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A multidão silenciosa está feliz com o fim do terror no Iraque
O tom uníssono vindo da mídia em relação à guerra nos leva a pensar que existe um senso comum, compartilhado entre todos, de que o conflito no Iraque é algo desnecessário e que o mundo está coberto por manifestações “pacifistas” quase todos os dias

Márcio C. Coimbra*

  Multidão Silenciosa
   Tudo isto inserido em uma embalagem contextual antiamericana. Contudo, a realidade mostra o outro lado da moeda. Neste sentido, a Internet tem sido o veículo mais importante de disseminação da posição de grande parte da população que apóia a ofensiva aliada contra a ditadura de Saddam.
  
  Ouvi, desde o início da guerra, inúmeras análises sobre o que iria se suceder no Iraque. A primeira e mais popular é aquela que traçava um conflito difícil, um novo Vietnã, asseguravam alguns. Os Estados Unidos sofreriam muitas baixas, especialmente em razão da falta de treinamento para atuar em desertos como o da antiga Mesopotâmia. Esta análise, que pretende ressuscitar os fantasmas do conflito no Vietnã, também foi usada antes, na operação “Liberdade Duradoura” no Afeganistão. Vale lembrar que em ambos cenários esta leitura se mostrou equivocada e falaciosa. Estes analistas provavelmente somente virão a público afirmar a mesma tese desgastada em uma eventual operação futura.
  
  Quando a operação “Liberdade do Iraque” completava sua primeira semana, estrategistas vieram a público anunciar que a guerra seria mais longa do que se poderia esperar. A estratégia da coalizão também estava errada, visto que desde os tempos de Sun Tzu, lembravam, era perigoso, senão fatal, avançar sem a tomada completa de cidades, como no caso de Basra. Além disto, os americanos e britânicos não haviam lançado uma ofensiva forte pelo norte, dada a negativa turca em relação ao uso de seu território para o avanço das tropas. A soma de todos estes fatores seria responsável por uma guerra longa, travada, especialmente em Bagdá, rua por rua, com características que fogem ao treinamento recebido pelos soldados. Por fim, uma guerra longa, somada as manifestações pacifistas, tornariam o Iraque em um novo Vietnã.
  
  A resistência iraquiana também foi outro ponto a ser estudado. Segundo analistas e estrategistas, a resistência do povo iraquiano seria heróica, visto que estes enxergavam os americanos como invasores. Além disto, as forças do Exército Republicano de Saddam haviam formado um cerco praticamente impenetrável a Bagdá. Na realidade, não foi isto que ocorreu. No caminho até a capital, os soldados americanos se depararam com uma situação curiosa: civis iraquianos dividiram batatas e ovos com os militares da coalizão. Ora, nenhum povo dividiria seu alimento com alguém que odeia.
  
  As “notícias” mostram que as forças da coalizão estão perdendo o controle sobre Bagdá, especialmente em razão dos saques. Estou certo de que a quebra da ordem não é o mais recomendável, contudo, temos que entender a extensão dos gritos de liberdade que ecoam pela capital, enquanto cartazes, estátuas e bustos de Saddam são destruídos por uma população que viveu sob sua ditadura por mais de 20 anos. Depois da euforia inicial, a ordem pública tende a ser restabelecida por meios democráticos.
  
  Enquanto isso, percebo a multidão silenciosa ao redor do mundo, que aos poucos começa a aparecer, especialmente via emails. Grupos de pessoas que tenho encontrado tem perdido o receio de se mostrar a favor dos Estados Unidos. Existe um grande percentual da população que não foi atingida pelo discurso fácil, pelas análises equivocadas e tendenciosas e principalmente pelo vírus antiamericano que tem sido espalhado sem perdão nestes dias. Enquanto a guerra chega ao seu fim, depois de as forças aliadas terem tomado Bagdá em 21 dias, estou certo que uma multidão, mesmo que silenciosamente, está muito feliz com o fim do regime de terror imposto por Saddam. A liberdade do Iraque toma contornos de uma bela realidade.
  
  
  
  * Márcio Chalegre Coimbra, é advogado na área de Direito Internacional. Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor dos Departamentos de Direito e Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília e UniCEUB – Centro Universitário de Brasília.
PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
  Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese (www.sintese.com).
  

Retirado de: http://www.direito.com.br/Doutrina.ASP?O=1&T=3216