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Segurança em foco

Bush já deve estar se acostumando as vitórias que vem obtendo no front interno. Esta semana ficará marcada na história dos Estados Unidos como aquela em que mais se avançou em termos concretos para proporcionar mais segurança para seu povo. No mesmo período em que é comemorado o Dia de Ação de Graças, o Presidente criou oficialmente o Departamento de Segurança Doméstica e a Comissão Independente para investigar as falhas na prevenção dos ataques de 11 de setembro, além de ter assinado a “Terrorism Insurance Bill”.

A criação do Departamento de Segurança Doméstica é a maior reestruturação governamental nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, quando o país havia conhecido outro ataque ao seu território, em Pearl Harbor, Havaí. Após a criação deste órgão, o governo norte-americano passa a ter 15 departamentos. O nome escolhido para guiar esta importante estrutura de segurança é Tom Ridge, ex-governador da Pensilvânia, que renunciou ao cargo eletivo após os ataques terroristas para assumir a posição de Diretor do escritório de Segurança Doméstica da Casa Branca. O atual secretário da Marinha, Gordon England, será o vice-secretário.

O novo Departamento concentrará vários órgãos governamentais que antes desta reestruturação estavam espalhados por outras oito estruturas federais ou não existiam. Por exemplo, serão incorporados ao novo órgão comandado por Ridge, o Serviço Secreto (antiga atribuição da Secretaria do Tesouro), Serviços de Alfândega, Guarda Costeira, parte do Serviço de Imigração e Naturalização, além da recém criada Agência de Segurança nos Transportes. Ao todo, passarão a atuar de maneira organizada e harmônica 22 agências e repartições que poderão, por meio da troca ágil de informações, prevenir a possibilidade de ações que atentem contra a segurança interna do país.

Ao contrário do que foi noticiado, a ausência de dois órgãos importantes dentro desta estrutura não é surpresa. A Agência Central de Inteligência (CIA) e o FBI deverão manter sua estrutura independente. A autonomia destes órgãos é fundamental para o trabalho de investigação, inteligência e contra-inteligência.

Do ponto de vista político, George W. Bush está agindo da maneira correta, visto que está redirecionando o Estado americano para suas reais funções, ou seja, diminuindo a intervenção do Estado na economia e incrementando o aparato de segurança. Um lugar seguro é fundamental para o livre desenvolvimento dos indivíduos dentro de uma economia aberta. Neste sentido foram reorientadas políticas de inteligência para ações contra o terrorismo via troca ágil de informações, aumento do número de analistas com habilidades em línguas estrangeiras e o mais importante: o retorno das tradicionais operações de inteligência com agentes no exterior. Com o incremento orçamentário, estima-se que a inteligência poderá contar com cerca de 35 bilhões de dólares no próximo ano.

A criação da Comissão Independente também é um grande passo para evitar novos ataques. O trabalho deste grupo será avaliar as falhas na prevenção do ataque de 11.09 e, com base neste estudo, sugerir medidas que possam tornar o país mais seguro. Será composta por 5 republicanos e 5 democratas que não possuem mandato atualmente no Congresso e será chefiada por Henry Kissinger, o mais respeitado analista de relações internacionais da história recente. Kissinger foi Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado de dois Presidentes: Richard Nixon e Gerald Ford. Professor da Universidade de Harvard, foi responsável pelas negociações de reaproximação entre China e Estados Unidos, além ter sido agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Atualmente é residente da cidade de Nova York. Americano por opção e novaiorquino por adoção, Kissinger volta ao cenário político internacional pelas hábeis mãos do atual residente da Casa Branca.

O presidente George W. Bush mais uma vez surpreende seus críticos mais vorazes. Baixou os impostos, guiou o país com a firmeza necessária nos tristes dias após os atentados, venceu com êxito incontestável as eleições legislativas deste ano e agora apresenta a reestruturação da área de segurança, sem deixar de fortalecer a CIA e FBI. Como se não bastasse, traz novamente a figura de Henry Kissinger ao cenário político. Bush é um homem que acumula vitórias e sua reeleição pode estar começando a tomar contornos definidos.

Artigo redigido em 27.11.2002,
Em Brasília, DF.

* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado na área de Direito Internacional. Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor dos Departamentos de Direito e Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília e UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É articulista semanal do site www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese (www.sintese.com).
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Retirado de: www.argumentum.com.br