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A escolha de um Warrant...

 

 

Marco António

 

 

Negociar Warrants reveste-se de vários perigos que são muitas vezes ignorados ou negligenciados. Além de se tratar de um produto alavancado, o que naturalmente permite atingir maiores ganhos mas igualmente possibilita a ocorrência de grandes perdas, acresce que o Warrant é um produto bastante complexo envolvendo outras variáveis que não apenas a direcção do mercado.

Assim e devido às suas características não basta estar do lado certo do mercado, mas estar do lado certo, no momento certo e no Warrant adequado. A questão do timing e da escolha do Warrant são pois de grande importância e regra geral determinantes para o sucesso ou insucesso do trade...


Em primeiro lugar, devemos tomar em consideração o plano temporal do trade que temos em vista: Curtíssimo, Curto ou Médio-prazo. Não pretendo neste artigo discutir a dinâmica do Warrant pelo que o mesmo pressupõe que se conhece e domina a mecânica de funcionamento dos Warrants. No quadro seguinte apresentam-se os vários planos temporais e o que me parece mais importante previligiar e evitar em cada um dos casos:

 


Num trade de curtíssimo-prazo é importante previligiar o efeito de alavancagem, especialmente em daytrading. Desta forma consegue-se transformar pequenos movimentos (nomeadamente intradiários) em movimentos negociáveis que permitam cobrir custos de negociação. Por seu turno, há que ter em consideração o spread Bid/Ask, pois o efeito de alavancagem que transforme um movimento no subjacente de 1% em 10% no Warrant de nada serve se o mesmo Warrant tiver um spread Bid/Ask na ordem dos 10, 20 ou mais %. Neste caso não é muito importante a questão da maturidade e da distancia entre o strike e o subjacente, individualmente. Mas no seu conjunto poderão levar o Warrant a um valor absoluto muito baixo implicando elevados spreads, no caso do Warrant muito out-of-the-money e já relativamente perto do maturidade.

Num trade de curto-prazo (várias sessões a algumas semanas) o aspecto principal a ter em linha de conta é a questão da sensibilidade à volatilidade dado que um movimento do subjacente pode não ter o efeito desejado no Warrant caso esteja a ser contrariado por uma perda de volatilidade implícita se se tratar de um Warrant muito sensível neste aspecto. Neste caso, ainda não sendo crítica, a questão da perda de valor temporal também deverá ser analisada. Deve-se previligiar uma boa relação entra a alavancagem e a estabilidade perante a perda de valor temporal e a sensibilidade à volatilidade. Warrants muito alavancados tendem a ser muito instáveis e se bem que podem servir perfeitamente para daytrading ou curtíssimo-prazo já poderão não ser adequados para um trade de algumas semanas.

Num trade de médio-prazo, a questão da perda de valor temporal ganha um maior relevo pois estando-se a falar de um trade que pode durar vários meses, surge obviamente um efeito cumulativo que não deverá ser negligenciado. Neste caso é preferível que o Warrant tenha características bastante estáveis, o mais parecido possível com Futuros ou CFD's, um Warrant em que a perda de valor temporal e a sensibilidade à volatilidade tenham efeitos mínimos. A estabilidade levanta ainda outra questão que mais adiante analisarei em maior pormenor.


No quadro seguinte poderá ver-se em traços gerais qual a situação do Warrant mais adequada para cada um dos planos temporais tendo em conta as características atrás descritas:

 


Não sendo tão importante no caso do daytrading e curtíssimo-prazo, será de evitar principalmente no curto e médio-prazo Warrants que estejam perto da maturidade, mesmo que pareçam apelativos. Os Warrants perto da maturidade e principalmente se estiverem out-of-the-money tendem a ficar bastante instáveis além de que a sua  margem de manobra temporal é reduzida. A questão é mais ou menos óbvia mas não faz mal algum referi-la em todo o caso...


Existe a tentação de efectuar a escolha com base numa simulação nas calculadoras de Warrants. Estas aplicações têm obviamente utilidade, no entanto devem servir apenas de auxiliar à escolha. Evite utilizar essas ferramentas para projectar um determinado cenário. Sinceramente, entendo que a escolha de um Warrant é mais complexa do que descobrir qual o Warrant que valoriza mais se o índice for ao valor x no dia y.
Esse cenário pode falhar de diversas formas pois não só temos de estar correctos quanto à direcção do mercado como em relação a um valor específico num dado espaço de tempo.
Trata-se de uma ponderação muito restritiva que poderá levar à escolha de um Warrant demasiado perigoso caso o índice não corresponda a essas expectativas específicas. Nada de particularmente improvável quando ponderamos um único cenário...


Retomo agora o aspecto da estabilidade do Warrant. Uma das características específicas do Warrant é o facto do seu comportamento se alterar ao longo do tempo com a evolução do subjacente e com a aproximação da data de maturidade. Este aspecto não deve ser descurado em trades com prazos mais alargados.
Esta característica particular dos Warrants é responsável por muitos trades perdedores que em Futuros ou CFD's seríam possívelmente ganhadores.
Isto porque, decorrido um tempo considerável desde a compra do Warrant, este já não é o mesmo, as suas características mudaram. Este aspecto é tão mais importante em trades que não estejam a correr particularmente bem mas em que a nossa análise ao subjacente nos diga para manter a posição dado que visamos um movimento num plano mais alargado, movimento esse que nos continua a parecer possível e provável. No entanto, o Warrant aproximou-se da maturidade e simultaneamente o subjacente poderá ter-se afastado (ainda que apenas ligeiramente) do strike. O Warrant pode muito bem ter passado a pouco adequado para o nosso plano temporal ou num caso mais extremo, dada a proximidade da maturidade e da distância do strike o sucesso no trade estar agora bastante comprometido, senão impossível. Convém não ficar «fixado» num Warrant principalmente se o trade se arrasta no tempo. Não hesite em mudar de Warrant se pretende manter a posição. Pela experiência que tenho é algo que os investidores não ponderam, mas se pretende manter a posição poderá ser bastante vantajoso passar para outro Warrant entretanto mais adequado. Não tem qualquer desvantagem se abrir uma posição do mesmo valor da que acabou de fechar a não ser os custos de negociação. Quanto às vantagens são de diversa ordem: ao escolher um Warrant com outro strike mais acessível e/ou uma maturidade mais afastada passa a ter maiores probabilidades de sucesso.

Note que caso o trade não corra conforme o esperado, tal pode significar que:

-> O Warrant que na altura da escolha se encontrava in-the-money passou a out-of-the-money, alterando-se as suas características básicas de sensibilidade à volatilidade e à perda de valor temporal;

-> O Warrant cujo strike se encontrava perto do subjacente, valor aquele facilmente atingível num certo período de tempo, passou a estar entretanto afastado do strike com a agravante de que a margem de manobra temporal reduziu-se igualmente com a aproximação da data de maturidade.

Mesmo nos casos em que o trade corre favoravelmente poderá compensar a dada altura mudar de Warrant pois o que se detém tenderá a perder elasticidade ao passar a encontrar-se deep-in-the-money.

Relembro que este artigo visa apenas a questão da escolha de um Warrant adequado. O artigo pressupõe que se conhece e domina a mecânica de funcionamento dos Warrants.

 

Marco António.

Observação: Esta análise é um artigo de opinião e não deverá ser entendida como uma recomendação de compra ou de venda; o autor não se responsabiliza por eventuais prejuízos que possam derivar do facto do leitor se identificar ou não com a opinião expressa neste artigo.

 

Retirado de: http://www.caldeiraodebolsa.com/article.php?iId=94.

Palavras chaves: warrant trade estabilidade