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Peru: termina a primavera democrática?

 

René Berardi

 

 

 

Peru enfrenta uma das maiores crises políticas após assumir o Presidente Alejandro Toledo. Protestos de estudantes, professores, agricultores e trabalhadores realizados nas ultimas semanas estão gerando um ambiente de instabilidade política. Como resposta a esta situação o governo achou por bem pôr os militares na rua através da implantação do estado de emergência que dá plenos poderes aos militares para manter a ordem pública. O resultado foi fortes enfrentamentos que deixaram um morto e 70 feridos.

 

Mas, quais são as causas desta situação?

 

Tive a oportunidade de estar em Lima no período que estas crises estavam começando. Conversando com diversas pessoas pude comprovar que existe uma descrença muito grande na figura do Presidente Toledo, provocada pela falta de cumprimento de promessas apresentadas durante a campanha eleitoral, muitas vezes sobre dimensionadas frente aos recursos disponíveis. Outro fator comentado pela população é a insegurança nas decisões políticas, no sentido que o presidente fala um idioma e os ministros outro, o que leva a população a ficar muito desorientada e a não dar credibilidade às decisões políticas. No fundo, a sensação popular é que o governo não tem uma direção clara e definida. Isto afeta também a base de apoio político ao governo, que tem apresentado um forte desgaste, sem unificação nas propostas, briga de interesses e falta de diálogo com a população. O desgaste do presidente é muito grande, chegando a um 70% de rejeição, agravado ainda mais pela falta de autoridade demostrada na instalação do Estado de Emergência que suspendeu os direitos individuais e que permite deter sem ordem judicial. Todos os indicadores sinalizam que será necessário realizar uma mudança de ministros, o qual pode ser realizado no 28 de julho, na data da independência nacional.

 

“Mais que um câmbio de ministros, hoje se precisa de um mudança na atitude do presidente”, foi o expressado por um consultor com quem tive contato. Neste momento, o presidente Toledo precisa gerar "um impacto de confiança", chamando às principais lideranças para realizar consultas permanentes sem que represente uma perda de poder, alem de convidar sindicatos e os diversos setores sociais a discutir abertamente o orçamento nacional para mostra transparência no uso dos recursos. No fundo, é necessário criar uma aliança ampla com interesses nacionais comuns.

 

Na área econômica os resultados macroeconômicos são satisfatórios. O Peru foi o país que mais cresceu em 2002, com um crescimento do PIB de 5,2% e a projeção para 2003 mantém o PIB em 4,5%, sendo que no primeiro trimestre deste ano alcançou a 5,1%. Este bom resultado está concentrado nos setores mineiro, agrícola e de serviços. Para 2004 se manteria o dinamismo da economia com um PIB estimado de 4,8%. No entanto, muita gente se pergunta: para onde foi este crescimento, pois não aparecem importantes resultados sociais?

 

Um fato interessante foi durante minha estadia em Lima, além de vivenciar o “terremoto político” que estava acontecendo no país, tive a oportunidade de sentir os efeitos de vários tremores sísmicos que fizeram balançar os prédios da capital, parecendo também que embaixo da terra o Presidente Toledo também tinha gente fazendo protestos.

 

No entanto, uma coisa não tem mudado no país, a gentileza e o carinho que o povo peruano oferece ao visitante, sem esquecer que a cozinha peruana é uma das mais variadas e saborosas, na qual sempre é agradável jantar um “ceviche” acompanhado de um bom “pisco sour”.

 

 

 

 

Retirado de: http://www.consultores.com.br/artigos.asp?cod_artigo=209