Concepção de Educação no Pensamento de John Locke


Porwilliammoura- Postado em 22 novembro 2012

Autores: 
BALABAN, João Paulo

Concepção de Educação no Pensamento de John Locke

 

Noções Introdutórias

 

Objeto dessa pesquisa é analisar a concepção do pensamento educacional realizado por John Locke na obra Pensamentos sobre a educação. Ressalta-se que presente trabalho possui caráter meramente expositivo do referido texto publicado na Revista Digital EFDEPORTES de Buenos Aires.

           

Parafraseando o referido texto, podemos chegar algumas conclusões do objeto de estudo de Locke, primeiramente o referido filósofo trata da educação física, aquela voltada à postura da pessoa perante a sociedade. E, ainda, Locke faz menção à educação relacionada ao trabalho, consequentemente desenvolvimento e progresso.

           

Dentre essas consideração, esclarece-se novamente, que as infra argumentações são fundamentadas pelo texto de Carlos Herold Junior, que fez uma excelente trabalho sobre o pensamento Lockiano, nada mais justo de que citar a sua grande influência sobre este trabalho, inclusive no que se refere as conclusões acerca do pensamento Lockiano.

 

1. A educação no pensamento de Locke[1]

 

Parafraseando Herold Jr., John Locke, no que tange a seu pensamento educacional é analisado de forma ampla nos manuais de história de educação e por grandes estudiosos da educação na sociedade. Vale observar que a admiração que pensamento educacional de Locke recebe está constantemente ligado com a importância que o filósofo inglês atribui ao corpo e à educação física, voltada ao modo como os sujeitos vivem. Enguita (1986), ao redigir uma apresentação e introdução da tradução espanhola dos Pensamentos sobre a educação, depois de ter listado algumas características da obra, afirma que Locke tinha uma "especial atenção prestada à educação física" (ENGUITA, 1986, p. 14).

 

O renomado autor Cambi também se posiciona no mesmo sentido, afirmando algumas características da educação física no filósofo inglês:

 

“A educação do corpo (ou "vaso de argila", como se exprime Locke) deve ser marcada pela regra do "endurecimento", que exclui a excessiva "delicadeza" e os "demasiados cuidados", exige um modo de vestir, nem leve nem pesado, que permita a robustez, e uma vida "ao ar livre", válida tanto para os rapazes como para as moças”. (CAMBI, 1999, p. 319).

 

 

Contrapondo essa afirmação da relevância da educação física para a formação do gentleman está a constatação de que John Locke pensou e escreveu suas análises educacionais com os olhos voltados para as classes dirigentes que, na Inglaterra do século XVII, formavam-se pelos conflitos e mútuas influências entre a decadente nobreza feudal e nascente burguesia. Enguita, enfatizando as relações entre Locke e a burguesia,

 

Enguita vai além em sua análise dos vínculos históricos de Locke e sublinha o fato de Locke estar buscando criar um pensamento educacional que ambicionava justificar e legitimar as diferenças sociais:

 

“Se a educação é o que cria as diferenças, parece que daí deveria seguir-se a utilidade e a necessidade daquela para terminar com estas. Mas as desigualdades sociais não são nada que tire o sono ao protegido de Lord Shaftesbury. Locke está perfeitamente convencido que todo o mundo está bem onde está, de que não se trata de empregar a educação para com as diferenças, mas para adaptar-se a elas”(ENGUITA, 1986, p.15).

 

 

Cambi (1999) observa também os inegáveis vínculos entre John Locke e o capitalismo inglês reconhecendo o caráter classista da educação lockiana, afirmando paralelamente o valor da educação e da filosofia de Lo>“Que Locke afinal não tenha levado em nenhuma conta o problema da educação do povo, como já foi muitas vezes destacado, ou que o tenha resolvido de forma caritativa ou através de escolas de trabalho forçado para os rapazes pobres, isso não vem prejudicar o valor teórico de sua proposta pedagógica”(CAMBI, 1999, p.321).

 

 

Concluí-se, portanto, que a historiografia reconhece o valor das ideias de Locke em relação à educação física, bem como a necessidade de entender a educação do corpo como relacionada com o processo de transformação social que ocorria na Inglaterra de forma específica e em toda Europa de forma ampla.

 

 

1.2. A educação, corpo e trabalho nos "Pensamentos sobre a educação" (1693)

 

 

O filósofo inglês atribuiu grande importância ao desenvolvimento da capacidade de trabalho, entendida aqui, como a inteligência e a força necessárias ao gentleman e ao homem de negócios para fazer com que suas riquezas aumentem de forma legítima. Consoante com sua filosofia do conhecimento, elaborada no Ensaio acerca do entendimento (1973), vemos que Locke só atribui um caráter natural e divino à igualdade entre homens. A diferenças entre eles residiria no desenvolvimento dessa capacidade do trabalho que, necessariamente se daria pelas relações sociais que se estabelecem na sociedade. É aqui que ganha relevo a problemática educativa no interior da filosofia de Locke. A educação assume um lugar de destaque que é expresso por Locke da seguinte maneira:

 

“A felicidade e a desgraça do homem são, em grande parte, sua própria obra. Aquele que não dirige seu espírito sabiamente, não tomará nunca o caminho certo, e aquele que cujo corpo seja doente e débil, nunca poderá avançar por ele. Reconheço que alguns homens têm uma constituição corporal e espiritual tão vigorosa e tão bem modelada pela natureza, que apenas necessitam de um auxílio dos demais.[...] Entretanto os exemplos deste gênero são bem escassos e penso que se pode afirmar de que todos os homens com os quais encontramos, nove partes de dez são que são, bons ou maus, úteis ou inúteis, pela educação que tenham recebido(LOCKE, 1986, p. 31)”.

 

 

O vínculo de Locke com a nascente burguesa se expressa claramente nos seus conselhos. Quando se trata de mostrar essa importância que a educação possui, afirmando que "É um mau cálculo fazê-lo rico de dinheiro e pobre de espírito" (p.122), Locke adverte:

 

 

“Economiza todo o que puderes em brinquedos, roupas e outros gastos inúteis, mas não economize em uma parte tão necessária como esta. É um mau cálculo fazê-lo rico de dinheiro e pobre de espírito. Com profundo assombro temos visto pais que esbanjam sua fortuna para dar a seus filhos belas roupas, [...] e que ao mesmo tempo debilitam seu espírito e não se preocupam de esconder a mais vergonhosa das nudezes, ou seja, sua ignorância e suas más inclinações(LOCKE, 1986, p.122).”

 

 

Essa advertência é necessária, pois Locke verificou a necessidade de se escolher um preceptor que estivesse à altura desenvolver seu plano educativo da maneira a mais completa. Por conta disso, os gastos com a educação deveriam ser fatores secundários, se comparados com as exigências a serem buscadas no preceptor:

 

 

“O preceptor não dever sem somente um homem bem educado; é preciso que conheça o mundo, os costumes, os gostos, as loucuras, as mentiras, as faltas do século em que o destino tem lançado, sobretudo, o país que vive. É preciso que saiba fazer conhecer e descobrir todo isto a seus discípulos, à medida que este se capacita para compreendê-lo; que o ensine a conhecer os homens e seus caracteres; que descubra a careta que disfarçam com freqüência seus títulos e suas pretensões; que faça distinguir o que está oculto no fundo destas aparências.” (LOCKE, 1986, p. 127).

 

 

Tão importante quanto à educação, está, como afirmam Aranha (2006), Manacorda (2006) e Cambi (1999), a educação do corpo. Locke começa sua obra citando as palavras de Juvenal, dizendo que ele quer formar um homem de espírito forte em um corpo também fortalecido. Além disso, depois das considerações introdutórias, ele inicia suas análises com uma seção chamada Sobre a saúde, justificando que um corpo saudável é necessário para quem quiser ter um importante "papel no mundo" (LOCKE, 2006, p.35).

 

Ele fala sobre o cuidado na escolha das roupas, sobre a importância de acostumar a criança aos banhos frios e a suportarem também o calor, sobre a natação e sobre o contato com o ar livre. Interessante observar que, no que diz respeito à alimentação, o autor chega às minúcias, sugerindo alimentos, quantidades, validando ou refutando práticas aceitas em relação ao açúcar, condimentos, leite, falta de apetite, bebidas, frutas, sono e a importância do levantar-se cedo, sobre a moderação à mesa e a necessidade de horários determinados para as refeições.

 

Locke não secundarizou os conteúdos intelectuais da educação, mas não os enxergava como fins últimos da prática educativa: "A leitura, a escrita, a instrução, tudo creio que seja necessário, mas não acredito que seja a parte principal da educação". Ele justifica dizendo que: "Imagino que me tomarias por um louco se não estimasse infinitamente mais a um homem virtuoso e prudente que a um escolar perfeito" (LOCKE, 1986, p.208). Ao iniciar suas reflexões sobre a questão do corpo, além do caráter pragmático que essa modalidade educativa tem, notamos no autor que ela exerceu um papel de sustentador lógico para explicitar suas considerações sobre as outras modalidades educativas. É o que vemos quando Locke observa:

 

 

“Como a fortaleza do corpo consiste principalmente em ser capaz de resistir à fadiga, o mesmo ocorre com a do espírito. E o grande princípio ou fundamento de toda virtude se apóia nisso, em que o homem seja capaz de recusar-se a satisfação de seus próprios desejos, de contrariar suas próprias inclinações e seguir somente o que sua razão dita como o melhor, ainda que o apetite se incline em outro sentido.”(LOCKE, 1986, p. 67).

 

 

A educação do corpo para Locke deve ser dar na construção do hábito. Assumindo que o excesso de zelo das mães amolecem o caráter e o corpo da criança assume que "É preciso que os meninos sejam endurecidos para todos os sofrimentos, sobretudo, para os do corpo. Não devem ser sensíveis senão para os que despertam em um coração bem nascido, a vergonha e um vivo sentimento de honra" (LOCKE, 1986, p.155). Por outro lado, os castigos, sobretudo os que envolvem sofrimento corporal são alvo de grande atenção e preocupação pela parte de Locke. A diferença entre educar pelo endurecimento e o castigo é claro, afinal, uma coisa seria utilizar a dor e o sofrimento para educar o corpo e o espírito, outra coisa seriam utilizá-las para punir as faltas cometidas pelo jovem cavalheiro. Locke, assim, recomenda, no que tange aos castigos, prudência:

 

 

“Os golpes e os demais castigos servis e corporais não convém, pois, como meio de disciplina na educação de uma criança que queremos fazer um homem prudente, bom e ingênuo e, por conseguinte, raras vezes será aplicado e somente em grandes ocasiões, em casos extremos.”(LOCKE, 1986, p.79).

 

 

Podemos ver nessa prudência, o relevo que ganha o corpo e a atuação educacional sobre ele. Nas considerações de Locke, a não observância entre a sábia medida entre a rigidez e liberalidade, entre carinho e violência, redundaria no fracasso da empresa educativa, que no caso da Inglaterra, inviabilizaria a justificativa e o acesso a mais riquezas, bem como impossibilitaria uma sociedade politicamente baseada na proteção das forças de trabalho naturalmente depositadas, mas socialmente desenvolvidas pela educação e educação física. Nesse ínterim, salta aos olhos a forma como Locke, ao defender e descrever as formas de se educar fisicamente está, no fim, endossando a necessidade da transformação social que, no século seguinte, proporcionaria o liberalismo e a revolução industrial.

 

 

 

 

Considerações finais

 

 

Ao analisar o pensamento educacional de Locke do século XVII, sobre o fato de o filósofo considerar a educação física somente para o gentleman e/ou o homem de negócios, implica também o cuidado para se reconstruir o ambiente social, econômico e político que explica tal fenômeno.

 

No século XVII, a sociedade inglesa nos mostra a educação fisicamente. Entretanto a abrangência das práticas educativas modernas, que teve em Locke um de seus principais sistematizadores, bem como a diferença entre essas práticas e a educação da nascente classe trabalhadora é o que deve ser analisado e entendido.

 

Locke em seu pensamento educacional o que Adorno (1985) chamou de "amor e ódio ao corpo" nos albores da modernidade: ao mesmo tempo em que o corpo foi exaltado, cultivado e elogiado ele passa também a receber um tratamento que o mutila, instrumentaliza-o e o castiga de uma forma altamente "educativa". É esse relacionamento marcado por contradições e combinações que ata de forma firme as problemáticas que dizem respeito ao corpo, ao trabalho e à educação.

 

É o que observamos em Locke. São as relações e mediações entre essas três considerações que, ao mesmo tempo, inaugura uma sociedade que se via como liberdade, como igualdade, como expressão da luta contra as opressões, mas que, paralelamente, condicionava o nascimento de um modo de produção em que a exploração do trabalho alheio se dá com a justificativa de ser ela uma relação "inescapável" e juridicamente legítima.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências

 

HEROLD JUNIOR, Carlos. Trabalho, corpo e educação em John Locke. Buenos Aires: http://www.efdeportes.comRevista Digital – ano 12, nº 108. 2007. Acesso em 06/09/2012, às 13h.

 



[1]HEROLD JUNIOR, Carlos. Trabalho, corpo e educação em John Locke. Buenos Aires: http://www.efdeportes.comRevista Digital – ano 12, nº 108. 2007.