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A arte de ser vice
Por Márcio C. Coimbra
Especialista em Direito Internacional, UFGS
MBA em Direito Econômico, FGV
marcio.coimbra@uol.com.br
A capital federal viveu dias agitados na última semana. A agenda política
gravitou em torno dos nomes mais cotados para preencher a candidatura a
vice-presidente nas diversas chapas à Presidência da República. A grande
maioria dos candidatos tomaram a decisão de ter o vice “possível”, contudo, não
o “desejado”. Lula deseja José Alencar, entretanto, dificilmente conseguirá.
Garotinho deseja Costa Leite, que desistiu. Serra desejava Jarbas Vasconsellos,
que também abdicou da possibilidade. Ciro Gomes desejaria algum nome das Minas
Gerais, contudo, talvez não alcance êxito. Aos poucos as chapas se formarão,
porém, não com os candidatos a vice desejados pelos titulares.
Não há dúvida de que o vice é uma figura muito importante na sucessão. Mas
talvez, nesta eleição, já que os vices mais desejados não irão compor as
chapas, o principal objetivo é encontrar um parceiro de candidatura que não
atrapalhe. Logo, inúmeros nomes começam a surgir, desde os mais respeitáveis,
até os mais improváveis. O ninho tucano já recebeu as mais diversas ofertas de
inúmeros políticos que podem ser o companheiro de chapa de José Serra. No PMDB
surgiram nomes como Luiz Henrique, prefeito de Joinville, Rita Camata,
parlamentar capixaba, Ney Suassuna, breve ex-ministro da Integração Nacional e
até o líder goiano Íris Rezende. Na outra esfera do PMDB, apareceram nomes como
o do senador gaúcho Pedro Simon e o governador Itamar Franco. A decisão,
contudo, parece já ter sido tomada, e repousa sobre o nome de Henrique Alves,
deputado do Rio Grande do Norte.
Se nesta eleição procura-se um vice que não atrapalhe, cresce a importância das
coligações regionais. Assim, os candidatos mais fortes ao Planalto tentarão
arregimentar apoios locais, verticalizados, na busca pelo eleitorado dos
estados. Neste ponto ganha Serra, com o apoio de Geraldo Alckmin em São Paulo e
com a possível chapa tucana/peemedebista nas Minas Gerais, os dois maiores
colégios eleitorais do país.
O eleitor, contudo, deve prestar muita atenção ao nome do vice, principalmente
no momento que não há busca por nomes de impacto que gerem votos. Lembremos
apenas de quatro nomes da história mais recente do país: Getúlio Vargas, Jânio
Quadros, Tancredo Neves e Fernando Collor. Nestes governos os vices assumiram o
cargo principal em definitivo: Café Filho, João Goulart, José Sarney e Itamar
Franco. Logo, deve haver extremo cuidado quando da escolha do candidato a
presidente neste ano, pois o voto do eleitor irá para presidenciável e seu
vice.
O vice, porém, pode ter mais importância do que parece. Ressaltei isto em
artigo escrito antes das eleições para as prefeituras em 2000. Em primeiro
lugar, é bom frisar que em caso de qualquer impedimento do titular, ele assume
sua vaga. Porto Alegre é um exemplo, pois é governada pelo vice-prefeito João
Verle, já que o prefeito eleito Tarso Genro lançou-se candidato ao Palácio
Piratini. A pergunta que fica é: quantos se importaram em saber quem era o
candidato a vice na chapa petista a prefeitura da capital gaúcha? Em segundo
lugar, vale lembrar que o vice pode ocupar uma posição de destaque nas
articulações políticas, principalmente se, em nível nacional, possuir bom
entrosamento com o mandatário do Planalto.
Percebemos que ser vice é mais importante para o eleitor do que para as
articulações políticas, logo, devemos estar atentos aos companheiros de chapa
de nossos candidatos. Os dois mandatos do presidente Fernando Henrique foram
marcados pelo estilo discreto e eficiente do VP Marco Maciel. Assim deve ser um
vice, um político bem articulado, apaziguador e preparado para eventualmente
assumir o comando do país. O Palácio do Jaburu foi muito bem ocupado nos
últimos anos e espera-se que o próximo presidente tenha a mesma sorte de FHC.
Ser vice, ao contrário do que se pensa, pode ser um cargo de importância, pois
demanda a qualidade de exercer com eficiência e competência a arte da política.
Artigo redigido em 11.05.2002,
Em Brasília, DF.
* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado habilitado em Direito Mercantil pela
Unisinos. Professor de Direito e Relações Internacionais da Universidade
Católica de Brasília. PIL pela
Harvard Law School. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS.
MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Mestrando em Relações
Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo
Distrito Federal. Sócio do IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É
articulista semanal do site www.direito.com.br e membro do Conselho Editorial
do site de análise econômica e política “Parlata” (www.parlata.com.br). Tem
artigos publicados em diversos portais jurídicos e jornais brasileiros, como
Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Correio Braziliense, O Estado do
Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia,
Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A
Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed.
Síntese (www.sintese.com).
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Retirado de: www.argumentum.com.br