O Culto à Deusa


Pordeboraegc- Postado em 09 abril 2011

Neste post serão apresentados os tópicos mais relevantes discutidos na seção "O Culto à Deusa" do capítulo 2 do livro “O Cálice e a Espada” de Riane Eisler.

Um dos aspectos importantes relacionados ao culto pré-histórico à Deusa é denominado sincretismo, ou seja, o culto à Deusa era ao mesmo tempo monoteísta e politeísta. Pois a Deusa era adorada sob nomes e formas diferentes, mas por outro lado, pode-se falar em fé na Deusa como uma entidade transcedente única, com várias semelhanças como: aspectos de mãe, ancestral ou criadora e virgem ou donzela.

A deificação da fêmea parece ter sido originada nas antigas sociedades agrícolas, com característica biológica de dar à luz e proporcionar nutrição, assim como a terra.

Em diferentes pontos do mundo encontra-se ainda a Deusa-Mãe como fonte de toda a existência. Nas Américas, ela é a “Senhora da Saia de Serpentes”, sendo a serpente uma manifestação importante também na Europa, Oriente Médio e Ásia. Na antiga Mesopotâmia este conceito existiu na idéia da "montanha do mundo" como o corpo da Deusa-Mãe do universo.

Um tema sempre presente é o princípio feminino às águas como motivos de chuva e fornecimento de leite, notados em cerâmica decorada da antiga Europa, recipientes e vasos de rituais, recipientes para água que eram comuns em seus santuários.

Embora tenha sido pouco difundido, muito do que surgiu nos milênios de história neolítica ainda se encontra hoje entre nós. Muito deste imaginário da Deusa sobreviveu, como a Deusa neolítica grávida, descente direta das “Vênus” paleolíticas, sobrevive na Maria grávida cristã medieval; a imagem neolítica da jovem Deusa ou Virgem, adorada ainda no aspecto da Virgem Maria; a figura neolítica da Deusa-Mãe levando seu filho divino nos braços é mostrada como a Madona cristã e seu filho. Outras imagens sobreviveram com outro significado, como os chifres de touro que tinham poder da natureza, símbolo do princípio masculino que descende de um útero divino provedor que foi convertido para o poder masculino ou símbolo do demônio.

Como apontam os historiadores religiosos, na pré-história e em grande parte nos tempos históricos, a religião era vida e vida era religião. No passado os estudiosos referiam ao culto à Deusa como um culto à fertilidade e não como religião, segundo a autora, considera-se esta caracterização muito simplista.

A religião no neolítico tinha uma visão de mundo bem diferente da atual, o chefe da família sagrada era a mulher: “a Grande Mãe, a Rainha dos Céus, ou a Deusa em seus variados aspectos e formas”. Além dos membros masculinos, seu esposo, irmão e filho, que também eram considerados divinos. Por outro lado, o cabeça da família sagrada cristã é um Pai todo poderoso, o segundo homem Jesus Cristo que representa outro aspecto do ente supremo e Maria, a única mulher, é uma simples mortal como os demais terrestres, de ordem inferior.

As religiões onde a mais poderosa deidade é masculina refletem ordem social patrilinear (traçada por parte do pai) e o domicílio é patrilocal (a esposa vai viver com a família ou clã do marido). Já as religiões onde a mais poderosa deidade é feminina refletem ordem social matrilinear (traçada por parte da mãe) e o domicílio é matrilocal (o marido vai viver com a família ou clã da esposa). Historicamente foram refletidas uma estrutura social dominada pelo homem, em geral hierárquica, e doutrinas religiosas em que a subordinação feminina é considerada como sendo de ordem divina.

Por Débora Cabral Nazário.