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Inteligência
Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl
Doutor em Inteligência Aplicada, Procurador da Fazenda
Nacional, ex-Promotor de Justiça e desenvolvedor autorizado da Fundação para o
desenvolvimento da Universal Networking Language - UNL (Genebra).
Existe um projeto de pesquisa em andamento no Brasil, para aplicação de
inteligência artificial no Conselho de Segurança da ONU. Seu objetivo é
melhorar ainda mais a qualidade das suas decisões e dar mais velocidade ao
andamento das discussões e deliberações. O nome do projeto é Sistema Olimpo, e
a relevância do assunto dispensa maiores comentários.
As tecnologias que compõe O Sistema Olimpo (que já está patenteado), geraram
mais de 10 publicações em eventos científicos internacionais nos últimos anos
(EUA, China, França, Espanha, Noruega, Escócia, Inglaterra e Alemanha). Além
disso, são objeto de três livros publicados, de uma tese de doutorado e duas
dissertações de mestrado concluídas e mais duas teses de doutorado e quatro
dissertações de mestrado em andamento.
A equipe de desenvolvimento do Sistema Olimpo pretende que ele seja uma
importante contribuição brasileira para o entendimento entre as nações, tendo
em vista que democratiza o acesso ao conhecimento do seleto círculo do Conselho
de Segurança da ONU, o que faz do sistema uma importante contribuição
tecnológica para a paz mundial. Decisões mais rápidas, mais precisas e mais perfeitas
seguramente terão mais legitimação internacional, favorecendo a criação de um
cenário mais justo. De quebra, ele também está sendo um importante instrumento
de demonstração da capacidade tecnológica detida pelo Brasil, na área de
softwares para gestão do conhecimento.
Por outro lado, existe um novo e fascinante campo de estudo da ciência
contemporânea, chamado de Robocup. Além de um forte campo de provas da Robótica
e da Inteligência Artificial, a Robocup é um novo esporte tecnológico que está
nascendo, pois coloca os robôs para jogarem futebol, e também realiza
competições de resgate e salvamento.
O um dos principais objetivos da Robocup é construir um time de autômatos que
vença um time de humanos no ano de 2050. Não qualquer time, mas o vencedor da
Copa do Mundo. É um objetivo ousado e, ao mesmo tempo, significativo para a
humanidade, pois criatura e criador têm data marcada para se encontrar.
Importantes aplicações surgirão em decorrência dessas pesquisas, nos mais
variados campos, incluindo as áreas jurídica, médica e militar. Pensando nisso,
estavam presentes ao evento empresas de grande visão de futuro, como a Honda,
por exemplo, que apresentou um robôt em formato humano (com pernas e braços)
que sobe e desce escadas.
Mas, vc deve estar se perguntando, qual é a ligação entre ONU e Robocup ?
Vou explicar. Um dos fundamentos do Sistema Olimpo é uma tecnologia chamada de
Representação do Conhecimento Contextualizado Dinamicamente (RC2D). Sua função
é fazer com que o conhecimento de uma área específica seja traduzido para as
máquinas da forma mais precisa possível, considerando sua contextualização e
buscando proximidade com sua constante mutabilidade e evolução. O objetivo da
RC2D é que a interação entre máquinas e humanos seja a mais perfeita possível.
Ocorre que a RC2D, originariamente desenvolvida para as resoluções do Conselho
de Segurança da ONU, pode ser aplicada a outras áreas do conhecimento, como
informações telefônicas, mineração de textos, documentos administrativos,
decisões e súmulas judiciais, notícias de jornais e revistas, defesa do
consumidor, sites na internet (busca) e outras.
Como todo brasileiro é apaixonado por futebol, surgiu a idéia de aplicar esta
inovação na área da robótica futebolística. A confirmação veio de um diálogo
com a professora Manuela Veloso, campeã mundial de futebol de robôs e
professora de inteligência artificial na universidade Carnegie Mellon, em
Pittsburgh, nos EUA. Trata-se de uma das maiores cientistas em atividades no
mundo, atualmente. Ela foi a organizadora do primeiro congresso de Robocup das
Américas, com competições e debates científicos. O Brasil esteve representado
por pesquisadores do Ijuris (Instituto Jurídico de Inteligência e Sistemas), os
quais, além de observarem as competições, participaram do fórum de discussões,
apresentando um trabalho de pesquisa selecionado pela organização do evento.
A idéia central do trabalho brasileiro consiste no fato de que um time de
autômatos jamais terá condições de enfrentar um time de humanos, em condições
de igualdade, se não tiver profundos conhecimentos sobre a tradição, o ambiente
e a história do futebol, e propõe a RC2D como solução para esta questão,
através da análise do conhecimento empírico contido em documentos (estruturados
e não-estruturados), bases de dados, em notícias de jornais e revistas e também
na memória viva de grandes especialistas. Os robôs precisarão saber um pouco
mais sobre conceitos como "cama de gato", "drible da vaca",
"chuveirinho", "caneta", "chapéu",
"peixinho", "carrinho", "folha seca",
"efeito", "tabelinha", "sarrafo",
"catimba" e outros importantes conceitos empíricos do futebol, muitos
dos quais responsáveis pelo sucesso do Brasil nesse esporte.
O trabalho, batizado de Soccer Intelligence (ou Inteligência Futebolística)
foi apresentado pela equipe brasileira no I Robocup American Open Workshop,
encontro científico realizado junto com as competições, no início do mês de
maio, na universidade Carnegie Mellon, e teve uma receptividade bastante
positiva.
A equipe brasileira dará sequência a esta pesquisa, e estará presente no evento
mundial, na Itália, em julho, já com o objetivo de coletar dados e informações
sobre o desempenho das equipes e dos craques cibernéticos, para que possam ser
comparados com os times e jogadores tradicionais. Vale lembrar que o Brasil é
dominante em praticamente todas as modalidades de futebol praticadas no planeta
(campo, praia, salão, sete), e está na hora de marcar uma presença mais efetiva
nessa nova variação tecnológica do popular esporte bretão. Além disso, este
também é um importante campo de experimentação e validação da RC2D e de outras
soluções tecnológicas responsáveis pela eficiência do Sistema Olimpo.
Por último, vale lembrar que este tipo de esporte tecnológico desperta a atenção
de um público especializado, no início de suas atividades, mas que tende a se
tornar uma forte referência para o público em geral, assim com aconteceu com a
Fórmula 1. No congresso de Pittsburgh, as galerias estavam sempre lotadas,
reflexo de dois fatores: a ótima organização do evento e, claro, o grande
interesse do público em ver os robôs jogando futebol.
Retirado de: www.conjur.com.br