Localização
Vivenciamos, atualmente, uma sociedade informacional, onde a comunicação acontece em escala cada vez mais global, reordenando as noções de espaço e de tempo, através de interações entre indivíduos situados em diferentes locais.[1] [2]
Com efeito, apesar de a transmissão de mensagens para locais distantes ser antiga, a sistematização de redes de comunicação em escala global ocorreu somente a partir do século XIX, através do uso de novas tecnologias, e em virtude do cenário econômico, político e militar, que exigia a expansão da comunicação.[2] [3]
Sobre o tema, Gustavo Cardoso afirma, com propriedade, que “a cultura do nosso dia a dia é, hoje, uma mistura entre o físico e o virtual"[3] [4]. Mas a rede é apenas um instrumento à disposição da sociedade, ou ela muda a forma como a cidadania e a democracia acontecem?
Cardoso responde o questionamento afirmando que, para a rede ultrapassar o papel meramente instrumental, deve haver uma organização estratégica, visando o desenvolvimento organizado de ações voltadas a um objetivo.[4] [5]
É nesse contexto que se torna interessante analisar o ativismo, segmento no qual a internet pode ser utilizada com um viés transformador da realidade.
Com efeito, o ativismo pode ser descrito como qualquer doutrina ou argumentação que privilegie a prática efetiva de transformação da realidade, através da formação deum grupo de pessoas organizadas para um determinado objetivo.
Nese sentido, o ativismo costuma se expressar na forma de militância ou ação continuada com vistas a uma mudança social [6]ou política [7], privilegiando a ação direta [8], através de meios pacíficos ou violentos. Modos de protesto passivo, como a greve [9], também tem seu espaço no ativismo.[5] [10]
O ativismo digital, ou ciberativismo, por sua vez, utiliza-se do mesmo conceito – a característica que o particulariza é a utilização da internet para criar e organizar essas discussões e reivindicações sobre assuntos de interesse de determinados grupos.
Vale destacar, sobre o tema, as palavras de Dênis de Moraes:
As vozes que se somam no ciberespaço representam grupos identificados com causas e comprometimentos comuns, a partir da diversidade de campos de interesse (educação, saúde, direitos humanos e trabalhistas, cidadania, minorias e etnias, meio ambiente, ecologia, desenvolvimento sustentável, defesa do consumidor, cooperativismo, habitação, economia popular, reforma agrária, Aids, sexualidade, crianças e adolescentes, religiões, combate à fome, emprego, comunicação e informação, arte e cultura), de metodologias de atuação (movimentos autônomos ou redes), de horizontes estratégicos (curto, médio e longo prazos) e de raios de abrangência (internacional, nacional, regional ou local). Essas variáveis, muitas vezes, entrelaçam-se, fazendo convergir formas operativas e atividades. [6] [11]
Com efeito, a organização em rede facilita a “intercomunicação de indivíduos e agrupamentos heterogêneos que compartilham visões de mundo, sentimentos e desejos”[7] [12]. É possível aos usuários da internet, dessa forma, que se convertam de meros receptores em verdadeiros produtores e emissores de informação.
Gustavo Cardoso destaca que, as pessoas que já nasceram em contato com as mídias, possuem comportamentos diferenciados daqueles que passaram a utilizá-las ao longo de suas vidas, o que influencia, também, o modo como os grupos se mobilizam.[8] [13]Dessa forma, a tendência é que o uso da rede para as diversas atividades do cotidiano – inclusive os movimentos ativistas – se intensifique cada vez mais.
De fato, o ciberativismo vem ganhando espaço por abranger todo o tipo de causa, seja ela social, política, cultural e sobretudo pela sua potencialidade de revigorar a cidadania.[9] [14]Da soma de conceitos clássicos com o uso da web, surgem termos como e-democracia, e-governo, e-participação, entre outros.
Uma das causas onde mais estão se desenvolvendo ações em rede diz respeito à democracia - o ativismo digital está sendo visto como uma possibilidade para a construção de uma democracia renovada, a ciberdemocracia.
Na ciberdemocracia, o governo eletrônico, atento às manifestações e articulações da sociedade em rede, poderá construir uma verdadeira colaboração com a sociedade.[10] [15]Essa aproximação do governo com a sociedade, através da participação facilitada pelo uso da rede, é fundamental para efetivar o projeto democrático brasileiro:
O conceito de e-Participação está relacionado ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como ferramentas para a ampliação e aprofundamento da participação política, permitindo aos cidadãos conectarem-se entre si e com os seus representantes eleitos.[11] [16]
De fato, o descompasso entre as novas demandas sociais e as formas de governo tradicional, impõe a invenção de novos modos de representação política, impulsionando o uso de ferramentas digitais que propiciem maior interação entre os cidadãos e o Governo.[12] [17]
Certamente, ainda precisamos avançar muito para melhor integrar sociedade, democracia e tecnologias. Nesse ponto, deve ser observado que muitas pessoas ainda não possuem sequer acesso aos computadores e à internet.
Conforme pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, em 2010, 35% do total dos domicílios brasileiros possuía computador, e apenas 27% do total dos domicílios brasileiros possuía acesso à internet. [13] [18]
Ativismo e democracia, dessa forma, devem coexistir em suas versões clássica e digital. Essa existência conjunta potencializa o alcance dos movimentos sociais, abrangendo públicos diversos.
Ante os temas expostos, percebe-se que a internet pode ser um verdadeiro instrumento de efetivação da democracia. Através do uso social da rede, é possível alcançar a efetiva participação na construção de leis e de políticas públicas adequadas aos anseios da sociedade.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede: filtros, vitrines, notícias. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
DE MORAES, Dênis. O Ativismo Digital. Artigo disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-ativismo-digital.html [19]. Acesso em: 14.11.2011.
ESTRADA, Manuel Martín Pino. A Greve Virtual: O Projeto de Lei Italiano n. 1170 de 2008. Artigo disponível em: http://www.monodireitounime.xpg.com.br/MartinPino.pdf [20]. Acesso em: 12. 11.2011.
FERREIRA, Marcus Vinícius Anátocles; SANTOS, Paloma Maria, BRAGA, Marcus de Melo; ROVER, Aires José. Convergência Digital e Eparticipação. Artigo disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/artigo_convergencia_e_eparticipacao_final_livro.pdf [21]. Acesso em: 11.04.2012.
FREIRE, Geovana Maira Cartaxo de Arruda; SANTOS, Paloma Maria; EBRNARDES, Marciele Berger; ROVER, Aires José. O ciberativismo na construção da ciberdemocracia: análise do portal wikicidade de Porto Alegre. Artigo disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/o_ciberativismo_na_co... [22]. Acesso em: 12.04.2012.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
[1] [23]THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 135.
[2] [24]THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 137.
[3] [25]CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede: filtros, vitrines, notícias. Rio de Janeiro: FGV, 2007, p. 311.
[4] [26]CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede: filtros, vitrines, notícias. Rio de Janeiro: FGV, 2007, p. 473.
[5] [27]Texto disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ativismo [28]. Acesso em: 20.11.2011.
[6] [29]DE MORAES, Dênis. O Ativismo Digital. Artigo disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-ativismo-digital.html [19]. Acesso em: 14.11.2011.
[7] [30]DE MORAES, Dênis. O Ativismo Digital. Artigo disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-ativismo-digital.html [19]. Acesso em: 14.11.2011.
[8] [31]CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede: filtros, vitrines, notícias. Rio de Janeiro: FGV, 2007, pgs. 327 e 354.
[9] [32]FREIRE, Geovana Maira Cartaxo de Arruda; SANTOS, Paloma Maria; EBRNARDES, Marciele Berger; ROVER, Aires José. O ciberativismo na construção da ciberdemocracia: análise do portal wikicidade de Porto Alegre. Artigo disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/o_ciberativismo_na_co... [22]. Acesso em: 12.04.2012.
[10] [33]FREIRE, Geovana Maira Cartaxo de Arruda; SANTOS, Paloma Maria; EBRNARDES, Marciele Berger; ROVER, Aires José. O ciberativismo na construção da ciberdemocracia: análise do portal wikicidade de Porto Alegre. Artigo disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/o_ciberativismo_na_co... [22]. Acesso em: 12.04.2012.
[11] [34]FERREIRA, Marcus Vinícius Anátocles; SANTOS, Paloma Maria, BRAGA, Marcus de Melo; ROVER, Aires José. CONVERGÊNCIA DIGITAL E EPARTICIPAÇÃO. Artigo disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/artigo_convergencia_e_eparticipacao_final_livro.pdf [21]. Acesso em: 11.04.2012.
[12] [35]FERREIRA, Marcus Vinícius Anátocles; SANTOS, Paloma Maria, BRAGA, Marcus de Melo; ROVER, Aires José. CONVERGÊNCIA DIGITAL E EPARTICIPAÇÃO. Artigo disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/artigo_convergencia_e_eparticipacao_final_livro.pdf [21]. Acesso em: 11.04.2012.
[13] [36]Disponível em: http://www.cetic.br/usuarios/tic/2010/apresentacao-tic-domicilios-2010.pdf [37]. Acesso em: 09.04.2012.
ver tambén: ENGENHARIA E GESTÃO DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO. ESTUDOS SOBRE A E-JUSTIÇA. [38]