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Dias de Terror
Por Márcio C. Coimbra*
marcio.coimbra@uol.com.br

Os últimos dias podem ter sido comuns para grande parte da população mundial. Para outros, entretanto, foram dias de dor e agonia, mais do que isto, foram dias de terror. Em um mesmo final de semana vários grupos terroristas palestinos desencadearam uma série de pequenos atentados que deixaram mais de 17 mortos e 70 feridos em Israel. Na Espanha, a insanidade do ETA parece não ter fim, especialmente depois do atentado na cidade turística de Santa Pola, Alicante, em pleno verão europeu.

Santa Pola é uma cidade as margens do Mediterrâneo que recebe inúmeros visitantes durante o quente verão espanhol. O ETA agiu de maneira covarde, pois atacou uma cidade turística e vitimou fatalmente uma criança de 6 anos. Além disto, deixou 40 feridos, além de causar a morte de um homem de 57 anos que esperava um ônibus. Desta vez o grupo terrorista usou um de seus comandos itinerantes, detonando explosivos em um carro que havia sido roubado no dia 5 de julho em Montpellier, França.

Enquanto isto, em Israel, a ofensiva terrorista parece não ter fim. Foram cerca de 6 atentados que deixaram cerca 17 mortos e 70 feridos. Meron, Alta Galiléia, homem-bomba em ônibus, autoria: Brigadas Ezzedin Al-Qassam, braço armado do Hamas. Porta de Damasco (cidade velha de Jerusalém), atirador. Estrada para Ramallah, mina, autoria: Frente Popular de Libertação da Palestina. Faixa de Gaza e Tulkarem na Cisjordânia, atiradores, autoria: Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, ligado ao Fatah. Shilo, Ramallah, franco-atiradores. Este foi o final de semana na região.

Vale lembrar ainda o covarde ataque do Hamas na Universidade Hebraica, em Jerusalém, vitimando vários estudantes estrangeiros que haviam viajado até Israel para participar de um curso de verão. A bomba foi detonada na lanchonete da Faculdade de Direito durante o intervalo das aulas, o que potencializou o número de vítimas.

Como conseqüência da série de atentados, parece que a paciência com Yasser Arafat está se esgotando. Facções ligadas a ele, como o Fatah, estão envolvidas nas ações de terror mais recentes. Ele parece não ter controle sobre os diversos grupos que tem provocado a atual onda de terrorismo. Ao mundo fica claro que lhe falta legitimidade. Ainda em dezembro escrevia sobre a provação de Arafat: “o líder palestino vive uma situação difícil, espremido entre os radicais de seu povo, que crescem a cada dia e os ataques de Sharon (...) muitas vezes, como lembrou a revista The Economist, ele já foi considerado uma carta fora do baralho, equivocadamente”. Contudo, está cada vez mais claro que Arafat não consegue conter o terrorismo – algo fundamental para o avanço de qualquer negociação. Logo, sua liderança nunca esteve tão ameaçada.

Enquanto isto, a Espanha responderá ao cruel atentado do ETA, segundo as palavras do chefe de governo José Maria Aznar: “Os terroristas pagarão pelo que fizeram, pagarão caro e logo”. Quem conhece Aznar não duvida que a resposta será firme e, talvez, silenciosa.

Desde os brutais atentados de 11 de setembro, existe maior cooperação entre setores governamentais de inúmeros países com vistas a combater o terrorismo. Este movimento se inicia na cooperação financeira, de informações e principalmente na área de inteligência. Este trabalho já surtiu efeito. Várias células terroristas foram desbaratadas nos últimos meses nos mais diferentes países. Os grupos terroristas do Oriente Médio, bem como o ETA, são alvos destas ações de cooperação. Isto não os impede de realizar ataques, no caso do Oriente Médio, especialmente com homens-bomba, mas causa diminuição de sua incidência. Ou seja, é difícil de imaginar, mas poderia ser pior.

A matança terrorista atingiu níveis mais do que preocupantes. Se nada contundente for feito, tudo indica que os dias de terror podem perdurar por muito tempo. A situação atual exige muita reflexão.

Artigo redigido em 05.08.2002,
Em Brasília, DF.

* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor dos Departamentos de Direito e Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília e do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É articulista semanal do site www.direito.com.br e membro do Conselho Editorial do site de análise econômica e política “Parlata” (www.parlata.com.br). Tem artigos publicados em diversos portais jurídicos e jornais brasileiros, como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese (www.sintese.com).

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Retirado de: www.argumentum.com.br