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A pessoa idosa e o acesso à saúde

 

 

Ingrid Rochelle Rêgo Nogueira *

 

 

Iniciamos o novo milênio com a constatação de uma realidade social: o envelhecimento populacional. O avanço tecnológico e das pesquisas científicas no campo da saúde geraram uma ampliação da perspectiva de vida, conseqüentemente houve o crescimento da população idosa, criando um interesse sem precedentes na sociedade pela velhice.

A Síntese de Indicadores do IBGE 2004 aponta que a população idosa no Brasil, em 2003, era de 16,7 milhões de pessoas correspondendo a 9,6% da população brasileira. E a tendência de crescimento dessa parcela da população é nítida nas duas últimas décadas, a estimativa é que em 2025 o Brasil seja o sexto país mais envelhecido do mundo, com uma média de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representará 15% da população nacional (IBGE, 2004).

O Brasil até pouco tempo era considerado um país jovem e diante dessa nova realidade, a do envelhecimento populacional, faz-se necessária uma preparação voltada para as necessidades e potencialidades desta faixa etária. Urgindo se pensar ações que respondam a demanda proveniente do acelerado crescimento da população idosa, uma vez que o processo de envelhecimento é complexo e envolve aspectos biológicos, políticos, econômicos, cultuais, educacionais, psicológicos e sociais.

Desta forma, passam a ser preocupações constantes da sociedade atual as questões de saúde no envelhecimento. Numa perspectiva voltada não só para os anos que poderão ser acrescidos na perspectiva de vida, mas também, atenta para a qualidade de vida e as condições de saúde com que estes anos serão vividos.

Assim, a qualidade de vida, os hábitos saudáveis para alcançar a longevidade, os programas de promoção a saúde do idoso são cada vez mais temas centrais de revistas, documentários, jornais e programas de televisão; o que demonstra que a longevidade com qualidade está na pauta dos debates sociais.

Diante deste contexto e observando às demandas provenientes dos idosos e idosas atendidos(as) pelo Programa de Proteção Social Básica ao Idoso[1] em uma unidade social da cidade de Fortaleza, definimos como área a ser analisada o acesso aos serviços de saúde básica.

A metodologia utilizada foi a aplicação de questionários com os idosos e idosas e a pesquisa documental, utilizando dados do Posto de Saúde da região[2]. No questionário constavam perguntas referentes à: 1) tipo de sistema de saúde utilizado; 2) satisfação do idoso(a) em relação à este sistema; 3) avaliação do atendimento recebido nas unidades de saúde; 4) eficácia do atendimento; 5) encaminhamentos e prazos condizentes com a demanda; 6) principal problema enfrentado na área da saúde.

Desta forma, obtivemos os seguintes resultados: 73% afirmaram ser o SUS o sistema de saúde utilizado, 50% se declara satisfeito com os serviços prestados. No que diz respeito ao atendimento recebido nas unidades de saúde, 51% o definem como bom, 30% como regular e 13% como péssimo. Dos idosos entrevistados 70% consideram o atendimento eficaz, entretanto no que tange aos encaminhamentos e prazos 77% afirmam que não correspondem às suas necessidades.

Os idosos apontam como principal problema enfrentado na área da saúde: demora para consultas e exames (41%), atendimento desumanizado (24%), falta de médicos (20%), falta de medicamentos na farmácia das unidades de saúde (13%), outros (2%). Dentre os problemas citados como outro, constou o aumento no valor do plano de saúde.

No que diz respeito às informações obtidas junto ao Posto de Saúde, observa-se que as especialidades mais requisitadas pelos idosos(as) são reumatologia, neurologia, clínica geral e programas de hipertensão arterial e diabetes. Entretanto, a unidade de saúde conta com um ginecologista, um clínico geral e com o programa de atendimento à hipertensos e diabéticos.

A unidade de saúde reservou um dia da semana para o atendimento à pessoa idosa, que acontece todas as quartas-feiras. De acordo com o relatório referente ao atendimento à pessoa idosa, durante o mês de março foram atendidas trinta e quatro (34) idosas pela ginecologia; oitenta e nove (89) idosos(as) na especialidade clínica geral e cento e vinte e quatro (124) idosos(as) pelo Programa de Hipertensão e Diabetes.

Destes atendimentos médicos na Unidade de Atenção Básica à Saúde foram efetuados encaminhamentos diversos, estando assim distribuídos: Patologias Clínicas Específicas (51%), Exames Ultrassonográficos (17%), Radiodiagnósticos (14%), Diagnoses (3%), Citopatologias (1%), Fisioterapia (1%), outros procedimentos (13%).

Um aspecto a ser observado é que os encaminhamentos efetuados obedecem a uma lista de espera, havendo muitas vezes acima de mil pessoas nesta lista, o que faz com que os prazos para a efetivação do exame e consulta necessários seja em média de um a três anos de espera, daí decorre os 77% de insatisfação constatada nos(as) idosos(as) com os prazos e encaminhamentos.

Objetivando a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhora da capacidade funcional dos idosos, bem como a prevenção de doenças, a recuperação da saúde daqueles que estão enfermos e a reabilitação daqueles que tenham a capacidade funcional restringida, a Política Nacional de Saúde do Idoso prevê que cabe ao setor saúde promover o acesso da pessoa idosa aos serviços e às ações que visem a promoção, a proteção e a recuperação da saúde.

O Estatuto do Idoso, em seu capítulo IV, trata do direito à saúde, assegurando no artigo 15 “...o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos”. O mesmo capítulo prevê, ainda, dentre outros aspectos: o atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios e unidades geriátricas de referência.

Percebemos que apesar de termos avançado em termos de leis e políticas que regulamentam os direitos dos idosos, a realidade está aquém de tais garantias. Uma vez que ainda não podemos contar com unidades de saúde especializadas no atendimento ao idoso, não possuímos programas de prevenção às doenças mais constantes na terceira idade, dentre outros aspectos.

Já no que se refere à recuperação da saúde do idoso debilitado, até o momento não temos resultados satisfatórios, visto que há um déficit de médicos e de unidades de saúde pública para o número de idosos que necessitam de atendimento, as farmácias das unidades de saúde contam com poucos medicamentos, os exames e encaminhamentos necessários demoram a serem realizados, o que inviabiliza o tratamento a ser adotado para sanar o problema de saúde apresentado por esse idoso. Assim, como poderá haver uma promoção e proteção à saúde e cidadania do idoso se os exames de detecção precoce de problemas de saúde potenciais ou já instalados demoram anos para serem realizados?

Salientamos, também, a inexistência de uma política de atenção e promoção da saúde mental do idoso, o que é de grande importância, devido à tantos aspectos psicológicos que dizem respeito a esta fase da vida, como as depressões, as angústias, o isolamento social, as alterações de humor, dentre outros. Até mesmo porque, segundo a definição da OMS[3] a saúde não é simplesmente a ausência de dor e/ou enfermidade, mas consiste num estado de completo bem-estar físico, mental e social.

Dentre as questões que cercam a terceira idade, tomando proporções maiores em sociedades onde a exclusão social é uma forte característica, a saúde ocupa um lugar de destaque pela sua decisiva influência sobre a qualidade de vida dos idosos. Sabemos que a longevidade é um desejo intrinsecamente relacionado à saúde em seus diversos aspectos. Desta forma, a promoção do envelhecimento saudável hoje se coloca não só para a atenção ao idoso enfermo, mas para as práticas de saúde preventivas, apostando na prevenção de doenças e na adoção de hábitos saudáveis.

A atenção à saúde do idoso vai muito além do atendimento ambulatorial – hospitalar, diz respeito também ao esclarecimento de seus direitos e dos instrumentos para validá-los, bem como à promoção de sua autonomia e cidadania.

 

[1] Programa Operacionalizado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza

[2] Unidade de Atenção Básica à Saúde, localizada na unidade territorial de referência.

[3] Organização Mundial de Saúde

 

 

*Ingrid Rochelle Rêgo Nogueira - Assistente Social - Prefeitura Municipal de Fortaleza – Programa de Proteção Social Básica ao Idoso.

 

 

 

Disponível em: <http://www.portaldoenvelhecimento.net/artigos/artigo1408.htm> Acesso em: 23 de Ago. 2006.