O CÁLICE E A ESPADA - Uma síntese crítica sobre a abordagem do Paleolítico


Porjuliano- Postado em 14 abril 2011

 Juliano Tonizetti Brignoli

 

Façamos primeiramente uma análise acerca do prefácio do livro de Eisler e sua proposta que parece contribuir para uma reflexão sobre a conduta social contemporânea ligada a história e evolução no desenvolvimento das civilizações. A autora evidencia no início de sua obra alguns fatos e elementos que justificam comportamentos da atual conjuntura social. Podemos nos reportar na história e observar as atrocidades dos seres humanos para com sua própria espécie em várias gerações e fica notório que nossos comportamentos parecem tender sempre para um modelo que, em seu discurso, Eisler chama de dominante ou baseado na supremacia de uma parte sobre a outra, neste caso, referindo-se as duas metades  - macho e fêmea. Ao retratar o termo dominante, Eisler refere-se ao passado de guerras, a conduta da destruição ao invés da construção e fica indignada em sua análise em elucidar que o ser humano é a única espécie que poderia usar toda a sua capacidade física e cognitiva em prol desta construção benéfica a sociedade, exemplificando que plantamos e semeamos campos, compomos músicas, ensinamos as crianças a ler e escrever etc. Contudo, nossa espécie ameaça todas as formas de vida do planeta e inclusive compromete seu próprio futuro. Aqui devemos refletir sobre nossa própria racionalidade: usamos tecnologias, aprimoramos nossas técnicas e ferramentas para qualificar nossos processos e melhorar nossas vidas, mas, que grau de racionalidade estamos usando se para este desenvolvimento estamos destruindo nosso próprio lar? Estas condutas são explicadas por Eisler quando faz referência a culpa atribuída aos modelos socialistas, comunistas e capitalistas. A autora mostra que não é o fato de nossa sociedade estar mais avançada que existem tantos problemas sociais, citando a violência, neste caso. O modelo capitalista, o paradigma industrial e a produção desencadeiam guerras entre nações pela competição de recursos, embora, nas sociedades mais simples em outras épocas passadas existia muito mais violência do ser humano para com seu semelhante, basta reportar-se aos povos que adotaram modelos dominantes, como foi o caso dos Romanos.

Com este contraponto de épocas Eisler pretende introduzir ao leitor a idéia de refletirmos sobre um novo modelo de conduta social, substituindo o dominante pela parceria e para tal, recorre a uma análise da evolução histórica de nosso passado. É importante observarmos as relações existentes entre as evidências que mostram a evolução das sociedades humanas com os Acoplamentos Estruturais que ocorreram nestas evoluções, pois, a história conta e mostra os registros com base em estudos antropológicos e, os acoplamentos são explicados por Maturana & Varela em sua obra “A Árvore do Conhecimento” por meio das Ciências Biológicas.

A primeira análise de Eisler faz referência ao período Paleolítico de nosso passado. Esta época parece ser marcada pela revelação de inúmeros registros psíquicos acerca da relevância dada ao elemento feminino. As estatuetas femininas são as mais importantes evidências. Estes registros mostram certos relacionamentos que nossos antepassados tinham com o temor dos mistérios da vida e da morte. Rituais pareciam desejar o renascimento e para tal, o símbolo feminino era o mais ressaltado em virtude da mulher ser a responsável pela manutenção da vida. Um ponto notável nas discussões sobre estas relações entre o feminino, a vida e a morte é o registro da utilização da pigmentação ocre vermelho aplicada em cadáveres descobertos em túmulos na Europa, em regiões que elucidaram evidências sobre o período Paleolítico, uma prática que parece denotar a importância do sangue proporcionador da vida. Nossos antepassados no Paleolítico também praticavam rituais pela adoração de animais e vegetais, os quais já entendiam serem elementos fundamentais para sua sobrevivência.

Quando Eisler menciona nossa “Herança psíquica perdida” ela faz referência às fortes ligações que nossos ancestrais entendiam haver entre todos os elementos da natureza com os mistérios da vida e da morte. Isso parece trazer uma exemplificação sobre os Acoplamentos Estruturais que já ocorriam quando da convivência de nossos antepassados com os demais elementos da natureza decorrentes daquela época, ou seja, o ambiente, a natureza influenciava suas condutas, mudanças estruturais ocorriam.

Eisler discorre sobre a origem de nossa civilização e menciona que “ainda prevalecem os preconceitos de antigos estudiosos que consideravam a arte paleolítica em termos do estereótipo convencional do "homem primitivo": sanguinários, caçadores belicosos e com base nesta interpretação dos materiais extremamente fragmentados restantes dos tempos do paleolítico, foram elaboradas as teorias, centradas no masculino”. Quando mulheres estudiosas passaram a realizar escavações, novas interpretações com base nos achados do Paleolítico foram efetuadas e trouxeram outras visões acerca da figura do feminino, caracterizando em especial, que havia, naquele período, uma conduta social de parceria e não somente de dominância, observadas a partir das interpretações em torno do conceito sobre o masculino.

Como evidenciado no início da obra de Eisler, a compreensão sobre a evolução histórica das civilizações deve contribuir para uma análise sobre a adoção de modelos de parceria ao invés dos modelos de supremacia que, evidentemente estão conduzindo nossa sociedade para um fim caótico.