QUESTOES SOBRE O LIVRO "Tempos líquidos", de Zygmunt BAUMAN e o GOVERNO ELETRONICO (GRUPO 1)


Porrogerio- Postado em 16 agosto 2012

 

1. Pode-se afirmar que o governo eletrônico é uma das formas do Estado-Nação de tentar reassumir o poder na Modernidade Líquida?

          Segundo Bauman o Estado perdeu o poder de agir e se mantem “na direção de um espaço global (e, em muitos casos, extraterritorial) politicamente descontrolado” (BAUMAN 2007, p. 8) e a política perdeu (a “capacidade de decidir a direção e o objetivo de uma ação”) a capacidade de operar efetivamente na dimensão planetária, já que permanece local.

          Ainda segundo o autor, a ausência de controle político transforma os poderes numa fonte de profunda e incontrolável incerteza, e a falta de poder torna as instituições políticas bem como as suas iniciativas e seus empreendimentos, cada vez menos relevantes para os problemas existenciais dos cidadãos e, por essa razão, atraem cada vez menos a atenção destes (BAUMAN, 2007, p. 8). Com base nessa afirmação é possível dizer que dificilmente o Estado reassumirá o controle e o poder a partir do uso de aparatos tecnológicos na prestação de serviços públicos, ou seja mudando a maneira com que o governo interage com os cidadãos não implicará na redução do poder das forças globais.

2.O governo eletrônico pode contribuir para a redução do problema de excedente populacional?

          Segundo o autor um dos efeitos negativos da Globalização é a desregulamentação das guerras e consequentemente o aumento de refugiados. Trata-se de “pessoas em busca de asilo pelos países visados pelos migrantes globais em sua busca de proteção contra a violência, além de pão e água potável” (BAUMAN, 2007, p. 55). Refugiado significa “perder os meios em que se baseia a existência social, ou seja, um conjunto de coisas e pessoas comuns que têm significados - terra, casa, aldeia, cidade, pais, posses, empregos e outros pontos de referência cotidianos” (BAUMAN, 2007, p. 46). Um dos problemas enfrentados pelos refugiados refere-se à absorção de parte destes excedentes populacionais pelas guerrilhas, grupos de criminosos e traficantes e usuários de drogas.

          Diante disso o governo através de projetos tem condições de disponibilizar informações nos diversos canais de governo eletrônico com o intuito de prevenir e/ou reduzir os problemas que por ventura pode atacar os excedentes populacionais.

 3.Segundo Bauman “as novas classes perigosas [...] são reconhecidas como inadequadas à reintegração e proclamadas inassimiláveis [...]” (BAUMAN, 2007, p. 75). São pessoas sem emprego, os criminosos que não são mais vistos como temporariamente expulsos da vida social normal e destinados a serem "reeducados", "reabilitados" e "reenviados à comunidade" na primeira oportunidade mas como permanentemente marginalizados, inadequados para a "reciclagem social" e designados a serem mantidos permanentemente fora, longe da comunidade dos cidadãos cumpridores da lei (BAUMAN, 2007, p. 76). Diante disso, pode o governo eletrônico ajudar a mudar essa realidade?

Sim. O governo eletrônico baseia-se na democratização do acesso à informação e a inclusão digital com o objetivo de promover a cidadania. O governo oferece diversos serviços públicos inclusive em âmbito digital para que os cidadãos possam ter acesso ou ser orientado em relação aos programas de assistência social e de certa forma mudar a realidade das pessoas marginalizas pela sociedade.

 4.É possível estabelecer uma relação da “cidade” moderna descrita por Bauman em seu livro “tempos líquidos” com a proposta do Governo Eletrônico?

As áreas habitadas urbanas são chamadas de “cidades” se forem caracterizadas por uma densidade relativamente alta em termos de população, interação e comunicação (p. 77). Bauman afirma que hoje as cidades vêm se transformando rapidamente de abrigos contra o perigo em principal fonte desse mesmo perigo (p. 78), ou seja, à medida que pretende proteger seus habitantes (através de guetos urbanos voluntários) fomenta a desintegração das pessoas com suas comunidades, uma vez que as pessoas da ‘camada superior’ não pertencem ao lugar que habitam, pois ao se conectarem a outros espaços, não nutrem responsabilidade pelo destino de sua cidade (p. 80/81). Ao contrário, a ‘camada inferior’ está ‘condenada a permanecer local’, a batalha por sua sobrevivência será travada dentro da cidade que habitam (p. 81).

A relação é perfeitamente possível. O governo eletrônico procura colocar as inovações tecnológicas a serviço de um governo mais justo, democrático, participativo. Para tanto, desenvolve ações específicas nas esferas de governo. Muito embora os objetivos do governo eletrônico sejam nobres, não há como não se estabelecer uma relação muito estreita entre o panorama apresentado por Bauman no aspecto tangível das cidades e o ambiente virtual proposto pelo governo eletrônico. Se políticas consistentes e comprometidas não forem a prioridade na gestão do governo eletrônico corre-se o sério risco do ambiente virtual se tornar uma cidade moderna, com a formação de guetos totalmente despreocupados com a coletividade e visando apenas reforçar apenas o que lhe interessa individualmente.

 5.Em uma passagem de seu livro “tempos líquidos” Bauman afirma “A vida na cidade é uma experiência notoriamente ambivalente. Ela atrai e repele. Para tornar o destino do cidadão urbano ainda mais dilacerante e difícil de remediar, são os mesmos aspectos da vida da cidade que, intermitente ou simultaneamente, atraem e repelem...A confusa variedade do ambiente urbano é uma fonte de medo. Os mesmos brilhos e reflexos caleidoscópicos do cenário urbano, embora jamais carentes de novidade e surpresa, constituem seu charme e poder de sedução quase irresistíveis” (p. 94/95). Do ponto de vista do cidadão, o governo eletrônico traz em si também essa experiência ambivalente?

Sem dúvida. Todos os meios colocados à disposição do cidadão para defesa e proteção de seus direitos, bem como a possibilidade de interação e acesso à “coisa pública” têm um poder de sedução muito grande e conecta o cidadão ao mundo das novas tecnologias. Por outro lado, esse novo ambiente é fonte de medo. As novas tecnologias possibilitam acesso a informações, dão uma nova conotação ao público e ao privado, geram (direta ou indiretamente) exclusão digital, provocam a redefinição de conceitos e práticas, ou seja, tiram o cidadão de sua “zona de conforto”.

 6.Em outra passagem Bauman afirma “a imagem do ‘progresso’ parece ter saído do discurso do aperfeiçoamento compartilhado para o da sobrevivência individual (p. 108). Será essa a face do governo eletrônico?

Bauman critica a individualização da sociedade atual, pouco comprometida com o local onde habita e buscando sempre soluções de interesse pessoal. A proposta do governo eletrônico vem justamente possibilitar uma maior conexão do cidadão com os problemas locais, através da interatividade e do acesso a informações. Dessa forma, espera-se envolver o cidadão para que este partilhe/compartilhe sugestões, propostas, e de forma ativa possa colaborar com a melhora de sua cidade, estado, país, mundo. O governo eletrônico atua justamente com base nas ideias de compartilhamento, colaboração, interatividade, características que levam à solidariedade e não à individualização. Portanto, em sua proposta, o governo eletrônico pode ser uma ferramenta útil na reversão do quadro atual do comportamento das pessoas nas cidades.

 7.Considerando o conceito de “vida líquido-moderna” descrito por Bauman, de que forma o Governo Eletrônico pode colaborar no combate à insegurança coletiva?

Bauman descreve um novo individualismo na vida moderna, com o enfraquecimento dos vínculos humanos, e uma sociedade que não  mais protegida pelo Estado, onde o poder e a política se afastam cada vez mais de uma sociedade aberta compulsoriamente pelas pressões das forcas globalizadoras, num ambiente onde impera o medo que alimenta a insegurança e a incerteza. O governo eletrônico, por meio das políticas de acesso a informação, fornecera ferramentas que possibilitem recuperar o controle da sociedade sobre a política, estabelecendo novos limites à liberdade de escolha, de modo a superar esses medos que imperam no inconsciente da coletitividade.

 8.Como o Governo Eletronico pode auxiliar o Estado na administração dos medos da modernidade?

Segundo Bauman, os “medos da modernidade” nasceram com a primeira desregulamentação/individualização pelo afrouxamento/desmonte dos laços comunitários/empresariais, decorrente da solidariedade pela competição, na qual os indivíduos foram abandonados apenas com seus próprios, escassos e inadequados recursos. O Governo Eletronico poderá auxiliar na administração dos medos da modernidade ao utilizar as tecnologias da informação (TIs) para estreitar os laços de solidariedade rompidos, restabelecendo os vínculos interumanos, de modo a ajustar as instituições e os procedimentos políticos às realidades sociais existentes, recompondo o Estado Social.

 9.Bauman, citando Robert Castel, destaca o conceito de “classes perigosas”. Explique o que são as novas “classes perigosas”, apontando como o Governo Eletronico pode solucionar esse problema.

As novas “classes perigosas” são aquelas reconhecidas como inadequadas à reintegração e proclamadas inassimiláveis, já que não se pode conceber uma função útil que sejam capazes de exercer após a “reabilitação”; são excluídas permanentemente, exclusão esta promovida ativamente pela modernidade liquida (p. 74-75). O Governo Eletronico, por meio de suas políticas de inclusão digital, poderá diminuir a distancia entre o cidadão e os Poderes do Estado criando uma esfera de dialogo mais simples e direta entre as partes, regenerando o espaço público, otimizando os serviços prestados à população e estimulando a interação e discussão dos problemas locais, de maneira a romper a sua “irrevogabilidade social.