SOLUÇÃO TOTALITÁRIA – NOVAS REALIDADES E ANTIGOS MITOS


PorAnônimo- Postado em 21 abril 2011

 

Resenha subtítulo por: Lúcio Eduardo Darelli1

darelli@gmail.com

 

SOLUÇÃO TOTALITÁRIA – NOVAS REALIDADES E ANTIGOS MITOS2

A autora Riane Eisler, em seu livro O cálice e a espada3, nesta parte que trata sobre os mitos e as soluções de sociedades totalitárias, legados das civilizações mais antigas, propõem uma reflexão histórica analisando como os mitos perpetuaram ideologias, e como em sociedades dominadoras as lendas e mitos tiveram papel fundamental no processo de domínio.

Em resenha anterior vimos que as Teorias mais correntes acerca da evolução da sociedade humana, segundo a autora, afirmam que os povos primitivos impunham ações sanguinárias que resultavam em inevitável dominação. Não demorava muito, e motivados pelo resultado eficaz das investidas anteriores, a expansão territorial se impunha como conseqüência da manutenção do poder e da conquista. Ainda como regra, as sociedades dominadoras necessitavam desenvolver, além de estratégias de combate, avanços tecnológicos e culturais. Assim sendo, atestam os teóricos dessa concepção, segundo a autora, que a guerra passava ser um ‘infeliz pré-requisito’ para evolução da sociedade humana.

O que a autora chama atenção, nessa altura do livro, é que, as soluções das sociedades dominadoras da antiguidade predominaram nos dias de hoje. Não foram as sociedades de parceria ou matriarcais, centrada na sabedoria feminina, no cálice. Mas, predominou as sociedades patriarcais, centradas no poder masculino e, portanto, dominadoras, a espada.

Com efeito, as sociedades dominadoras para engendrarem suas conquistas necessitaram de uma ajuda que parece ser recorrente também em nossas sociedades atuais, o poder do mito.

É um engano, diz a autora, desconsiderar que o mito tenha – e tem até hoje – um papel fundamental na manutenção e perpetuação de uma proposta, ideologizada e personificada por um salvador. Temos na história, remota e recente, inúmeros exemplos dessa constatação.

A autora diz ainda, que não há muita diferença entre os mitos antigos e os novos, todos têm o mesmo ingrediente básico: um líder carismático, uma idéia envolvente, um contexto social que favorece a idéia, e as propostas de solução, quase sempre totalitárias e sangrentas.

A manutenção desses ‘ingredientes’ ainda sugere a criação de alguns artefatos que remetem diretamente ao líder e suas idéias, são os símbolos que caracterizam o discurso e dão significado à idéia. Junto com os símbolos, geralmente surgem os rituais e escritos que serão considerados sagrados e inquestionáveis.

A autora remete suas idéias ao tempo dos Kurgos, um dos povos mais sanguinários da Europa antiga, e que usaram desses ingredientes para suscitar o povo a guerra, ao domínio e à expansão de territórios. Nada diferente do que faz os EUA e seus seguidores. A guerra é uma solução para problemas sociais na visão dominadora-patriarcal.

A autora cita vários exemplos, mas nenhum é tão emblemático como o exemplo da segunda guerra mundial, onde povos foram colocados entre duas metades, os que eram a favor do nazismo e suas derivações, e os que eram contra. O líder maior do nazismo, proposto inicialmente para o território da Europa, foi Adolf Hitler. Um homem quase insignificante, franzino e que não vinha da nobreza ou qualquer casta considerada.

No entanto, esse homenzinho, movido por certezas dominadoras, aproveitando um contexto histórico extremamente conturbado, idealizou (em conjunto com muitos outros que comungavam das mesmas idéias, é claro) a raça pura ariana, criou seus símbolos, dentre os quais o mais poderoso, a suástica, e estabeleceu as normas de quem seria da raça pura e os que não seriam. Os dogmas estavam lançados, os símbolos falavam por si, e o líder tornou-se o salvador de um povo. A guerra e a dominação foram inevitáveis. E assim nasceu um mito.

O líder carismático e envolvente, que incita com sucesso seus seguidores a destruir o inimigo, é outra característica integral do totalitarismo moderno e tradicional. O que mudam são as situações, o espaço e as ideologias, porém, a solução é sempre a mesma.

Por isso, a autora nos faz refletir que: “Uma importante lição a ser aprendida com a ascensão do totalitarismo moderno é a de que pode constituir erro fatal subestimar o poder do mito”.

Dentro desse raciocínio cabe outra reflexão: E a evolução humana na atualidade, como organizar a sociedade de forma a promover a sobrevivência de nossa espécie?

Uma sociedade gilânica ou de parceria, simbolizada pelo Cálice provedor e intensificador da vida em vez da Espada letal, nos oferece uma alternativa viável. A questão maior é: Como chegar lá?

A solução totalitária

  • mentalidade androcrática  X  gilânica;
  • androcracia valoriza acima de tudo todas as supremacias;
  • costumam equivaler à violência e ao domínio dos   homens fortes;
  • esgotamento progressivo dos sistemas;
  • cenário imaginado para o futuro: totalitarismo global;
  • característica mais extraordinária das modernas sociedades totalitárias;
  • Indústrias de fabricação de mitos, imposição pré-histórica da androcracia.

[1] Lúcio Eduardo Darelli - é doutorando do programa de pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC. darelli@gmail.com / darelli.blog.com

[2] Tags: portal e-gov: disc complexidade; disc complexidade 2011

[3] O Cálice e a Espada: Riane Eisler

Leitura obrigatória da disciplina – Complexidade das sociedades em rede – do programa de pós-graduação em Engenharia e gestão do conhecimento – PPEGC - Doutorado, da Universidade Federal de Santa Catarina–UFSC, ministrada pelo professor Aires José Rover.