mercados e a inserção no comércio internacional. Alheios aos movimentos pendulares de integração no hemisfério ocidental, os Estados Unidos, com interesse no fortalecimento de sua posição regional, começam a patrocinar a construção de uma área de livre comércio que englobasse desde o Alasca até a Terra do Fogo.

            Este novo impulso para o regionalismo não decorre dos antigos ideais almejados pelas repúblicas latino-americanas e seus libertadores – San Martín, Simón Bolívar, Francisco Miranda, Antônio José Sucre, Bernardo O’Higgins, entre outros. Da mesma maneira, não encontra ressonância na proposta comunitária que sempre revestiu os projetos de integração no continente. Trata-se da criação de um mercado regional integrado, sem a presença de barreiras físicas e imateriais entre os países para o fluxo de bens, capitais e serviços. O objetivo deste artigo é esmiuçar os possíveis efeitos da implementação da Área de Livre Comércio das Américas sobre a economia, sociedade e o processo histórico de integração na América Latina.

            Num primeiro momento, é feita a contextualização de tais processos com foco nos elementos contingenciadores da integração vigentes na ordem internacional bipolar contrastados com o cenário favorável ao integracionismo no pós-Guerra Fria. Os pilares da integração hemisférica, outrora dosados de uma identidade política e cultural, são situados em uma conjuntura mais ampla, qual seja as reformas econômicas estruturais difundidas nos anos oitenta e noventa. A partir deste recorte, são vislumbrados os dilemas para a sociedade latino-americana advindos da agenda neoliberal.

            Na terceira seção, frisamos a necessidade de revisão crítica dos modelos macro e micro-econômicos implementados na América Latina nas duas últimas décadas, vis-à-vis os princípios que norteiam o projeto da ALCA. A título de conclusão, faz-se um apanhado geral da mudança de posição dos Estados Unidos em relação ao regionalismo hemisférico, a partir da metade dos anos noventa, com a inflexão das negociações no âmbito multilateral. Desta maneira, vicejamos a possibilidade de constituição de um bloco coeso de países em desenvolvimento nas negociações da ALCA capazes de reivindicar uma agenda mais conducente aos seus interesses.


1. Origens históricas do integracionismo no continente americano

            As origens do integracionismo americano podem ser creditadas ao Congresso do Panamá de 22 de junho de 1826, no qual delegados de países centro e sul-americanos discutiram a criação de uma confederação entre os Estados recém-independentes da Espanha. Marcado pela liderança de Simón Bolívar, o Congresso reuniria, a princípio, apenas governos latino-americanos, refletindo um ideário com raízes muito mais históricas e identitárias que comerciais. Em fins de 1825, no entanto, os EUA foram convidados por sua ligação geográfica e econômica ao resto das Américas e, pelos laços de união comercial e financeira, convidou-se também, com status de observadores, a Grã-Bretanha e a Holanda. [01]

            Manifestado o interesse sobre a independência do restante da América em 1823 pelo então presidente James Monroe, os Estados Unidos apresentaram posições divergentes e muitas vezes conflitantes durante a maior parte do século XIX. Esta dicotomia manifestava a disputa de interesses entre os grupos políticos e econômicos internos em relação ao pan-americanismo. Os Estados sulistas, temendo o aumento da competição na comercialização de seus principais produtos (cereais, açúcar, gado, tabaco e algodão) se opunham ao discurso pan-americanista e ao envio de representantes a congressos de tal gênero. Já os Estados industrializados do nordeste enxergavam na América Latina um importante mercado para escoar sua promissora produção manufatureira. Para os representantes destes últimos Estados no Senado estadunidense, os referidos congressos seriam um foro diplomático fundamental no qual poder-se-ia expandir a influência econômica ao longo do continente em substituição às potências européias.

            O Congresso do Panamá de 1826, apesar de realizado com a presença de poucas delegações (México, América Central e Grande Colômbia), sendo a ausência mais destacada a dos EUA, e de o modesto "Tratado de União, Liga e Confederação Perpétua" resultante do encontro não ter sido sequer ratificado por todos os países signatários [02], teve grande importância ao simbolizar um embrionário pan-americanismo. Outrossim, serviu para distinguir, desde o início do século XIX, dois enfoques em torno das negociações para a integração americana. Os grupos norte-americanos favoráveis à integração buscavam instituir no novo continente uma união aduaneira nos moldes do bem sucedido Zollverein alemão, ao passo que outras nações latino-americanas buscavam acrescentar às negociações um conteúdo político, visando a uma integração mais ampla.

            Ao longo do século XIX, especialmente entre o período de 1831 e 1864, uma série de convenções foram assinadas por nações americanas versando sobre navegação, comunicação postal, alianças defensivas, paz e comércio. Em tais acordos, a participação dos EUA foi praticamente nula, devido, sobretudo, a divisão interna entre norte e sul no que tange ao direcionamento da política externa para América Latina. A posição favorável à integração consolidou-se somente após a vitória da União sobre os Confederados na Guerra de Secessão (1861-65), ao representar o triunfo do industrialismo do norte sobre o agrarismo sulista.

            Lograda rapidamente e com impressionante sucesso a reconstrução estadunidense após anos de guerra civil, o vigoroso capitalismo norte-americano não mais cabia em suas próprias fronteiras, o que impunha a expansão comercial para novos mercados. É nesta conjuntura que a retórica pan-americanista de integração ganha novos contornos, desta vez incentivada e liderada pelos próprios Estados Unidos. Nas palavras de Bueno:

            "O período que vai de 1870 a 1893 é denominado ‘idade áurea da América. A jovem nação, já com a maior economia do planeta, reivindicou sua integração no rol das grandes potências e procurou formar sua esfera de influência. O comércio e a grande finança passaram a informar sua política externa. A América Latina passou a ser vista pelos norte-americanos como uma área naturalmente destinada à expansão econômica do seu país, tanto por razões geográficas quanto históricas, pois americanos latinos e americanos anglo-saxões tinham em comum o passado colonial." [03]

            Convocada pelos EUA uma primeira conferência na cidade de Washington entre os anos de 1889 e 1890, outras seriam organizadas com o mesmo objetivo: ampliar o intercâmbio comercial entre os países americanos. Já na conferência de 1889 criou-se a União Internacional das Repúblicas Americanas, destinada a compilar dados sobre o comércio hemisférico. Tal órgão seria o carro chefe das futuras conferências. Dentro de sua estrutura organizacional, destacava-se o Bureau Comercial das Repúblicas Americanas, responsável pela publicação de boletins com dados estatísticos, tarifas e regulamentos aduaneiros entre as nações representadas.

            A institucionalização das conferências pan-americanas prenunciava a constituição de outro importante organismo, o Escritório Comercial das Repúblicas Americanas. Sua internacionalização propiciou o ingresso de distintas representações diplomáticas, abrindo espaço para a criação de uma organização internacional hemisférica mais ampla, matriz principiológica e regrativa dos futuros processos de integração no novo continente. Em 1948, na cidade de Bogotá, de uma das conferências é firmado o Tratado Constitutivo da Organização dos Estados Americanos (OEA). "A Carta de Bogotá estabelece os propósitos essenciais para o cumprimento das obrigações regionais elaboradas desde o início do século XIX; eis, portanto, a matriz regular para todos os processos de integração nas Américas." [04]

            Impulsionada pelos EUA, a criação de uma organização política composta por todos os países americanos parecia ser o primeiro passo para a continuidade das negociações rumo a uma ampla integração econômica. Entretanto, a dinâmica da Guerra Fria situou os interesses americanos além do novo continente, adiando em décadas tal projeto. De 1948 até o início da década de noventa, apenas projetos regionais fizeram-se presentes, sendo que em nenhum deles se deu a participação direta dos EUA.

            A primeira onda efetiva de constituição de blocos econômicos na América Latina ocorreu no início da década de sessenta, com a criação da ALALC - Associação Latino-Americana de Livre Comércio (dando origem em 1980 à ALADI - Associação Latino Americana de Integração) e do MCCA - Mercado Comum Centro Americano. No final da década de sessenta surge, dentro da estrutura da ALALC, a Comunidade Andina de Nações e a Comunidade do Caribe. É, contudo, no início da década de noventa, que a temática do regionalismo ganha maior relevo na política externa não só dos países latino-americanos, mas dos próprios Estados Unidos. Na primeira Cúpula das Américas em 1994, o então presidente Bill Clinton propõe a criação de uma Área de Livre Comércio abrangendo todo o continente. A retomada das negociações e o surgimento de novos blocos regionais nas Américas e em outros continentes no período posterior à Guerra Fria não é, obviamente, casual e merecem uma explanação mais detalhada. [05]


2. Os Blocos de integração regional : diferentes realidades em duas ordens globais

            Os argumentos utilizados por estudiosos de Relações Internacionais para explicar o surgimento dos blocos de integração regional perpassam, normalmente, elementos como a interdependência, grau mínimo de simetria macro-econômica, compartilhamento de valores e instituições, cálculo de interesses e uma série de variáveis endógenas aos Estados negociantes. [06] A nosso ver, tais elementos tomados isoladamente não permitem a elucidação do fenômeno em toda sua complexidade, sendo mister levar em conta circunstâncias conjunturais características do sistema internacional. Nesta direção, vale destacar que iniciativas de integração já se faziam presentes em diferentes regiões do globo desde as décadas de cinqüenta e sessenta, sendo, entretanto, o pós-Guerra Fria, a belle époque do integracionismo em praticamente todos os continentes.

            A natureza da ordem internacional bipolar ofuscava as temáticas ditas como low politic, dentre as quais a cooperação econômica era enquadrada. Questões envolvendo a integridade e segurança dos Estados, então qualificadas como high politic, estavam no centro das preocupações das duas potências hegemônicas - EUA e URSS - e da própria agenda internacional no seio das Nações Unidas, seus órgãos e comissões. Os tratados de cooperação econômica seguiram a lógica do conflito leste-oeste, tendo logrado êxito somente os blocos cuja constituição fosse conducente ou não-conflitante com os interesses geopolíticos das duas potências dentro de seu âmbito geográfico de influência. Pode-se afirmar, v.g., que os avanços das negociações no bloco europeu deveram-se, em grande parte, ao apoio norte-americano, uma vez que a reconstrução européia e a constituição de um mercado comum segundo os ditames da economia de mercado afastariam a influência soviética à esquerda da cortina de ferro.

            Situação inversa se deu na América Latina, onde a participação dos Estados Unidos foi muito mais impeditiva do que impulsionadora de uma integração efetiva. A única organização regional no novo continente que de fato recebeu apoio norte-americano foi o Mercado Comum Centro Americano (MCCA), em função da proximidade dos países integrantes à influência de Cuba. Na lição de Andrés Malamud:

            "Não havia apenas razões econômicas na origem do acordo (Tratado de Manágua), mas também causas políticas. Dentre elas, a ameaça representada pela revolução cubana foi altamente significante e isso parcialmente explica o maior apoio que a nova região recebeu dos EUA em detrimento da ALALC." [07]

            Até a década de noventa é impreciso afirmar categoricamente que o sucesso ou o fracasso das diversas iniciativas integracionistas se deveu à falta de vontade ou empenho político-diplomático. Da mesma maneira, as razões para as fracassadas experiências de integração na América Latina se situam além das variáveis endógenas aos Estados. As diferenças econômicas, políticas e sociais, além de eventuais desavenças históricas deveras constituíram e constituem um empecilho para a integração. Contudo, não se deve olvidar que as diferenças entre os países europeus culminaram, somente no século XX, em duas guerras mundiais e, ainda assim, a União Européia é a mais bem sucedida experiência de integração regional.Chamamos atenção, desta maneira, para o fato de que a conjuntura histórica do período pré-1991 é, em parte, elucidativa do fracasso de inúmeras tentativas de integração.

            Na agenda internacional pós-Guerra Fria, ainda que se possa identificar determinados temas de natureza eminentemente estatocêntrica, errônea é a sua elevação a um nível hierárquico superior aos demais, sendo anacrônica a distinção entre high e low politics. A emergência de uma variedade de temas até então pouco considerados como meio-ambiente, terrorismo, tráfico de drogas, crises correntes, AIDS e direitos humanos põe em xeque a validade da velha hierarquia de assuntos em que prevaleciam as questões de segurança. Neste sentido, o sistema internacional não mais poderia ser definido, dentro da máxima do realismo clássico, como "um conjunto constituído de unidades políticas que mantêm relações regulares entre si e que são passíveis de entrar em uma guerra generalizada." [08]

            Na esfera econômica, a transnacionalização da economia, perceptível, sobretudo, a partir da década de sessenta, caracterizar-se-ia por três elementos fundamentais: i) proliferação das empresas transnacionais e da produção flexível, ii) reconfiguração da divisão internacional do trabalho, com o aumento da exportação de bens manufaturados pelos chamados New Industrialized Countries - NIC’s e iii) aumento do financiamento off shore cujo controle dos Bancos Centrais torna-se praticamente inexistente. [09] De forma progressiva, os Estados nacionais contracenam com outros atores públicos e privados em âmbitos diversos das relações internacionais.

            O Estado agora divide o palco central com outras entidades, organizações internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, organizações não-governamentais como o Greenpeace e a Anistia Internacional, e corporações multinacionais, ou talvez, não haja mais um palco central afinal, mas apenas uma multiplicidade de locais, alguns reais outros virtuais, onde as transações globais são governadas. (Krasner, 2001: 03 – tradução livre). [10]

            Com a transnacionalização da economia, os territórios e fronteiras dos Estados não mais seriam o esquema operatório por excelência das atividades econômicas, mas, antes, fatores complicadores à livre circulação de capitais, bens e serviços. [11]

            A globalização e a interdependência entre os atores viriam a enfraquecer o modelo de gerenciamento macroeconômico e as políticas desenvolvimentistas autônomas por parte dos governos nacionais, os quais se voltam, cada vez mais, às exigências do mercado internacional em detrimento das necessidades locais. A partir desta lógica, o modelo neoliberal ganha respaldo nas práticas governamentais, revolucionando as políticas econômicas de inúmeros países. Assim explica Rosenau:

            "O rápido crescimento e maturação do mundo multicêntrico pode em boa parte ser traçado pelo extraordinário dinamismo e expansão da economia global. Desta maneira, constata-se o enfraquecimento do Estado, o qual não é mais o gerenciador da economia nacional e tem se tornado, ao contrário, um instrumento de ajuste da economia nacional para as exigências da economia global." (tradução livre) [12]- [13]

            O saldo final desta discussão está na identificação de uma realidade contemporânea distinta à vigente durante a Guerra Fria, em que se diminui os impedimentos de ordem geopolítica para os movimentos de integração regional. Apesar dos avanços no livre comércio com os acordos de Bretton Woods e a criação do GATT em 1947, raras foram as experiências perenes de integração regional neste período. A própria extensão do sistema multilateral de comércio se limitava aos países desenvolvidos do bloco ocidental. Nas palavras de Eric Hobsbawm, o período de maior crescimento econômico do século XX (1945-1973) foi marcado pelo livre comércio, liberdade de movimento de capitais e moedas tal qual os planejadores de Bretton Woods haviam vicejado. Entretanto, acrescenta o historiador que a conjuntura de prosperidade para o capitalismo tinha como causa a direção da economia por parte dos Estados Unidos e a estabilidade do padrão dólar-ouro. [14]

            Se no plano geopolítico a década de noventa é de calmaria para a inclusão dos antigos países socialistas no sistema multilateral do comércio, no plano econômico, a necessidade de inserção competitiva em um mercado cada vez mais globalizado confere um novo impulso ao fenômeno da integração. Irmã gêmea do processo de globalização, a formação dos blocos econômicos regionais se mostra uma ferramenta estratégica tanto para a inserção competitiva no mercado global quanto para o aumento do poder de barganha nas negociações com os demais atores.


3. Reforma do Estado e neoliberalismo no mundo e na América Latina

            Os efeitos das mudanças na natureza do sistema internacional fizeram-se sentir não só na relação dos Estados entre si, mas, também, nas relações entre governo e sociedade civil no âmbito interno de cada nação. No período a que Eric Hobsbawm denomina de "Anos Dourados" do capitalismo (1945-73), quatro máximas pareciam ter-se consolidado entre os tomadores de decisão e dirigentes dos Estados: i) a catástrofe econômica da década de 30 deveu-se em grande parte ao colapso do sistema de comércio e finanças globais e à fragmentação do mundo em economias autárquicas, ii) a hegemonia inglesa estabilizava o comércio mundial mediante a centralidade de sua economia e moeda, iii) a grande depressão havia sido favorecida pelo fracasso do livre mercado irrestrito, sendo necessário um maior planejamento econômico e iv) por motivos sociais e políticos, não se devia permitir o retorno do desemprego em massa. [15]

            Percebe-se que os Anos Dourados foram, na verdade, um período onde as propostas liberais vigentes do século XIX até o primeiro quartel do século XX cederam lugar ao gerenciamento econômico por uma Administração Pública cada vez mais comprometida com o pleno emprego e o bem estar social. A grandeza deste período parecia inabalável à medida que os ciclos de prosperidade e depressão, fatais no entre-guerras, tornavam-se uma sucessão de brandas flutuações graças à administração macroeconômica. Até a década de oitenta, o único país ocidental a abandonar de forma radical o modelo de Welfare State foi o Chile em 1973, com o canhestro regime imposto por Pinochet de ditadura política combinada com ultraliberalismo econômico. Nem mesmo os governos conservadores recém chegados ao poder nos EUA e Europa na década de cinqüenta (Harold Macmillan na Inglaterra, Charles De Gaulle na França e Dwight Eisenhower nos EUA) pareciam dispostos a modificar as práticas keynesianas que vinham surtindo ótimos resultados.

            Tal como já destacado, o rápido crescimento da economia global neste período deveu-se não só ao novo paradigma de planejamento econômico estatal, mas, outrossim, ao papel de direcionador da economia mundial por parte dos Estados Unidos e à estabilidade do padrão dólar-ouro para o comércio internacional. O primeiro choque para os anos dourados, portanto, foi o fim do referido padrão em 1971, ocasião em que o então presidente Richard Nixon anunciava o fim do compromisso de conversão de dólar em ouro pelo tesouro americano. A partir desta data a fixação da taxa de câmbio de todas as moedas seria dada pela dinâmica da oferta e procura nos mercados de câmbio cada vez mais fora de controle dos Bancos Centrais. Em outras palavras, o que antes era estável tornou-se flexível e de difícil controle pelos Estados.

            Um segundo choque - as crises do petróleo de 1974 e 1979 - prenunciaria o fim de uma era de crescimento econômico acompanhado de prosperidade social. A economia mundial de fato continuava crescendo, mas num ritmo muito aquém da Era de Ouro, salvo nos New Industrialized Countries – NIC’s (sobretudo os tigres asiáticos, China e Japão). O fluxo de bens e capitais aumentava mesmo nas duas décadas de recessão (70 e 80). Fato é que, não obstante o crescimento econômico ter sofrido apenas uma redução no seu ritmo se comparado às décadas anteriores, a garantia do bem estar social estava cada vez mais comprometida não só pelos déficits públicos insustentáveis, mas pela nova dinâmica da economia mundial. Os governos reduziram a capacidade de gerenciamento da economia nacional e a expansão do comércio e finanças globais ultrapassam o controle dos Estados e das próprias instituições internacionais.

            Diante desta nova realidade, duas vedetes do conservadorismo político americano e britânico - Ronald Reagan e Margareth Thatcher - implementam pela primeira vez reformas de cunho neoliberal nos moldes das teses dos prosélitos da Escola de Chicago. Como experiência isolada em duas das maiores potências capitalistas nos anos oitenta, a ortodoxia neoliberal parecia tornar-se a única alternativa restante após a queda do bloco socialista, a crise do welfare state e, para os radicais do porte de Francis Fukuyama, o "fim das ideologias".

            O que se convencionou denominar neoliberalismo envolve, na verdade, três dimensões inter-relacionadas. No plano da Ciência Econômica, possui relação com o resgate de postulados neoclássicos em substituição ao pensamento keynesiano dominante da década de trinta até o início dos anos setenta. Trata-se, na verdade, de uma corrente teórica com variantes que compartilham determinadas características como i) a interação entre micro e macroeconomia, ii) visão monetarista alternativa ao keynesianismo e iii) apelo a modelos econométricos baseados em "regras de equilíbrio" previsíveis. [16] No plano das políticas públicas propriamente ditas, envolve medidas como a desregulamentação da economia, privatização das empresas públicas, liberalização dos mercados, redução do déficit público, rígido controle inflacionário e fiscal, corte de despesas sociais, entre outras.

            Uma última, mas não menos importante dimensão do neoliberalismo diz respeito ao movimento ideológico por parte de acadêmicos, institutos de pesquisa e agremiações de empresários e políticos, de resgate e difusão dos valores liberais tão pujantes no século XIX e abandonados após a crise dos anos 30. Apesar da guinada tanto na academia quanto no seio das instituições públicas para o intervencionismo estatal desde a crise de 1929 e, principalmente após 1945, a ideologia liberal não bateu em retirada, mas estava tão somente entrincheirada em importantes universidades e centros de produção intelectual. A título de ilustração, o livro The road of serfdom de Friedrich von Hayek, verdadeiro evangelho do neoliberalismo, apesar de ter surtido algum impacto ao ser publicado em 1944, tinha pela frente um ambiente hostil à retomada do liberalismo, sendo aclamado apenas trinta anos mais tarde em uma conjuntura em que o keynesianismo já se encontrava desgastado. [17]

            Numa terminologia gramsciana, o discurso neoliberal configura-se hegemônico no sistema internacional pós-Guerra Fria, apresentado como a única alternativa para os atuais problemas da humanidade. Na lição de Perry Anderson:

            "Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminando a simples idéia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm de adaptar-se a suas normas. Provavelmente nenhuma sabedoria convencional conseguiu um predomínio tão abrangente desde o início do século como o neoliberalismo hoje. Este fenômeno chama-se hegemonia, ainda que, naturalmente, milhões de pessoas não acreditem em suas receitas e resistam a seus regimes." [18]

            Para os países latino-americanos, a combinação do altíssimo grau de endividamento com a necessidade de recebimento de investimento estrangeiro (IED’s e investimento em portfólio) os tornaram reféns dos programas de ajustes estruturais do Fundo Monetário Internacional e, por extensão, da difusão de políticas econômicas ortodoxas. Escassos em capital, tais países passaram a depender do financiamento externo face à redução da capacidade dos Estados em continuarem atuando como força motriz do crescimento. Durante a década de noventa, a maior parte de seus governos (e dos países em desenvolvimento de maneira geral) tornaram-se condescendentes com a implementação dos postulados neoliberais tendo em vista a necessidade de atração de empresas estrangeiras, muitas vezes seletivas quanto às políticas econômicas adotadas.

            Para os latino-americanos e todos aqueles que buscaram desenvolver-se através da emissão irresponsável de papel-moeda e títulos de dívida pública, o resultado foi que na década de oitenta suas dívidas eram impagáveis e duas eram as alternativas: moratória (como fez o México em 1982 e o Brasil em 1987) ou empréstimos junto ao FMI, com as suas costumeiras imposições. Não fosse o fim da estabilidade da economia mundial em meados da década de 70, o FMI continuaria a ser uma alternativa para poucos, pois era mais viável arrolar as dívidas externas diretamente com os bancos internacionais, os quais, não costumam exigir cumprimento de metas de superávit primário, aumento da taxa de juros, cortes com gastos públicos, entre outras medidas. A partir da década de oitenta, no entanto, o FMI tornou-se uma espécie de morfina para inúmeros países em estado econômico terminal, pois, ao se submeterem às imposições do Fundo, não conseguiram reduzir sua vulnerabilidade aos movimentos de capitais internacionais e, ademais, praticamente perderam a autonomia decisória sobre política econômica.

            As reformas macroeconômicas, traduzidas na abertura comercial e desregulamentação da economia, realizadas em graus variados em praticamente todos os países da América Latina, implicaram novos modelos de especialização produtiva e de inserção nos fluxos internacionais de comércio. Em outras palavras, a nova macroeconomia acarretou uma nova geografia microeconômica, onde os setores da economia, antes impulsionados pelo Estado interventor, estariam lançados à sorte da competição com poderosas corporações locais e/ou estrangeiras. Na lição de Jorge Katz, as décadas de oitenta e noventa entoaram dois grandes modelos de especialização produtiva na América Latina. Os países da América do Sul, de maneira geral, diversificaram sua base de produção-exportação em recursos naturais e commodities. [19] Em tais países, ganhou participação relativa os ramos produtores de bens e serviços não comercializáveis com o exterior, as indústrias processadoras de recursos naturais e outros setores industriais que gozassem de um tratamento preferencial por parte dos respectivos governos (no caso brasileiro, v.g., pode-se citar os setores petroquímico, metalúrgico e siderúrgico).

            O México e várias economias menores da América Central, por sua vez, imergiram em um modelo intensivo em indústrias maquiladoras, originárias da imigração de plantas de empresas, a princípio norte-americanas e, posteriormente, japonesas e sul-coreanas. [20] Trata-se, na verdade, de indústrias cuja produção é voltada quase que integralmente para a exportação, na maior parte para o mercado estadunidense, e que se instalam no México e alguns países da América Central em função da baixa remuneração da mão de obra e incentivos concedidos pelos Estados receptores.

            Fato é que as reformas econômicas de cunho liberalizante posta em prática em graus diversos em toda a América Latina não surtiram os efeitos esperados de transição para o capitalismo moderno. Ainda que as reformas tenham representado o abandono de políticas demasiado permissivas para com a ineficiência produtiva, o controle fiscal e monetário, entre outras, certo é que diante de mais de duas décadas de descaso em relação às necessidades da população, "faz-se necessário substituir a visão que orientou as reformas econômicas e que se resumem no conceito de "mais mercado e menos Estado", por uma visão que denote "mercados que funcionem bem e governos de melhor qualidade". [21] Este dilema não se limita às reformas implementadas no âmbito doméstico dos países americanos, estendendo-se, da mesma forma, no âmbito multilateral de negociação da Área de Livre Comércio das Américas.


4. Área de Livre Comércio das Américas: desenvolvimento econômico ou a "bananização" definitiva da América Latina?

            A retomada do tema da integração regional na América Latina se dá em um momento de revisão do papel e da direção do Estado em relação ao mercado doméstico e internacional. A primeira onda regionalista da década de sessenta esteve marcada pela orientação cepalina de desenvolvimento através da industrialização pela substituição de importações. Tal feito seria complementado à medida que os mercados dos países vizinhos fornecessem mercadorias em substituição a terceiros países, formando, assim, uma rede de desenvolvimento regional. Por motivos que não cabem aqui serem explanados, as medidas então propostas pela CEPAL não surtiram os efeitos almejados, tendo a própria comissão modificado nos anos oitenta sua tradicional orientação desenvolvimentista pelo chamado regionalismo aberto, arraigado numa política de integração voltada para a abertura comercial.

            Esta nova orientação guarda consonância com o ambiente de emergência de uma nova agenda econômica e política e significou uma extensão das propostas que vinham sendo implementadas no plano interno dos países latino-americanos para o âmbito internacional, especificamente para o processo de integração. Nesta grandeza, os setores vulneráveis da sociedade civil seriam vítimas do desdém de seus governos não só nas políticas públicas domésticas, mas, outrossim, nos projetos de integração tal qual vinham sendo negociados. Enfatizamos neste ponto a necessidade de uma visão crítica e, antes de tudo, instrumental da integração econômica, para nós entendida menos como um fim em si mesma e mais como um meio para se atingir objetivos outros como a promoção do desenvolvimento econômico e, principalmente, o controle sobre a natureza e extensão deste desenvolvimento, pois na direção de Salvador Arriola, "sem dúvida, o eterno desafio da cooperação internacional para o desenvolvimento é o de resolver o problema das assimetrias entre os países que apresentam diferentes níveis de desenvolvimento, seja por meio de negociações unilaterais ou multilaterais." [22]

            É sugestivo, dentro deste raciocínio, verificarmos a omissão do tratado da Área de Livre Comércio das Américas em relação à temática do desenvolvimento e redução de assimetrias regionais. Capítulos inteiros da Terceira Minuta são dedicados a questões decerto importantes como serviços, propriedade intelectual, compras governamentais, entre outros. Não obstante, inexiste um capítulo específico ou mesmo um conjunto de artigos que tratem a fundo a questão do desenvolvimento. Em um continente marcado pela gigantesca assimetria econômica não só entre os países como intrapaíses, tal omissão é, ab initio, excludente dos benefícios da ampliação do livre comércio a uma série de Estados economicamente fracos e, ademais, aos atores sociais com menor poder de barganha dentro de cada Estado.O próprio acesso às negociações da ALCA é excludente, no sentido de que o lobby de setores produtivos no processo de negociação não encontra contrapartida em pequenas e médias empresas, as quais são, potencialmente, as que mais sofreriam com a formação de um livre mercado.

            Para os Estados Unidos, o aumento considerável do comércio exterior mexicano e o acúmulo de sucessivos crescimentos do Produto Interno Bruto do vizinho do sul são aclamados como mostra dos benefícios de uma área de livre comércio nos moldes do NAFTA. Preferimos um argumento menos diplomático e mais realista:

            "No sistema formado pelo NAFTA, um país é competitivo na direta dimensão de sua miséria. No México de hoje, 80% da população vive abaixo do nível da pobreza. Os salários industriais caíram de US$ 127 em 1982 para US$ 74 em 1999. O país virou um exportador de miséria, de vez que os elementos mais ativos da economia são as remessas dos imigrantes, de cerca de US$ 6,3 bilhões em 1999, e as maquiladoras. A emigração do México para os EUA aumentou de 278.229 entre 1991 e 1997, para 366.000 entre 1998 e 1999, resultado do modelo econômico perverso que gera um déficit anual de 500 mil empregos." [23]

            A abertura do mercado e as diversas reformas econômicas de cunho liberal postas em prática na maior parte dos países latino-americanos nos anos noventa, salvo raras exceções como Chile e República Dominicana, não surtiram os efeitos desejados, tendo os fluxos de investimentos crescido em países que trilharam caminhos distintos. A comparação com os países do leste asiático é um exemplo concreto de que a estabilidade de preços, a desregulamentação econômica, a abertura comercial e a rígida responsabilidade fiscal não garantem, por si só, o ingresso de investimentos estrangeiros e o crescimento econômico. [24]

            Gráfico nº 1. Participação no comércio internacional: comparação entre América Latina e Ásia, 1980-2003 (%)

            

Fonte: UNCTAD 2004

            * Não inclui o Oriente Médio e o Japão

            Gráfico nº 2. Participação em estoques mundiais de investimento estrangeiro direto: comparação entre América Latina e Ásia, 1980-2003 (%)

            

            Fonte: UNCTAD 2004

            * Não inclui o Oriente Médio, o Japão e Hong Kong

            Os dois gráficos são auto-explicativos quanto aos efeitos das políticas econômicas adotadas ao longo dos últimos vinte anos na América Latina. Os países asiáticos apresentam hoje um invejável ritmo de crescimento porque, além de não terem seguido à risca a ortodoxia liberal, souberam aproveitar-se das forças motoras da globalização, penetrando nos mercados mundiais cada vez mais interconectados e atraindo investimentos estrangeiros. Se em relação à participação no comércio internacional é evidente o atraso da América Latina em relação ao leste asiático, no que tange ao estoque de IED a posição das duas regiões é, à primeira vista, equânime, uma vez que ambas as regiões possuem um estoque global similar de acordo com o gráfico nº 2. Entretanto, os efeitos dos investimentos nas duas regiões foram bastante distintos. A correlação entre investimento estrangeiro direto e crescimento da renda per capita foi muito mais fraco na América Latina, em função de fatores como: i) orientação dos investimentos para o mercado (market seeking) ao invés da orientação para a eficiência (asset seeking), a qual possui um maior efeito sobre o crescimento, ii) concentração dos investimentos em indústrias intensivas em capital e tecnologia em que os países possuíam baixa competitividade internacional, iii) efeitos exíguos de spillover dos IED’s entre as empresas locais em virtude da baixa quantidade de tecnologia transferida e iv) redução dos investimentos internos paralelos aos investimentos estrangeiros diretos. [25]

            O contraste em relação ao IED e a participação no comércio mundial se verifica também nos índices de crescimentos das duas regiões ao longo das últimas três décadas.

            Gráfico nº 3. Taxa de crescimento médio do produto interno bruto: comparação entre América Latina e Ásia, 1970-2003 (%)

            

Fonte: UNCTAD 2004

            * Compreende a variação entre 1990 e 2003

            ** Não inclui o Oriente Médio e o Japão

            Mediante esta análise comparativa, conclui-se que a recessão das décadas de oitenta e noventa, apesar de ter havido como causa fatores de ordem estrutural da economia mundial, foi agravada nos países da América Latina e contornada pelos países do leste asiático em função de distintas estratégias de desenvolvimento adotadas.

            O objetivo deste artigo não é estigmatizar a globalização econômica ou o Consenso de Washington pelas duas décadas perdidas na América Latina, mesmo porque os países asiáticos também promoveram reformas que, apesar de que em menor grau e rigidez, foram conducentes com a proposta liberal. O grande problema é que os modelos de desenvolvimento incorporados pelas políticas públicas dos governos latino-americanos não tomaram como partida as vicissitudes regionais. Deve-se perguntar, neste sentido, qual a vantagem de se apostar em um modelo de integração que, em última instância, incorpora os ditames que colaboraram para o aprofundamento da crise econômica e social na América Latina?

            A nosso ver, mais importante do que se pensar em um modelo de integração, é necessário pensar o que se pretende com a mesma. De que maneira ela pode contribuir para diminuir a assimetria dentro dos países e entre os países? Deve-se aqui lembrar que o governo norte-americano resiste em dar um tratamento diferenciado e especial aos países de menor desenvolvimento relativo e não apóia a criação de um fundo de convergência regional para atenuar as assimetrias entre os países. "Esta posição tem sido mantida no marco das negociações multilaterais da ALCA e também na negociação bilateral dos Tratados de Livre Comércio". [26]

            É mister, portanto, reavaliar o projeto de integração que se pretende para as Américas, sobretudo por iniciativa dos países mais vulneráveis (entenda-se, todos, com a exceção dos EUA, o Canadá e talvez o México e o Chile, por já possuírem um maior grau de abertura comercial aos produtos e serviços norte-americanos). Extremamente importante é a inclusão da variável social nas discussões não só no âmbito das negociações da ALCA, como no plano interno dos países por parte da sociedade civil (empresas, universidades, sindicatos e grupos de interesses diversos) e do próprio governo. A nosso ver, tal postura envolveria, necessariamente, um modelo de integração que fosse além da competição mercadológica e do mero ganho de produtividade por parte das firmas dos Estados envolvidos. Um mínimo de interação público/privada é a chave para a promoção de um crescimento econômico aliado ao desenvolvimento econômico. [27] Na mesma direção leciona Stiglitz:

            "(...) começa-se a aceitar, contemporaneamente, que o melhor desempenho do aparato produtivo que se esperava lograr a partir do jogo automático dos mercados só se alcançaram em parte e vastos setores da sociedade foram excluídos do mesmo. Começa-se também a escutar, tanto no meio acadêmico, quanto no âmbito político, vozes que reclamam ir além do ‘Consenso de Washington’ e começar a explorar novas idéias de construção de marcos regulatórios, políticas de desenvolvimento produtivo e tecnológico, ações de fomento à economia e assegurar uma maior equidade na distribuição dos benefícios da modernização do aparato produtivo. Em tais direções, serão necessárias novas formas de ‘ingerência institucional’, novos modelos de interação público/privado, etc." (tradução livre) [28]- [29]

            A estratégia de muitos países na negociação tem sido conceder naquilo que possuem menor produtividade desde que recebam concessões nos setores em que são mais competitivos. Neste diapasão, a adoção de uma Área de Livre Comércio das Américas em nada alteraria a nova geografia microeconômica da América Latina, mas, certamente, acentuaria a concentração de produção de bens-naturais/commodities ao sul e a migração de maquiladoras para demais países além do México.

            A referida estratégia, corolário do dogma do benefício do livre comércio, é, na verdade, reflexo das teorias de comércio internacional, baseadas em situações ideais nem sempre capazes de incorporar variáveis importantes como a influência do poder político e econômico dos Estados para o cumprimento ou descumprimento das regras do jogo. Em uma situação ideal, a concentração produtiva nos setores mais competitivos e nas atividades onde há abundância dos respectivos fatores de produção (para Heckscher e Ohlin, capital e trabalho) dentro de cada Estado traria ganhos relativos a todos os envolvidos. Talvez seja dentro desta mesma lógica que Bahamas e demais países caribenhos se engajam com estoicismo no desenvolvimento de suas economias, exportando bananas e importando bens manufaturados dos Estados Unidos.

            A abrupta e descontrolada liberalização comercial em grande parte dos países ao sul dos EUA na década de noventa tem contribuído para a concentração produtiva em commodities e bens primários, concomitantemente ao ingresso cada vez maior de produtos manufaturados importados ou produzidos por firmas estrangeiras estabelecidas nestes países.

            Enfim, dependendo do formato do Tratado da Área de Livre Comércio das Américas e da capacidade dos países mais vulneráveis de barganharem condições justas de competitividade tanto de setores voltados para a exportação quanto de setores importantes para a geração de renda e emprego, pode-se estar selando o caminho definitivo em direção à "bananização" generalizada da América Latina.


Considerações Finais

            Dentro do enfoque adotado neste artigo, pode-se caracterizar a criação da ALCA como uma estratégia por parte dos EUA para assegurar um maior acesso a um mercado em disputa pelas demais potências econômicas surgidas no pós-Guerra Fria. Tal como se percebe, a formação de uma Área de Livre Comércio das Américas rompe com o histórico de integração regional na América Latina e Caribe em que, desde a década de sessenta, os EUA não manifestaram qualquer interesse. Com providência ensina Clodoaldo Bueno:

            "Há cem anos, os norte-americanos inspiraram-se no então relativamente recente e bem sucedido Zollverein alemão para formular, em nome do Pan-Americanismo, a ousada proposta de integração econômica, na qual não faltou, até, a sugestão de moeda comum. A ALCA tem em comum o integracionismo da virada do século XIX para o XX, o ambiente econômico mundial (triunfo das idéias liberais) e a busca do reforço da hegemonia dos EUA sobre o hemisfério. Inspirada, como não poderia deixar de ser, para atender aos interesses norte-americanos, a ALCA deve ser examinada com cautela, como tudo, aliás, que se refere às relações externas do país." [30]

            A nosso ver, a despeito de uma visão mais radical no sentido de atribuir à criação da ALCA um reforço da hegemonia dos Estados Unidos sobre o novo continente, trata-se, no mínimo, da retomada mais acentuada de objetivos comerciais sobre o hemisfério diante da concorrência de demais países e blocos regionais. Tal concorrência se dá, por um lado, no interior do continente, através de acordos de livre comércio internos, como os acordos entre Mercosul e Comunidade Andina, sem a participação norte-americana. E, por outro lado, de fora do continente, sendo as negociações do Mercosul com a União Européia representativas do perigo para os EUA em não consolidar uma integração regional de abrangência hemisférica.

            A estratégia americana tem sido minar a posição autônoma de blocos sub-regionais como o Mercosul, através de acordos bilaterais. A experiência dos países em desenvolvimento nas negociações multilaterias, a partir da Rodada de Doha, ao constituírem o chamado G-21, pode ser um modelo a ser seguido pelos países em desenvolvimento no processo de negociação da ALCA. Os países que ainda não firmaram tratados bilaterais de livre comércio com os EUA, ao que parece, figuram contrários à manutenção dos temas estabelecidos no início do processo de negociações em toda sua extensão. Na Conferência Ministerial de 2003 uma solução para o impasse seria a adoção de dois níveis compromissos. Um núcleo com um mínimo de compromissos em todas as áreas temáticas e aplicáveis a todos os países (ALCA light) coexistiria com compromissos oriundos de acordos bilaterais ou plurilaterais. Paralelamente, os EUA costuraram acordos de livre comércio com Colômbia, Bolívia, Equador, Peru, Panamá e República Dominicana.

            A estratégia dos Estados Unidos parecia ser abranger a maior parte de países americanos de maneira a "driblar" as negociações ministeriais, onde a intransigência de blocos como o MERCOSUL limitavam a imposição de suas posições no âmbito hemisférico diretamente. Tal estratégia, por sua vez, não garante o acesso ao mercado dos países envolvidos da mesma maneira que uma eventual Área de Livre Comércio das Américas, mesmo porque vários são os países que possuem acordos bilaterais ao mesmo tempo com os EUA e com terceiros países ou blocos regionais. [31]

As discussões sobre a liberalização do comércio foram notadamente conduzidas para o plano multilateral, por influência dos EUA, desde a criação do GATT em 1948. Contudo, a desconfiança em relação ao regionalismo foi revisada a partir dos anos noventa. Este fenômeno, em certa medida, pode ser explicado pela redução da capacidade dos Estados Unidos em ditarem as regras do regime multilateral do comércio. A primeira reunião das Américas em 1994 na cidade de Miami é o ponto de partida do projeto norte-americano no pós-Guerra Fria para a América Latina e Caribe. O regionalismo passou a ser uma alternativa aos entraves à liberalização multilateral, a qual tornou-se evidente na Rodada Uruguai:

            "É quando os EUA, como alternativa ao multilateralismo, como uma espécie de seguro contra possibilidade do fracasso da Rodada Uruguai, vai começar a negociar o primeiro acordo de livre comércio com o Canadá, Israel e depois o NAFTA, no qual, o Canadá e os EUA negociam com o México. O curioso não é tanto que isso tenha ocorrido nesse momento, mas que tenha se mantido depois do êxito da Rodada Uruguai, porque a Rodada deveria, em princípio, ter desencorajado os esquemas regionais." [32]

            Os acordos regionais para os EUA são claramente uma alternativa ou, em certos casos, um complemento às negociações multilaterais no âmbito da OMC. Os países latino-americanos, por sua vez, participam de um jogo de negociações complicado, uma vez que por mais que se tente sopesar o poderio americano através de acordos com outros blocos econômicos, a União Européia, v.g., têm-se mostrado ainda mais intransigentes que os EUA no que tange a temas de como a redução dos subsídios agrícolas, atualmente perfazendo o montante de cem bilhões de dólares anuais (o dobro dos subsídios norte-americanos).

            Enfim, a suspensão das negociações da ALCA desde a reunião de Puebla em fevereiro de 2004 e o fracasso na implementação da sua terceira minuta em janeiro de 2005 parecem ter sido demonstrações suficientes de que os impasses experimentados pelos EUA nas negociações nas Rodada de Doha do GATT/OMC repetiram-se e repetir-se-ão nas negociações hemisféricas. Resta saber até que ponto a estratégia de difusão dos acordos bilaterais com países americanos serão eficientes para limitar a resistência de determinados países e blocos regionais como o MERCOSUL, sem que isso implique a adoção de uma ALCA incompleta, na qual figurem ausentes mercados almejados pelas empresas norte-americanas como o brasileiro e o argentino.


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Notas

            01 WHITAKER, 1964, apud BUENO, Clodoaldo. Pan-Americanismo e projetos de integração: temas recorrentes na história das relações hemisféricas (1826-2003). In: Política Externa. São Paulo: Paz e Terra, Vol. 13, nº 1, Jun/Jul/Ago de 2004, p. 66.

            02 Perda talvez maior para o ideário de uma união das repúblicas hispano-americanas seria vivenciado pelo libertador Simón Bolívar em menos de três anos após o Congresso com a fragmentação da Grande Colômbia nos quatro Estados que a compunham: Colômbia, Venezuela, Peru e Bolívia.

            03 BUENO, op. cit., p. 67.

            04 NIARADI, George Augusto. A integração econômica nas Américas: ALADI e ALALC – MERCOSUL – NAFTA – ALCA.In: MENEZES, Wagner. (org.) Estudos de Direito Internacional: anais do 2º Congresso Brasileiro de Direito Internacional. Volume. I Curitiba: Juruá, 2004, p. 420.

            05 Durante este período foram criados dois novos blocos na América, o North American Free Trade Agreement - NAFTA (1994) e o Mercado Comum do sul - MERCOSUL (1991). As negociações nos blocos já existentes ganham novo impulso após décadas de inércia. Paralisado desde 1969, o MCCA tem suas negociações retomadas em 1991, com a institucionalização das reuniões presidenciais periódicas. A reunião presidencial dos países da Comunidade Andina em 1989 e o estabelecimento do Conselho Presidencial Andino em 1990 trazem também um novo estágio para este bloco. O fortalecimento do regionalismo se dá de maneira análoga em outros continentes e, na Europa, de forma ainda mais acentuada, com a assinatura do Tratado de Maastricht em 1992 dando origem à União Européia.

            06 Pode-se citar como exemplo de variáveis endógenas aos Estados, a compatibilidade de regimes e instituições políticas, estabilidade macroeconômica, união histórica e condições geográficas favoráveis à integração.

            07 MALAMUD, Andrés. Integração regional na América Latina: teorias e instituições comparadas In: ESTEVES, Paulo Luiz (org.). Instituições Internacionais: segurança comércio e integração. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2003, p. 334.

            08 ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Brasília: Edunb, 1987, p. 153.

            09 HOBSBAWM, Eric Jonh. A Era dos Extremos, 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 272.

            10 National government are no longer necessarily the locus of power. Power is parceled out among different agents, national, regional, and international, public and private. The state now shares center stage with other entities such as international organizations like World Bank and the International Monetary Fund, with non-governmental organizations like Greenpeace and Amnesty International, and with multinational corporations, or perhaps, there is no longer a center stage at all but rather a multiplicity of sites, some real, some virtual, where global transactions are governed.

            11 Curiosamente, a atrofia regulatória do Estado diante do crescente fluxo de bens, capitais e serviços não se deu da mesma forma em relação ao fluxo imigratório. Ainda que tenha havido aumento no número de imigrantes originários de países pobres para os países desenvolvidos durante o boom econômico do período de 1945 a 1973, tais imigrantes seriam alvos constantes de xenofobia pública logo nas primeiras recessões mundiais da década de setenta (HOBSBAWM, op. cit., p. 272).

            12 ROSENAU, op. cit., p. 49.

            13 "The rapid growth and maturation of the multi-centric world can in good part be traced to the extraordinary dynamism and expansion of the global economy. And so can the weakening of the state, which is no longer the manager of the national economy and has become, instead, an instrument for adjusting the national economy to the exigences of an expanding world economy".

            14 HOBSBAWM, op. cit., p. 270.

            15 HOBSBAWM, op. cit., p. 267.

            16 PINHO, D. Benevides. Evolução da Ciência Econômica. In: PINHO, D. Benevides & VASCONSELLOS. Marco Antônio Sandoval de. (orgs.). Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 55-60.

            17 Pelas finalidades deste artigo, nos dedicamos apenas superficialmente a esta terceira dimensão. Para um estudo mais detalhado do tema, vide VADELL, Javier. O papel dos think tanks na construção da hegemonia neoliberal. In: ESTEVES, Paulo Luiz (org.). Instituições Internacionais: segurança comércio e integração. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2003, p. 376-401.

            18 ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.). Pós-Neoliberalismo. As políticas sociais e o Estado democrático. 4ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 23.

            19 KATZ, Jorge. Cambios en la estructura y comportamiento Del aparato productivo latinoamericano en los años 1990: después del "Consenso de Washington", ¿qué?. In: Serie Desarrollo Productivo, nº 65. Santiago: Red de Reestructuración y Competitividad, División de Desarrollo Productivo y Empresarial de CEPAL, 2000, p. 11.

            20 KATZ, op. cit., p. 35-45.

            21 KATZ, op. cit., p. 16.

            22 ARRIOLA, Salvador. Economia e política externa na América Latina. Política externa e processo de integração. As assimetrias e a integração: o começo de uma resposta. In: Política Externa. São Paulo: Paz e Terra, Vol. 2, nº 2, Set/Out/Nov de 2002, p. 99.

            23 NORONHA, Durval de Goys Jr. O Mercosul, a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). In: In: BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. (coord.). O Brasil e os novos desafios do direito internacional. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 147.

            24 Via de regra, os países do leste asiático que mais receberam investimentos estrangeiros durante a década de noventa (Taiwan, Coréia do Sul, Hong Kong, Cingapura e China) lograram estabelecer um equilíbrio macroeconômico e uma abertura comercial acentuada. No entanto, adotaram determinadas medidas que fizeram o diferencial para o crescimento de suas economias como grandes investimentos governamentais em infra-estrutura, educação e pesquisa, concessão de subsídios, crédito e outras formas de fomento a setores industriais estratégicos, intervenções dos Bancos Centrais para a manutenção de uma taxa de câmbio competitiva às exportações, entre outras.

            25 NUNNENKAMP, Peter. Por que o desempenho econômico e a competitividade internacional diferem tanto entre a América Latina e a Ásia. In Cadernos Adenauer. Ano IV, nº 4. Experiências asiáticas: modelo para o Brasil? Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, novembro de 2003, p. 16-18.

            26 CARO, Ariela Ruiz. Repercusiones del fracaso de la OMC en Cancún en la conformación del ALCA. In: ESTAY, Jaime & SÁNCHEZ, Germán (coord.). El ALCA y sus peligros en América Latina. Buenos Aires: Consejo Latino Americano de Ciencias Sociales, 2005, p. 131.

            27 Enquanto crescimento econômico diz respeito ao "aumento contínuo do produto interno bruto em termos global e per capita", desenvolvimento econômico pode ser caracterizado pela existência dos seguintes elementos ao longo do tempo: 1) crescimento do bem-estar econômico, medido por meio dos indicadores de natureza econômica, como, por exemplo: produto nacional total, produto nacional per capita; 2) diminuição dos níveis de pobreza, desemprego e desigualdade e 3) melhoria das condições de saúde, nutrição, educação, moradia e transporte – MILONE, Paulo César. Crescimento e Desenvolvimento Econômico: teorias e evidências empíricas. In: PINHO, D. Benevides & VASCONSELLOS. Marco Antônio Sandoval de. (orgs.) Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 514.

            28 STIGLITZ, apud KATZ, op. cit., p. 10.

            29 "(...) comienza contemporáneamente a aceptarse que el mejor desempeño del aparato productivo que se esperaba lograr a partir del juego automático de los mercados solo en parte se ha alcanzado y que vastos sectores de la sociedad han quedado excluidos del mismo. Comienzan también a escucharse, tanto en el medio académico como en el ámbito político voces que reclaman ir más allá del ‘Consenso de Washington’ y comenzar a explorar nuevas ideas en lo que hace a marcos regulatorios, políticas de desarrollo productivo y tecnológico, acciones de fomento a la economía y asegurar una mayor equidad en la distribución de los beneficios de la modernización del aparato productivo. En estas direcciones serán necesarias nuevas formas de ‘ingeniería institucional’, nuevos modelos de interacción público/privado, etc".

            30 BUENO, op. cit., p. 74.

            31 A iniciativa Chilena e Mexicana ilustra a postura de um "realismo comercial". Ao mesmo tempo que se firmou uma série de Tratados de Livre Comércio com os EUA, outros acordos bilaterais foram estabelecidos com a União Européia, Japão, países do leste asiático, entre outros.

            32 RICUPERO, Rubens. As Relações EUA – América Latina e a Integração. In: América Latina: Globalização e Integração. Belo Horizonte: Edições Fiemg, 1997, p. 82

 

Acesso em: 10 de outubro de 2005

Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7376