OS LEGADOS DA CIVILIZAÇÃO


PorAnônimo- Postado em 20 abril 2011

 

Resenha subtítulo por: Lúcio Eduardo Darelli[1]

darelli@gmail.com

 

OS LEGADOS DA CIVILIZAÇÃO[2]

 

A autora Riane Eisler, em seu livro O cálice e a espada[3], nesta parte que trata sobre os legados das civilizações, propõem uma releitura com base em novas descobertas e considerações, e, dos artefatos já descobertos.

Na grande maioria das vezes, quando se trata de retratar um passado distante que tenha como base uma sociedade organizada no conceito mais aceito de civilização, remonta-se rotineiramente às civilizações dos Sumérios e Assírios, sendo elas, supostamente as civilizações mais antigas da terra.

As Teorias mais correntes acerca da evolução da sociedade humana, diz a autora, afirmam que os povos primitivos impunham ações sanguinárias que resultavam em inevitável dominação. Não demorava muito, e motivados pelo resultado eficaz das investidas anteriores, a expansão territorial se impunha como conseqüência da manutenção do poder e da conquista.

Ainda como regra, as sociedades dominadoras necessitavam desenvolver, além de estratégias de combate, avanços tecnológicos e culturais.  Assim sendo atestam os teóricos dessa concepção, segundo a autora, que a guerra passava ser um ‘infeliz pré-requisito’ para evolução da sociedade humana.

Os selvagens antes das civilizações mais remotas – reconhecidas como tais – eram pacíficos, produziram pouco ou quase nada duradouro em termos de tecnologia ou cultura justamente por falta dessa motivação bélica. Assim pensam os ‘Teóricos do Pentágono’.

No entanto, na consideração da autora, foi justamente o oposto o que ocorreu. Novos achados de períodos ainda mais remotos reforçam o que a autora já vinha observando nas pesquisas mais recentes. Com base nesse novo olhar sobre o passado reconhece-se um aspecto surpreendente da participação feminina na evolução da espécie humana.

Para a autora, não é verdade que as civilizações mais remotas nada produziram em temos de tecnologia e cultura, pelo contrário, produziram e muito, e foi essa realidade que permitiu, entre outras coisas, a evolução da espécie humana. Necessariamente não houve a necessidade da atividade belicosa como pressuposto da evolução. Os antigos povos, eram realmente pacíficos, houve uma época em que a parceria entre homens e mulheres era tal que favoreceu o surgimento das culturas, mitos e lendas.

Os ‘Novos dados’ re-significaram os diferentes achados antigos sob um novo enfoque. Os mitos e lendas orientam nas escavações arqueológicas e parecem dar pistas de uma civilização realmente pacífica em passado muito remoto, antes das dominações. O que esta re-significação nos mostra é que as tecnologias materiais e sociais fundamentais para o desenvolvimento dos hominídeos foram desenvolvidas antes da imposição de uma sociedade dominadora.

Havia o cultivo de alimentos, tecnologias de construção, recipientes e vestuários já eram conhecidas pelos povos do período pré-neolítico, e os cultos religiosos – principalmente o culto à Deusa, protetora e mãe da terra e da natureza - eram visíveis em quase todas as culturas neolíticas.

Também, considera a autora, através de escavações  feita por Gibuntas – que conceitua o que chamou de Europa antiga – as sociedades remotas já conheciam as recursos naturais como a madeira e suas utilidades, as fibras e metais manufaturados. Sistemas mais complexos de organização tais como leis, governo e religião –configurando uma cultura desenvolvida- resultaram em variações nas mais variadas regiões da Europa antiga como: cultos, magistratura (embrionária) e sacerdócios. Formas de administração, educação, previsões de futuro e oráculos de Deusas também foram localizados.

Considerando que havia, portanto, uma cultura com base em uma religião, e um culto a Deusa, é de supor que a mesma tenha perpetuado e sustentado a organização social remota por muito tempo. Ao analisar achados, em quase todos, há menção aos cultos e à existência de ente central representada pela figura feminina de uma Deusa. A mesma ganha a longo dos tempos muitos nomes e atribuições, porém é recorrente a associação da Deusa às questões ligadas à natureza e a fertilidade.

A autora diz que a desconsideração de tais achados e, portanto, da realidade das sociedades remotas é combatido pela hipótese do paradigma da dominação masculina. É o que ela chama de paradigma androcrático. É o homem o centro da evolução da espécie e não a mulher. É simplesmente inadmissível considerar que a mulher tenha tido qualquer papel fundamental, ou importante, na evolução da espécie humana.

Contudo, é justamente o esse ’novo olhar’  da ciência, segundo a autora, tem demonstrado. A mulher teve papel fundamental na evolução das sociedades, e autoras e autores consagrados como: Nancy Tanner, Jane Lancastter, Lila Leibowitz, Adriene Zihlman, Robert Briffant, e Erch Neumann trilham este caminho, de um modelo alternativo, identificando a mulher como o centro da evolução da sociedade e da espécie humana.

A postura ereta, muito provavelmente, somente ocorreu porque as mãos precisavam ficar livres para a coleta e a pilhagem.

Desse ponto em diante as conseqüências da atividade ereta foram o desenvolvimento de tecnologias e da cultura.

A mãe que carregava seu filho no colo, preocupada em manter a prole viva, ajudou com seu empenho e preocupação a solucionar os problemas da sobrevivência. Isso fez com que o cérebro se desenvolvesse tornando-o apto às ações de planejamento e organização, o que por conseqüência direta, desenvolveu os sistemas sociais.

Tudo isso pode ser meticulosamente observado pelas deidades femininas – em sua grande maioria – do passado. As mulheres construtoras do desenvolvimento da espécie humana estão representadas nos cultos religiosos, nos símbolos e na exaltação da divindade provedora de todas as bênçãos da natureza, a DEUSA, que no passado remoto assumiu esse papel nas mais variadas culturas, principalmente na Europa Antiga. Em todas as culturas da antiguidade podemos observar as divindades femininas e suas atribuições em prol da sociedade local.

 

 

O Cálice e a Espada

Da autora: Reine Eisler

Leitura obrigatória da disciplina – Complexidade das sociedades em rede – do programa de pós-graduação em Engenharia e gestão do conhecimento – PPEGC - Doutorado, da Universidade Federal de Santa Catarina–UFSC, ministrada pelo professor Aires José Rover.

 

 

 

 


[1] Lúcio Eduardo Darelli - é doutorando do programa de pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC. darelli@gmail.com / WWW.darelli.blog.com.br

[2] Tags: portal e-gov: disc complexidade; disc complexidade 2011

[3] O Cálice e a Espada: Riane Eisler

Leitura obrigatória da disciplina – Complexidade das sociedades em rede – do programa de pós-graduação em Engenharia e gestão do conhecimento – PPEGC - Doutorado, da Universidade Federal de Santa Catarina–UFSC, ministrada pelo professor Aires José Rover.