®BuscaLegis.ccj.ufsc.br
PFL: Outra Visão
Por Márcio C. Coimbra
marcio.coimbra@uol.com.br
Especialista em Direito Internacional, UFRGS
MBA em Direito Econômico, FGV
Em abril de 1998, o Partido da Frente Liberal sofreu duro golpe, a perda do
deputado Luís Eduardo Magalhães. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, um
dos parlamentares mais respeitados de Brasília, estava sendo preparado para a
disputa presidencial de 2002. ACM e seu filho decidiram que ele disputaria o
governo da Bahia, como forma de obter experiência no executivo e visibilidade
como comandante de um dos mais importantes colégios eleitorais do país. A perda
prematura, contudo, desorientou o PFL. Não havia plano “B”. Os mais afoitos não
demoraram a dizer que o partido estava condenado a ser uma legenda de apoio,
sem rumo definido.
Em 2001, o Partido da Frente Liberal perdeu as eleições para as Presidências da
Câmara e do Senado. Além deste fato, o PFL atravessou mais um infortúnio. O caso
do painel do Senado Federal levou ACM à renúncia de seu mandato. Voltou à Bahia
para recarregar suas energias em suas bases eleitorais e voltar à vida pública,
seja como Governador ou Senador por seu Estado. Novamente, os mais afoitos
alardearam a tese de que depois destes acontecimentos, não havia saída, ou
seja, a força política do partido havia sido ferida de morte. Sobre este fato,
ainda escrevi em 16 de janeiro de 2001: “Se enganam aqueles que acreditam que o
PFL não irá se recompor facilmente. Quando menos se esperar, o partido do
vice-presidente Marco Maciel irá surpreender”.
E surpreendeu. Lançou a pré-candidatura de Roseana Sarney à Presidência da
República. A estratégia foi certeira. A governadora do Maranhão subiu nas
pesquisas e assustou todos os concorrentes, afinal, já alcançara empate técnico
com o candidato do PT e até então líder absoluto nas pesquisas, Lula. Enquanto
isto, o PSDB, partido do Presidente FHC parecia perdido e rachado, pois mesmo
depois da vitória interna de Serra, suas intenções de votos continuaram fracas.
Roseana tornou-se, desta forma, a grande novidade eleitoral do momento,
catapultada pelo profissionalismo do PFL, que como fênix, mais uma vez,
renascia das cinzas. A Governadora, com exposição e o crescimento sólido (em
todas as camadas sociais e regiões) naturalmente se tornou a “bola da vez” do
jogo político eleitoral. As denúncias não tardaram a aparecer. E assim também
ocorreria com outros candidatos que obtivessem o estrondoso crescimento que
Roseana conquistou.
O episódio ocorrido com a Governadora na última semana levou o PFL a abandonar
uma aliança de 7 anos com o PSDB. Muitos disseram que os liberais perdem muito
mais do que partido do Presidente. A história, entretanto, pode ser outra. Não
há aliado mais fiel e coeso do que o PFL no Congresso. Além disto, o PSDB não
pode se iludir com o apoio do PMDB, visto que este partido é extremamente
fragmentado e não fornece o potencial de votos de toda sua bancada para
aprovação de projetos. Até momento, inclusive para formação da chapa de Serra,
o PSDB parece preferir a incerteza do PMDB do que a fidelidade e união do PFL.
O Partido da Frente Liberal mostrou, mais uma vez, coesão e pragmatismo quando
tomou a decisão de deixar o governo federal. Manifestou que está decidido a
assumir a candidatura de Roseana ao Planalto. A Governadora mostrou a força e
liderança partidária que nem ACM conseguiu. Talvez, ao contrário do que foi
dito, a saída do governo não tenha demonstrado emoção, mas a frieza necessária
para levar um projeto adiante. A decisão tomada pela cúpula pefelista mostra
que ainda existe pelo menos um partido político coeso e integrado no Brasil.
Talvez esta atitude possa, inclusive, render bons dividendos no futuro. E por
fim vale ressaltar, novamente, como fiz um ano atrás: enganam-se aqueles que
acreditam que o PFL foi abatido. A sucessão está apenas começando.
Artigo redigido em 11.03.2002,
Em Brasília, DF.
* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado habilitado em Direito Mercantil pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor de Direito e Relações
Internacionais da Universidade Católica de Brasília. PIL pela Harvard Law School. Especialista
em Direito Internacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MBA em
Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Vice-Presidente do
CONIL-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do
IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É articulista semanal dos sites
www.widebiz.com.br , www.direito.com.br e membro do Conselho Editorial do site
de análise econômica e política “Parlata” (www.parlata.com.br). Tem artigos
publicados em diversos portais jurídicos e jornais brasileiros, como Jornal do
Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão,
Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do
Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A
Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed.
Síntese (www.sintese.com).
___________________________________________________________
Reirado de: www.argumentum.com.br