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Os custos da guerra para a América Latina

 

René Berardi

 

 

A América Latina sofrerá graves e complexos efeitos econômicos, políticos e sociais após a guerra terminar. Dentre os impactos possíveis está o aumento do preço do petróleo, cuja magnitude dependerá do desenvolvimento e duração do conflito bélico.

 

Algumas consultoras internacionais já prevêem um aumento de pelo menos 10 dólares preço do petróleo com um tremendo impacto no sistema econômico internacional. Neste sentido, este aumento vai provocar efeitos inflacionários o que pode também levar a programas de racionamento de combustíveis, visando manter as reservas estratégicas.

 

O protagonismo que estão assumindo as organizações civis que se opõem à guerra pode levar a um processo de instabilidade política naqueles países que apóiam os EUA na guerra contra o Iraque.

 

No entanto, este cenário pode ir contra a situação econômica da América Latina que estava melhorando antes do começo da guerra. Durante 2002, o PIB regional foi -0.5 %, provocado principalmente pelas crises da Argentina e da Venezuela. As previsões para 2003, desde que não se aprofunde os conflitos internacionais, apresentam um crescimento entre 1,5 % a 2,0 %, e, caso mantenha-se esta tendência, poder-se-ia chegar a um crescimento de 4,0% para 2004, segundo estimações do Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID.

 

A crise também vai se manifestar pela forma que os EUA pretende financiar esta guerra. Tradicionalmente este país tem pagado as guerras com aumento dos impostos, no entanto, o presidente Bush esta decidido a mudar a história, neste como em muitos outros aspectos.

 

Bush não pretende aumentar os impostos, mas sim diminuí-los em US$ 726 bilhões em 11 anos. As contas no vermelho não o detém, pois o governo americano projeta um déficit fiscal de US$ 304 bilhões para 2003 e mais de um trilhão entre 2004 e 2008. Mas o pior ainda está por acontecer, pois nestas projeções não estão incluídas as despesas pela guerra, que podem alcançar US$ 76 bilhões, segundo o solicitado por Bush ao senado.

 

Esta situação, pode estar hipotecando o futuro, pois a economia americana vai ficar com uma divida enorme que deverá ser financiada nas próximas gerações.

 

Existem três motivos pelos quais o conflito com o Iraque pode prejudicar a América Latina nos próximos anos.

 

Primeiro, a guerra e a pós-guerra vão continuar tendo a atenção de Busch durante grande parte de seu mandato, com isso os planos para a América Latina podem ficar engavetados até novo aviso. A reconstrução do Iraque terá alta prioridade como forma de melhorar sua imagem internacional. O presidente americano convocará uma conferência sobre a paz no médio oriente.

 

Segundo, a guerra pode provocar uma queda da atividade industrial na economia americana e européia o que pode fazer cair às exportações latino-americanas, além de criar mais dificuldades para obter créditos e investimentos.Convém destacar que o índice de confiança do consumidor americano, em março, chegou a 62,5 pontos, o mais baixo desde 1993, o qual é explicada pelas incertezas com relação à guerra, a alta do petróleo e possíveis atentados terroristas.

 

Terceiro é a geração de tensões diplomáticas entre América Latina e EUA, onde quase todos os paises, exceto Colômbia e El Salvador, se declararam contra a guerra.

 

O crescimento da União Européia também vai sofrer os efeitos da guerra, pois se esperava um crescimento de 1,8% em 2003, mas agora se espera um crescimento de 1,0%, provocado pelo possível aumento do preço do petróleo.

 

Uma vitória de Bush na guerra pode gerar a criação de um novo eixo EUA – Inglaterra – Espanha, que pode enfraquecer a parceria entre EUA – Canadá – México, pelo fato de México e Canadá negarem os votos para os EUA no conselho de segurança da ONU.

 

A guerra também pode provocar atraso na implementação da Área de Livre Comércio das Américas, ALCA, pois poderia perder importância por causa da guerra e seu desenvolvimento.

 

O Brasil pode sofrer um efeito de retração no crescimento previsto para 2003 (entre 2,0 a 2,5 %), com uma possível queda no dinamismo das exportações, além de poder comprometer as metas de inflação e do superávit fiscal primário.

 

A batalha diplomática entre EUA e o resto do mundo está ainda começando. Tudo dependerá da maneira que os EUA ganharem a guerra.

 

 

 

 

 

 

Retirado de: http://www.consultores.com.br/artigos.asp?cod_artigo=211