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Virada Democrática na Colômbia
Por Márcio C. Coimbra
Especialista em Direito Internacional, UFRGS
MBA em Direito Econômico, FGV
marcio.coimbra@uol.com.br

A violência na Colômbia não é novidade no noticiário internacional. Guerrilhas comunistas e narcotraficantes formam a espinha dorsal do terror que se abateu sobre aquele país. Tentou-se o caminho da negociação, sem êxito, pois os guerrilheiros não desejam negociar. O povo, por meio da democracia, escolheu uma nova linha de ação contra as guerrilhas, e ela se chama Álvaro Uribe, advogado pós-graduado em Harvard, vereador e prefeito e Medellín, senador e governador do Departamento de Antioquia e filho de uma vítima de assassinato das Farc.

Uribe não esconde o que deseja fazer. Sabe que a estratégia de guerrilhas como as Farc e ELN é ganhar tempo com negociações para continuar a efetuar seqüestros, massacres, extorsões e espalhar o terror pelo país. Logo, sua posição é clara: deseja enfrentar o inimigo com o objetivo de, finalmente, exterminar o foco de instabilidade da Colômbia. O novo presidente não está sozinho, pois recebeu o apoio de 53% da população que lhe concedeu um mandato de quatro anos para agir contra a instabilidade e fornecer um ambiente pacífico para se viver.

As atenções de Uribe devem se direcionar primordialmente para a principal guerrilha do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. As Farc é uma guerrilha que luta pela implantação do comunismo/socialismo via revolução armada e tem como principal suporte financeiro para suas operações o tráfico de drogas. Em seus campos de treinamento encontram-se cartazes de Che Guevara, Marx e Castro. O grupo foi formado na década de 70 juntamente com outra guerrilha, intitulada M19. Esta última deixou o confronto armado para participar do jogo político. As Farc não seguiram o mesmo caminho, pois foi mantida na clandestinidade. A rede das Farc é maior do que se imagina, pois possui ramificações e contatos com outros grupos armados semelhantes em outros países da América do Sul.

A eleição de Uribe mostra o desespero do povo colombiano que sofre com o tráfico e a violência espalhados, inicialmente no campo, onde está a base das Farc, mas que já se infiltrou pelas cidades. A atuação rígida do presidente contra a guerrilha pode trazer problemas para o Brasil, visto que possuímos cerca de 1.600 km de fronteira com a Colômbia, na sua grande parte, área de florestas. Existe certo temor de que guerrilhas como as Farc e ELN busquem refúgio em território brasileiro por meio de imigração clandestina, como já ocorre no Peru. Este fato pode acarretar diversos problemas, como o confronto com população indígena, absorção da cultura violenta da guerrilha narcotraficante, aumento do tráfico de armas, além do deslocamento do plantio e refino de drogas para o Brasil.

O povo da Colômbia acredita que chegou o momento de uma atitude enérgica contra as guerrilhas e o tráfico, visto que estas se fundem. Deve-se buscar uma nova forma de aplicação dos recursos do Plano Colômbia, que abrange dez áreas, entre elas, combate as drogas, defesa nacional, desenvolvimento, reformas financeira e fiscal, modernização das forças armadas e polícia, entre outras. A situação é de total instabilidade e neste momento faz-se necessária a autoridade de um presidente com a iniciativa e coragem de Uribe para desestabilizar as forças que estão deteriorando a Colômbia. O presidente buscará apoio na Casa Branca para implementar suas reformas. Sem dúvida, receberá o suporte que necessita. Além de Washington, Uribe buscará apoio dos vizinhos, entre eles, o Brasil, que nos últimos anos apresentou uma atitude passiva perante a situação.

A conjuntura vivida pela Colômbia não é tão distante para muito brasileiros. São Paulo possui números de assassinatos para cada 100 mil habitantes maiores do que Bogotá. O Rio de Janeiro sofre nas mãos de traficantes. Representantes das Farc já foram recebidos por um governador brasileiro. Grupos com táticas de guerrilha invadem propriedades sistematicamente em território nacional. Não há dúvida de que o Brasil caminha para (ou já vive) uma situação de guerra civil não declarada. Resta ao povo brasileiro decidir se deseja que o país atinja a instabilidade vivida na Colômbia para decidir tomar uma atitude. Aqui, o discurso passivo somente agrava a situação. Nosso vizinho elegeu Uribe para exterminar o tráfico e as guerrilhas. Só podemos desejar boa sorte e fornecer apoio para a Colômbia nessa difícil tarefa.

Artigo redigido em 31.05.2002,
Em Brasília, DF.

* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito e Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. PIL pela Harvard Law School. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É articulista semanal do site www.direito.com.br e membro do Conselho Editorial do site de análise econômica e política “Parlata” (www.parlata.com.br). Tem artigos publicados em diversos portais jurídicos e jornais brasileiros, como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese (www.sintese.com).

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Retirado de: www.argumentum.com