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Um Vice para Serra
Por Márcio C. Coimbra
Especialista em Direito Internacional, UFRGS
MBA em Direito Econômico, FGV
marcio.coimbra@uol.com.br
Enquanto a magnífica voz da bela e festejada cantora de jazz norte-americana
Jane Monheit encantava no Americel Hall de Brasília sob calorosos aplausos, a
capital da República era palco de inúmeras articulações políticas com vistas a
escolher o nome que acompanhará o senador José Serra em sua campanha à
Presidência. O jogo da sucessão havia mudado depois da recusa do governador
Jarbas Vasconcelos ao convite para concorrer a Vice-Presidência na chapa do
governo.
Desde este fato político inesperado, o PMDB começou a procurar nos seus quadros
alguém que pudesse aglutinar suas tendências, especialmente aquelas que hoje
detém o controle o partido. Curiosamente, os nomes em especulação eram de
políticos que até pouco tempo divergiam das posições adotadas pelo Palácio do
Planalto, ou pelo menos, haviam mantido certa independência em relação ao
governo na votação de determinadas matérias no Congresso Nacional. O primeiro
nome foi o da deputada capixaba Rita Camata. Estrategicamente, o nome é ótimo
para Serra, pois na qualidade de mulher e parlamentar competente, ela pode
tirar votos da candidata Roseana Sarney. Também foi lembrado o nome do
combativo senador gaúcho Pedro Simon, de notória seriedade e político histórico
do partido. Por fim, foi cogitado o nome do governador das Minas Gerais, Itamar
Franco.
Itamar traria ótimos dividendos eleitorais para Serra, principalmente por
carregar os importantes votos de Minas Gerais - segundo colégio eleitoral
brasileiro. Além disto, esta situação poderia acalmar a guerra na delicada
sucessão mineira. Explico. O presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves,
poderia lançar-se candidato ao Palácio da Liberdade, acompanhado pelo deputado
Hélio Costa para o cargo de vice. Na chapa para o Senado, a coligação poderia
contar com os nomes de Eduardo Azeredo e Newton Cardoso, o que fecha o círculo
das forças de Minas. Apesar de Itamar agradar Serra e o PSDB, assim como os
nomes de Rita e Simon, tudo leva a crer que todos podem ter sido vetados pela
atual cúpula do PMDB. Vale lembrar que estes nomes não se aliaram a ala
governista do partido, que há tempos deseja aliança com os tucanos.
Então começaram a surgir inúmeros candidatos para vice, alguns até inusitados e
desconhecidos, porém dispostos a “vestir a camisa” e acompanhar Serra na
campanha presidencial. No meio de toda esta turbulência causada pela recusa do
governador de Pernambuco, a cúpula do PMDB começou a sondar alguns nomes como
Henrique Eduardo Alves (RN), Ramez Tebet (MS) – presidente do Senado e Luiz
Henrique (SC) – prefeito de Joinville. Os dirigentes do PMDB não acham justo
que a posição de vice caia nas mãos do grupo que sempre defendeu a candidatura
própria e rechaçava a aliança com o PSDB. Logo, o nome procurado deve ser
aquele que forneça a estabilidade necessária para conduzir, juntamente com Serra,
uma delicada campanha e se vitorioso, a perspicácia necessária para negociar a
melhor acomodação do partido nos quadros de um futuro governo.
A aliança PSDB/PMDB está fechada e muito dificilmente fará água como muitos
acreditam. A cúpula do PMDB lutou muito para chegar nesta posição e não abrirá
mão do privilégio de ter o governo como companheiro de chapa facilmente. O
PMDB, contudo, quer mais. Deseja negociar desde já as próximas presidências da
Câmara e do Senado e delinear a importância que terá em um possível governo
José Serra desde já. As negociações, portanto, não param, já que os líderes
desta coligação esperam consolidar o nome do vice em breve. Enquanto essas
discussões seguiam, há poucos quilômetros do Congresso, a suavidade e a calma
da voz de Jane Monheit ainda encantava sua atenta platéia. Penso que talvez
estivesse lá a inspiração necessária que faltava aos políticos para chegar
finalmente a uma decisão sobre o colega de chapa de Serra.
Artigo redigido em 05.04.2002,
Em Brasília, DF.
* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado habilitado em Direito Mercantil pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor de Direito e Relações
Internacionais da Universidade Católica de Brasília. PIL pela Harvard Law School. Especialista
em Direito Internacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MBA em
Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Vice-Presidente do
CONIL-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do
IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É articulista semanal dos sites
www.widebiz.com.br , www.direito.com.br e membro do Conselho Editorial do site
de análise econômica e política “Parlata” (www.parlata.com.br). Tem artigos
publicados em diversos portais jurídicos e jornais brasileiros, como Jornal do
Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão,
Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do
Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A
Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed.
Síntese (www.sintese.com).
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Retirado de: www.argumentum.com.br