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Os mistérios da política chinesa

 


 

Marcio Chalegre Coimbra

 


O Partido Comunista Chinês acaba de realizar seu 16º Congresso Geral. A tendência daquilo que se especulava há meses se confirmou: a ascendência de Hu Jintao como a principal liderança daquele país, em substituição a Jiang Zemin. A China, último gigante comunista vivo, confirma, por meio desta transição, a entrega do poder para uma quarta geração de políticos socialistas desde a revolução. O fato, entretanto, não recebeu a cobertura merecida, apesar da enorme relevância que possui no cenário internacional.

Até a realização do Congresso do PCC, Jiang Zemin reinava absoluto na política chinesa. O líder de 76 anos acumulava os postos de Secretário-Geral do PCC, Presidente da República Popular da China e Chefe da Comissão Militar Central. Entretanto, enganam-se aqueles que acreditam que este seja o afastamento definitivo do antigo líder das esferas de poder. Zemin, nos bastidores, costurou de maneira hábil um novo governo que possui pessoas de sua extrema confiança em postos considerados estratégicos. Será uma transição lenta, cuidadosa e gradual – e não termina com a condução de Hu Jintao ao comando do partido comunista.

O gradual afastamento de Zemin do poder acarretou a saída de toda uma geração da elite política chinesa. Juntamente com ele, deixam seus cargos os principais líderes do Comitê Permanente, entre eles: Li Peng, chefe do Parlamento e principal articulador das repressões contra estudantes na Praça da Paz Celestial em 1989 e Zhu Rongji, primeiro-ministro responsável pela economia nos últimos anos, ambos com 74 anos. Os bastidores indicam que estes afastamentos foram negociados para que o reformista político e principal rival de Zemin, Li Ruihuan, de 68 anos, também deixasse o poder. Jiang Zemin deixa o centro de decisões, mas leva seu principal rival para fora da esfera de poder.

Zemin, dentro da história comunista chinesa iniciada por Mao Tse Tung e seguida por Deng Xiaoping, deixou sua marca quando conseguiu inserir sua teoria das três representações na Constituição do PC. Esta tese defende a ampliação da base do partido, ou seja, a inclusão de novos grupos sociais, como empresários. A teoria afasta o partido de suas antigas bases revolucionárias defendidas por Mao, como camponeses e operários. Na realidade, talvez seja uma tentativa de o partido obter algum fôlego para continuar a viver dentro de uma estrutura política extremante fechada.

A política chinesa é emblemática. Não há democracia e as decisões nascem essencialmente de três órgãos: Comitê Central, com 356 membros; Politburo, com 22 membros e Comitê Permanente, ampliado de 7 para 9 membros na última semana. Zemin indicou a maioria dos membros da nova composição do Comitê Permanente, órgão de maior importância, logo, a tendência é de que continue a exercer forte influência no governo de Pequim.

O socialismo continua sendo a marca principal da política chinesa. Tanto Hu Jintao, como Jiang Zemin declararam total apoio ao regime. Jintao afirmou sua fidelidade ao socialismo ao estilo chinês de Mao, Xiaoping e Zemin. Este, em discurso, assegurou que deve-se continuar, com confiança, a impulsionar a grande causa do socialismo com características chinesas. Percebe-se que não há perspectiva de mudanças que visem a democracia no horizonte político chinês.

Jintao, principal nome da política chinesa atual e principal representante da quarta geração, não governará sozinho. Zemin, que deixa a Presidência da República em março, ainda não acenou com a possibilidade de deixar também o comando da Comissão Militar Central. Além disto, Hu Jintao deverá viver com a sombra de Zeng Qinghong, eficiente e antigo assessor de Zemin. Zeng é membro do Comitê Permanente e foi o responsável pela aproximação de Pequim com Washington, além de já ter realizado negociações com Taiwan e Japão. É um hábil articulador político e entende o papel da China no cenário internacional. Logo, percebemos que a transição na China está longe de ter sido tranqüila, pois ainda está em curso. Os mistérios da política chinesa são, por vezes, indecifráveis. Hu Jintao terá muito trabalho pela frente.

 

 

Fonte:http://www.mundolegal.com.br