Acoplamento de Terceira Ordem


Porjuliano- Postado em 06 abril 2011

 

A Árvore do Conhecimento - Acoplamentos de Terceira Ordem

por

 Juliano Tonizetti Brignoli

 

Para iniciar esta discussão é pertinente reportarmos aos conceitos que precedem as definições acerca das estruturas e organizações dos seres vivos. Maturana & Varela (1995) definem em sua obra os níveis de acoplamento estrutural, que são: i) acoplamento de primeira ordem: compreendido em nível molecular, como as relações ou interações que ocorrem entre células; ii) acoplamento de segunda ordem: ocorre nas interações entre o organismo e seu sistema nervoso; iii) acoplamento de terceira ordem: interações entre sistemas nervosos.

Para uma melhor compreensão da abordagem em torno do conceito de acoplamento estrutural é importante saber que uma transformação ontogênica de uma unidade não cessa até a sua desintegração. A ontogenia é conhecida como a história das alterações estruturais que ocorrem em uma unidade sem que esta perca a sua organização. Podemos tentar exemplificar um caso de mudança estrutural que ocorre com a semente de milho: experimentos genéticos alteram estrutura da semente para que esta germine de modo a otimizar seu processo produtivo e de resistência à pragas e aleatoriedades do clima e do ambiente, porém, em sua organização, a semente continuará germinando a planta do milho.

As ontogenias de duas ou mais unidades podem ser acopladas dependendo de suas interações. As interações com o meio induzem perturbações que alteram estas estruturas.

Especificamente, o acoplamento de terceira ordem é caracterizado pelas interações entre organismos que fazem adquirir, ao longo de sua ontogenia, um caráter recorrente, estabelecendo um acoplamento estrutural que permite a manutenção da individualidade de ambos na prolongada sucessão de suas interações. A respeito desta última afirmativa é conveniente propormos algumas reflexões: 1ª. Este tipo de acoplamento conserva o caráter ou peculiaridade das espécies? 2ª. Mantém um nível de estabilidade, sem sofrer influências das perturbações nas interações com o meio?

Maturana & Varela (1995) argumentam que este nível de acoplamento é necessário para que se preserve a continuidade das linhagens dos organismos com reprodução sexuada e para a possibilidade da criação dos filhotes.

Nas abordagens sobre o acoplamento de terceira ordem observamos alguns comportamentos de machos e fêmeas em relação às responsabilidades e condutas na criação de seus descendentes. A cultura patriarcal dos seres humanos tende a consolidar o fato de que a fêmea deve cuidar dos filhotes e o macho se encarrega da proteção e do sustento. Não é um comportamento universal, pois no caso de algumas outras espécies, ambos os progenitores assumem papéis mútuos ou alternam as responsabilidades para com seus filhotes.

De fato, o acoplamento de terceira ordem conceitua uma observação importante que devemos fazer em relação aos indivíduos e seus comportamentos influenciados pelas relações com os demais indivíduos de uma mesma coletividade que estão inseridos num meio e sofrem as perturbações, dificuldades e acessibilidades deste meio.

É oportuno pensar que estes fenômenos naturais e a observação das variáveis e relações inerentes a estes fenômenos contribuem em termos de inspirações para a projeção de mecanismos de interação e comunicação social que ocorre nas sociedades em redes. Como citado em seu artigo, CARNEIRO, Maria Lucia & MARASCHIN (2005), nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) ocorre um Acoplamento Tecnológico, onde sujeito e meio acoplados sofrem mudanças estruturais. A rede de comunicação é vista como um fenômeno autoprodutivo e o conhecimento surge das interações entre os seres vivos.

 

Referências:

MATURNA, Humberto & VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento. Ed. Psy II, 1995.

CARNEIRO, Maria Lucia & MARASCHIN, Cleci. In: BARBOSA, R. M. (org.). Ambientes virtuais de aprendizagem . Porto Alegre: Artmed, 2005.