O Conhecer e o conhecedor


PorAnônimo- Postado em 14 abril 2011

 

Resenha subtítulo por: Lúcio Eduardo Darelli[1]

darelli@gmail.com

O Conhecer e o conhecedor[2]

Na visão de Maturana e Varella[3], o conhecer consciente é comprometedor. A partir do momento que tomamos consciência das coisas, dos fenômenos que nos cercam, da diversidade, da multiplicidade e da complexidade, influenciamos e somos influenciados. O veículo, ou a ferramenta mais utilizada para influenciar é a linguagem. A linguagem, por pressuposto, é o meio por onde as relações humanas se processam, e é por essa razão que as relações humanas buscam na bagagem grupal a ética necessária para a convivência social.

O fazer é conhecer, e conhecer é fazer com ética.

Neste ponto da obra – A árvore do conhecimento – cap X – os autores demonstram como seguiram uma linha de raciocínio lógica  e estruturada para expor suas idéias. Ao conduzir o leitor por esse método, pode parecer que há uma relatividade quase absoluta entre o conhecimento e o conhecedor, pois tudo parece ser possível, ou não.

A circularidade dos fenômenos sociais, fundados num acoplamento liguístico, dá origem a todas as linguagens que o mundo pode criar e, portanto, explica os próprios fenômenos de nossa experiência cotidiana à partir dessa linguagem.

Essa recursividade cognitiva parece ser biológica, contudo não há registros dela, ou seja, não se pode garantir a origem dos conhecimentos e dos fazeres, que sofreram as mudanças estruturais necessárias da natureza.

Essa circularidade cognitiva, ou a sensação, pode causar mal-estar, e isso porque o mundo que acreditamos, ou achamos que conhecemos é objetivo, e nós nos colocamos como observadores apenas e não como causa e efeito dos fenômenos sociais. Sem esse ponto de referência, fixo e absoluto, diz Maturana e Varella “(...) onde ancorar nossas descrições e assim afirmar e defender sua validez.”

Porém, a experiência ensina que é precisamente por essa mescla entre certezas e incertezas que caminha a humanidade.  Maturana e Varella afirmam que:

“Na verdade, todo mecanismo de geração de nós próprios como agentes de descrições e observações nos explica que nosso mundo, bem como o mundo que produzimos em nosso ser com outros, sempre será precisamente essa mescla de regularidade e mutabilidade, essa combinação de solidez e de areias movediças, tão própria da experiência humana quando examinada de perto.”

Mesmo assim, não podemos sair desse ciclo, ou da busca dessa regularidade, é da natureza da linguagem, de nós mesmos, da vida social. Está intrinsecamente agregado em nossa natureza cognitiva, em nosso cérebro, em nossa linguagem, sempre estaremos passando de uma interação à  outra, e sempre estaremos buscando um equilíbrio.

Justamente por essa condição humana, da recursividade, todos os mundos produzidos acabam por ocultar suas origens, segundo os autores “(...) biologicamente não há meio de desvendar como ocorreram as regularidades do mundo a que estamos acostumados, (...)”. Os autores afirmam ainda que: “A bagagem de regularidades próprias ao acoplamento de um grupo social é sua tradição biológica e cultural. A tradição é uma maneira de ver e atuar, mas também um modo de ocultar.”

O conhecimento estruturado não pode conhecer a totalidade do mundo, não pode conhecer o conhecimento porque está oculto pela regularidade do óbvio. A reflexão se dá quando há no processo o conflito. Em contraste do que achamos que conhecemos e o novo que nos choca, passamos à  reflexão do não óbvio, do que está oculto, e descobrimos um novo mundo, o que equivale dizer uma nova postura, um novo fazer. Poderá acontecer de se descobrir um novo ser despojado que está de toda tradição e obviedade cultural.  “O conhecer do conhecer não se ergue como uma árvore com um ponto de partida sólido (...)”

Resumindo: O conhecer e o conhecedor

RECURSIVIDADE COGNITIVA

  • A necessária e inevitável natureza da natureza

PONTOS CEGOS E NÓS MESMOS

  • Nossas visões de mundo não conservam registros de suas origens

PALAVRAS, SÍMBOLOS E OBJETOS DE REPRESENTAÇÃO

  • Reflexão lingüística, oculta pelo óbvio, relações e garantias

BAGAGEM DO GRUPO SOCIAL

  • Regularidades, tradição biológica e cultural
  • Maneira de ver e atuar também são, de ocultar
  • O conhecer humano pertence a algum dos mundos culturais

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[1] Lúcio Eduardo Darelli - é doutorando do programa de pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC. darelli@gmail.com / WWW.darelli.blog.com

[2] Tags: portal e-gov: disc complexidade; disc complexidade 2011

[3] Arvore do Conhecimento: Humberto Maturana e Francisco Varella

Leitura obrigatória da disciplina – Complexidade das sociedades em rede – do programa de pós-graduação em Engenharia e gestão do conhecimento – PPEGC - Doutorado, da Universidade Federal de Santa Catarina–UFSC, ministrada pelo professor Aires José Rover.